RASCUNHO: Críticas

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No último evento que participei, alguém fez uma pergunta sobre como os escritores reagem a críticas negativas feitas ao seu trabalho. É uma pergunta igualmente importante e interessante.

Então, vamos aproveitar pra discutir isso, essa semana.

 

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Antes de mais nada, eu não gosto das designação “crítica negativa” e “crítica positiva”. Acho que o que existe são críticas construtivas e críticas ofensivas.

O leitor não gostar da sua obra é um direito dele. As pessoas tem opiniões diferentes e, enquanto autores, nós temos que ouvir todos os diferentes feedbacks e usá-los para melhorar nosso trabalho. É a crítica construtiva. Muito gente gostou do meu livro: elogios servem para alimentar o ego e te dar aquele impulso para continuar escrevendo. Isso é imprescindível. Mas a gente tem que focar nos comentários negativos que foram feitos também. Entender o que o leitor não gostou, analisar se é uma questão de estilo que você pretende manter ou se foi uma falha que você não pretende repetir.

Dou mais um exemplo baseado no meu trabalho: algumas pessoas não gostaram do começo do meu livro, acharam confuso ou parado. Mencionaram que depois de um tempo a história “engrena” mas que o começo é lento. Desde o dia que ouvi/li esses comentários, mantenho isso em mente sempre que estou escrevendo. É uma crítica construtiva. Não é “negativa”, sabe?

Mas… existem as pessoas que agridem o escritor. Essas são as críticas ofensivas e são as mais difíceis de lidar. Claro que cada autor é um ser humano diferente e vai agir de um modo diferente. Mas eu, geralmente, aconselho uma das três ações:

1 – A melhor resposta é aquela que não se dá.

Ficar em silêncio. Não ir atrás discutir. Deixa pra lá. Isso exige uma paciência infinita e uma força de vontade espetacular, porque você fica se roendo pra questionar ponto por ponto de todas as ofensas que foram feitas. Tem vontade de gritar e chamar o cara de grosso. Mas você tem que ter cuidado. Então, as vezes, não falar nada é o melhor discurso.

2 – Tapa de luva de pelica.

Responder com um simples: “Poxa, que pena que você não gostou. Discordo de algumas coisas que você disse, concordo com outras. Acho que você não precisava ter sido tão absoluto em suas opiniões, as pessoas são diferentes e algumas (ou muitas) realmente gostaram do meu trabalho. De qualquer modo, obrigada pelo tempo e pelo feedback”. Sai por cima. Não entra na lama junto com o grosso.

3 – Lavar a alma

Fala o que você quer. Mas fala no privado. Fala por pessoalmente, por email, por mensagem privada. Não vai responder publicamente e fazer barraco. Fala o que você acha. Mas fala com educação e calma. É bom não responder na hora, porque você ainda tá com sangue quente. Espera o sangue esfriar e responde.

 

O que NÃO fazer.

Cara… NÃO PEGUE BRIGA. Barraco não serve de nada. E não to falando isso só por um motivo “moral”, não. To falando na prática. Tem gente que diz “ah… ele falou mal do meu livro, foi super grosso, rude, agressivo, e o blog dele tem 20 mil seguidores. É propaganda negativa, ele podia ter sido mais razoável”. É… podia… mas não foi. E agora o estrago tá feito e você vai fazer o quê? Piorar?

Duas coisas são fato:

1 – Só porque as pessoas seguem um blog, não significa que elas leem toda e qualquer postagem. Em um blog com 20 mil seguidores, fala sério… se dois mil leram a resenha do seu livro, já é muita, muita, muita gente. Mas eu te GARANTO, que se você pegar briga, os 20 mil vão ler. Ah, mas não tenha dúvida. O blogueiro inescrupuloso vai se fazer de ofendido e dizer que achava que liberdade de expressão era garantida nesse país, e aí ele vai compartilhar na fanpage do blog, no twitter, no carro de som da cidade e por sinal de fumaça. E em pouco tempo, uma resenha “negativa” que poderia até passar despercebida, vai estar em evidência. A maior parte das pessoas curte ler um barraco… E você só vai se queimar.

2 – Se você comenta na resenha fazendo briga com o blogueiro… as pessoas que acompanham o blog vão, na grande maioria, se armar com pau e pedra pra defender o blogueiro. É o cara que elas seguem, é o cara que elas acompanham há algum tempo… e você é “o desconhecido”. Você vai se esgotar tendo que responder as 20 mil pessoas, enquanto o mal-educado vai ter um pequeno exército a sua disposição. É uma situação que não há vitória, não pra você.

Lembrando!!! Estou falando no caso de uma crítica claramente ofensiva. Se o cara foi razoável, só não gostou do seu livro, ele tá no direito dele. E se você foi reclamar, provavelmente é você quem deve mudar seu comportamento, e não ele.

E por último: sejam razoáveis, escritores. Entendam que apesar de você amar o seu livro como um filho, as pessoas não são obrigadas a gostar dele. Não assuma a postura do “se você não gostou é porque você não entendeu o que eu escrevi”. Não… você não é um escritor perfeito e impecável. E mesmo que fosse… Saramago, Martin, Tolkien, Gaiman, Machado de Assis… todo esse pessoal tem seus nomes gravados na história e mesmo eles não agradaram todo mundo. Você acha que você é quem vai agradar?

 

Então, é isso.

Beijos e comportem-se hauhauah =)