Era o evento mais importante do Conselho e resultado de todo nosso trabalho de anos em negociação e batalhas físicas e verbais. Eu, Ralf, humano, 19 anos, estava orgulhoso deste dia… mas ao mesmo tempo sentia um frio na barriga.
Na primeira fileira, estava a comitiva humana. Haha, e eu estava lá no meio desses caras: bons homens e mulheres, com certeza.
Na segunda fileira estavam uma meia dúzia de Thanarey. Espera, eu esqueci que este relato é destinado a humanos sem contato com nosso mundo.
Thanarey são uma raça humanoide, ou seja, tem duas pernas, dois braços, fica em pé, e etc. Acredito que uma forma aproximada de contar como eles são é a seguinte: imagine uma mulher bem alta (2,30m em média) e magra. Bem, não há diferença de sexos entre eles, e não me pergunte o porque, me limitei a apenas saber que todos pareciam mulheres altas e magras.
Atrás dos Thanarey haviam outras raças humanoides: Pseudo-humanos, Arnadures, Iorems, e etc. Todos parecem humanos comuns, mas tem suas peculiaridades.
Mas o que provocava a ansiedade em mim era a chegada da mais nova raça no Conselho: os “Não”.
Os Não e todas essas raças humanoides sempre foram inimigos mortais. Até um ano atrás, era comum ouvir de humanos, thanareys, pseudo-humanos, arnadures e iorems palavras de ódio aos estranhos e monstruosos “nãos”.
Geralmente os Nãos possuem formas variadas: alguns possuem asas, outros rabo, outros um terceiro ou quarto olho, alguns braços a mais. E principalmente vestimentas de couro que remetem a animais diversos.
A chegada deles no pavilhão foi incisivamente… err, ameaçadora. Usavam máscaras e marchavam como se fossem um exército de 12 Nãos.
Algum idiota (sempre tem algum idiota) ergueu os punhos e gritou “Os Nãos querem o Conselho para si! Olhem para eles” e então veio o caos:
Metade das pessoas nas fileiras saiu correndo, e outra metade ergueu os punhos para enfrentar fisicamente os novatos… eu era um dos poucos que tentava manter a formação e todos acalmados. Quase falhei. Se a bela Lilith não tivesse gritado aos seus semelhantes Nãos, teria sido um massacre.
Não entendi bem o porquê, mas os enormes Nãos pareceram bem ofendidos. Saíram do pavilhão com quase a mesma velocidade que entraram. Somente Lilith ficou, bem na minha frente, encarando a todos com um tímido sorriso.
Lilith tinha uma pele de cor escura e olhos âmbar-castanho. Um sorriso muito branco se formava nela com frequência.
A conheci faz pouco tempo, mas…bem, acho que deu pra sacar que tenho uma queda por ela.
De qualquer forma, ela eloquentemente disse a todos:
“Nos perdoe. Nossos costumes são um pouco diferentes. Espero que tenham uma excelente reunião, nos vemos na próxima” e ficou bem perto de mim “Tchau tchau Ralf!”
Por dentro eu estremeci, mas por fora eu só acenei. Ela saiu e seguiu seus semelhantes.
Nem tão semelhantes, tenho a forte suspeita de que ela é meio-humana…
…
Escrevo essa mensagem para vocês humanos como eu. Sei que estão por ai, sei que não somos a única civilização viva pelo espaço depois do Cataclisma…
A nossa civilização não tem nem duas gerações. Somos crianças!
Eu tenho todo esse material histórico sobre a antiga Terra, aquela mesmo, a da Via Láctea. E mesmo assim… gostaria tanto de achar um de vocês.
Tanta responsabilidade! Vocês já lidaram com tantas guerras, tantos conflitos… devem saber como lidar com o que lidamos aqui.
Para a humanidade perdida, Ralf D’ Adurna
by Isaac A. Moreira