
Saudações, caros leitores! Hoje, inicio uma nova coluna em que abordarei assuntos referentes a recursos usados na literatura para a criação de histórias que tanto nos fascinam. Friso que, devido ao blog tentar manter um estilo descontraído, a linguagem não será muito técnica e em alguns momentos talvez faça uso do humor. Então, vamos adiante?
Para começar essa nova virada no blog, falarei sobre Ponto de Virada! Depois da piada sem graça, vamos ao assunto de verdade. Aristóteles, em seu livro “Poética” (São Paulo: Edipro, 2011, Pág. 57), disse:
“A peripécia é uma mudança para a direção contrária dos eventos […] em conformidade com a probabilidade ou com a necessidade […]”
Como alguns teóricos da literatura poderão falar, o filósofo grego foi importantíssimo para construir as bases do que hoje chamamos Teoria da Literatura. Na obra mencionada anteriormente, somos conduzidos através de uma reflexão do que vem a ser Literatura (chamada de Poesia na Grécia Antiga) e como os seus distintos gêneros, conhecidos naquele momento histórico, (epopeia, tragédia, comédia e ditirambo) se estruturam.
Retornando ao assunto principal, digo que a menção de Aristóteles foi feita para que vejamos como um conceito tão popular atualmente foi delineado há muitos séculos, mas ainda assim sempre gera novos e ardentes debates. Todavia, não nos preocupemos em ir a fundo na ideia no post em si, visto que os comentários (assim espero) cumprirão esta função.
Como inserir um ponto de virada na história? Obviamente, esta é uma das dúvidas que mais tiram a tranquilidade de alguns escritores, talvez todos. Como saber se a súbita mudança de direção na trama não irá gerar inconvenientes posteriormente? Imaginem como seria optar por uma ação específica do seu personagem e depois de dezenas de páginas descobrir que a sua decisão lhe deixou perdido em um labirinto.
Quem costuma escrever com frequência, já deve estar familiarizado com a sensação angustiante. Uma possibilidade de resolução é: faça um roteiro dos principais eventos de sua história, nesse processo já podem surgir alguns pontos de virada. Como é natural, quanto maior o seu texto, maior a necessidade de um planejamento antes de começar a escrever.
Como Syd Field fala em “Manual do Roteiro” (Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001, Pág. 101. 14ª edição):
“Quando está no paradigma, você não pode ver o paradigma. Eis porque o ponto de virada é tão importante. O PONTO DE VIRADA (plot point) é um incidente, ou evento, que ‘engancha’ na ação e a reverte noutra direção.”
Como paradigma, entenda-se a trama em sua versão finalizada ou pelo menos idealizada. Enfim, adotando-se esta perspectiva do Syd, vemos o quanto o trabalho do escritor exige tanta meticulosidade quanto o de um engenheiro civil. Sem isso, as chances de seu texto não se sustentar são enormes, talvez sequer veja a luz do sol.
Tendo em vista o que já foi dito até aqui, acredito que esteja mais do que provado o quanto montar uma linha do tempo de sua obra é imprescindível para um ponto de virada com sucesso. Podem aparecer exceções acerca disto, mas aqui estamos pensando em meios para deixar a escrita mais fluída ao pegarmos os nossos instrumentos mágicos (lápis e papel).
As histórias costumam apresentar pelo menos dois pontos de virada, vejam a imagem abaixo (retirada do “Manual do Roteiro”):

Observação: O Syd, no livro em questão, trabalha com a ideia de um roteiro de 120 páginas.
Ao longo do desenvolvimento é preciso que nos lembremos de que os pontos de virada tem como função impulsionar a história para o desfecho que almejamos e o último tem um peso titânico. Quantas vezes um desfecho muito ruim estragou um romance? Fica o aviso, pensem muito antes de sair brincando com uma “bússola”.
A trama, portanto, fica dividida em diversos blocos cujas fronteiras são as alterações de fortuna. Inclusive, um exercício fantástico para aprimorarmos a nossa percepção daquilo que lemos é tentar identificar os pontos em que o fio de ação sofre uma mudança de rumo e ir criando mentalmente as seções da narrativa.
Espero ter dado alguma luz sobre o assunto. Digam o que acharam, deem dicas de livros sobre o tema (caso conheçam algum) e indiquem o post para amigos que também se interessem em debater literatura.
Um exemplo prático e famosíssimo de Ponto de Virada:
Observação: A cena de Matrix acima seria a virada do Ato I (apresentação) para o Ato II (confrontação).
Livros mencionados:
- Aristóteles – Poética (Livraria Cultura, Submarino)
- Manual do Roteiro – Syd Field (Livraria Cultura, Submarino)

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