“Lázarus” de Georgette Silen

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Capa
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Autora: Georgette Silen
Editora: Giz Editorial
Origem: Brasileira
Edição: 2ª
Ano: 2013
Páginas: 528
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Sinopse: Lázarus gira em torno de Laura, uma brasileira que vai trabalhar em Bristol, na Inglaterra. Fechada para o amor desde a morte do marido e com uma filha aborrescente para cuidar, nossa heroína descobre uma segunda chance na figura do irresistível Robert, para desespero do melhor amigo dela, o ciumento e apaixonado David. Enquanto Laura e Robert se envolvem, uma série de mortes misteriosas ocorre na cidade. E muitos segredos vêm à tona. A autora Georgette Silen, porém não se limita a contar uma love story com assassinatos ao fundo. A trama ganha fôlego após a resolução dos casos; entram em cena mais personagens, desafios e, claro, perigos.

Onde comprar? Loja – Giz Editorial.

Análise:

Georgette Silen definitivamente é uma escritora que surpreende seus leitores a cada trabalho publicado. Longe de seguir fórmulas que já foram exploradas até a exaustão na literatura quando o assunto é vampiros, a autora nos surpreende em “Lázarus” com uma história sobre amor sem pieguice, dotada de trechos com grande tensão, mesclando suspense e terror. A meticulosidade na construção dos ambientes e caracterização das personagens ajuda o leitor a realizar a passagem para o mundo da ficção com facilidade, afinal uma obra que não convence, não cativa.

Com foco narrativo de primeira-pessoa que comuta entre várias personagens, o enredo ora expõe alguns momentos por distintos ângulos, ora alimenta o mistério por estarmos lidando com uma visão profundamente subjetiva dos fatos. Além do recurso narrativo anteriormente citado, usado em todo o romance, o livro já começa com uma cena in ultima res (em relação a este volume da saga), o que gera a curiosidade sobre como a situação chegou àquele ponto. Obviamente, essa foi uma jogada ousada da autora, visto que um desenvolvimento precário da trama poderia frustrar expectativas, mas neste caso foi uma ótima decisão, conseguindo efetivamente o que pretendia.

A obra é dividida em três partes (livros) principais: Travessia, Metamorfose e Conversão. A primeira parte é aquela em que o romantismo está mais evidenciado pelo uso de uma linguagem altamente poética nas diversas passagens em que a personagem Laura encontra-se com Robert. Nesse primeiro contato, vamos conhecendo um pouco das personagens que servirão de eixo para a história e sendo confrontados com o fantástico que vai se intensificando gradualmente. Vale a pena, neste ponto, esclarecer como o fantástico se configura no que se refere aos vampiros. Diferentemente do que estamos habituados, no cenário produzido pela escritora, eles são seres explicados biologicamente, o que os desmistifica. Todavia, essa desmistificação abre os caminhos para uma abordagem mais concentrada nas questões de cunho sentimental e intelectual que envolvem as personagens.

A criatividade da autora ao usar velhos arquétipos, mas com uma roupagem nova, é perceptível no texto. Prova de que os clichês não são necessariamente ruins se utilizados com consciência de seus efeitos de sentido na ficção e forem pertinentes para a proposta da história. Uma demonstração que usarei para ilustrar essa originalidade no uso de arquétipos é o caso do “caçador”. Essa é uma personagem que nas produções clássicas do terror é frequentemente concebida como um idoso franzino, mas em compensação amplamente versado em ocultismo, Van Hellsing (literatura) e o ator Peter Cushing (cinema) são demonstrações cabais do que afirmo. Ao invés de almejar o aniquilamento dos vampiros, o Dr. Jarvis Poincello, o que há de mais próximo do arquétipo traçado, os considera uma forma de vida ainda mais fascinante que a nossa e digna de ser objeto de estudo (s). A influência do doutor na trama é ínfima, porém há uma óbvia referência ao filme A Hora do Espanto(1985) em como ele aparece.

Em Metamorfose, adentramos ainda mais no mundo dos hominídeos hematófagos, regido por um acordo secular entre uma Ordem liderada por humanos e todas as espécies de vampiros, e surgem novas personagens secundárias que enriquecem a leitura com subtramas. Com a exploração dos mais diferentes mitos de vampiros nos mundos antigo, clássico e moderno, Georgette Silen demonstra um amplo trabalho de pesquisa realizado até que o livro em questão fosse finalizado. É louvável e fascinante a riqueza na descrição de como os sentidos vampíricos captam a realidade e a transição entre a condição humana e a condição vampírica.

Todo romance para ter um “palpável” caminhar (desenvolvimento) necessita de forças em embate, ou seja, necessita de protagonistas e antagonistas. O antagonista pode se desdobrar em um anti-herói, outro herói ou vilão (o importante é que haja oposição de intenção nas ações). Em “Lázarus”, o grande antagonista é o vilão Avelar, um humano ambicioso capaz de qualquer coisa para conseguir satisfazer os seus pérfidos desejos. O charme desse vilão, assim como o de outros memoráveis, é a sua frieza calculista e incrível oratória dissimulada que denotam uma inteligência aguçada. Seja para o ódio ou para a admiração, o vilão, para ganhar a atenção do leitor, deve ser obrigatoriamente trabalhado com tanto ou mais afinco que o herói. Avelar indubitavelmente irá acumular tanto admiradores quanto opositores.

Conversão é o ápice da trama. Um ponto de virada drástico, mas ainda assim administrado com lucidez no enredo, nos arranca da zona de conforto e faz com que as próximas páginas sejam percorridas com voracidade. Se antes o problema eram os planos secretos de Avelar, a situação fica ainda mais complicada quando uma personagem acaba trazendo à tona, aparentemente por acaso, algo parcamente conhecido até entre os vampiros mais velhos. Contar o que seria estragaria totalmente o deleite de vocês, caros leitores.

O Livro I da saga vampiresca escrita por Georgette Silen é apenas o umbral para uma aventura cujas emoções mais intensas são deixadas para os volumes subsequentes, portanto não estranhem as lacunas deixadas.  Com passado, presente e futuro comportando-se como as peças de um quebra-cabeça embaralhadas, o desfecho é a cereja do bolo.

A revisão e a diagramação ficaram ótimas. A Giz Editorial fez um trabalho de primeira e merece o devido reconhecimento. A capa está primorosa. Pela imagem digital dela não é possível perceber, contudo as rosas acima do título do livro são feitas de um material que as deixa em destaque. Enfim, indico o livro para todos aqueles que apreciam literatura fantástica com um tom mais adulto. Minha nota é cinco selos cabulosos!

Nota:

Cinco selos cabulosos
Cinco selos cabulosos

Degustação: