Ao som de uma explosão tão alto que poderia ser a própria criação do universo, ela voou.
Ao seu redor foi como se o tempo houvesse parado. Tudo o que antes se movia jazia estático, congelado pela perspectiva de um espetacular voo que humano nenhum jamais conseguira realizar sem se submeter as mais bizarras mutações. Só ela, em sua majestosa forma, tão comum e tão genialmente concebida, era capaz de tal feito.
Ao olhar para frente, porém, reconheceu a face cheia de horror à qual estava destinada. Reconheceu também o seu real propósito, e quis chorar. Aquele breve momento de esplendor e liberdade cobraria seu preço com sangue.
Ao som de uma explosão tão fraco que por ninguém foi ouvido, ela parou. Toda a sua energia se dissipou no córtex que passou a envolvê-la. Após poucos segundos, esse novo mundo foi ao chão.
Ela, morta e fria, não mais voaria.
Guilherme Matos