Autoras: Karen Alvares e Melissa de Sá
Editora: Indepente
Origem: Brasileira
Ano: 2012
Edição: 1ª
Páginas: 64
Skoob
Sinopse: Um casal numa jornada sombria, um jovem isolado com os sobrinhos em um sítio macabro no interior de Minas, operários numa obra suspeita e uma mulher amaldiçoada. São esses os personagens que você vai encontrar em Noites Negras de Natal e outras histórias.Nessa coleção de quatro contos, as escritoras Karen Alvares e Melissa de Sá se lançam em histórias sobre o que tem no escuro da noite e atrás da porta. Quatro contos de terror, dos quais dois são especiais natalinos.
Do que você tem medo no Natal?
Análise:
Saudações, caros leitores! Este livro (e-book) chegou às minhas mãos (PC) pela Karen Alvares. Como alguns amigos mais próximos sabem, não gosto de ler livros no computador, pois me movimento muito durante a leitura, sou inquieto até para dormir, mas resolvi realizar essa investida por três motivos: 1 – Já li alguns contos da autora – no projeto “Um Ano de Medo” – e nenhum me decepcionou; 2 – É uma obra curta, dividida em quatro partes, logo seria uma leitura não cansativa; 3 – É uma ótima oportunidade para conhecer outra escritora (Melissa de Sá). Tendo em vista, estes pontos, comecei a leitura…o que achei? Acompanhem-me.
O Último Panetone de Natal – Karen Alvares
O conto acompanha a viagem de um casal (Pablo e Rafaela) até um local de grande importância na vida de um deles (sem detalhes para alimentar a curiosidade), visando superar o trauma pelo “confronto” com a morte. A viagem torna-se cansativa, por causa da distância que é percorrida e das frequentes brigas. Esse atrito entre ambos, que também deixa evidente uma desestruturação na relação, estabelece uma atmosfera de desunião que obviamente contribui para o terror psicológico. Como alguns talvez já imaginem, essa tentativa de superar o horror da morte, acaba os conduzindo para um contexto terrivelmente pior. Não há espaço para a esperança nessa história, os arrepios só são interrompidos por uma leve dose de humor negro e um erotismo breve. O desfecho faz você passar a pensar duas vezes antes de comer Panetone ou desejar uma visita do bom velhinho, só posso dizer isto!
Lembranças Vermelhas – Melissa de Sá
Essa é uma visão sobre a noite de Natal que segue a mesma linha do conto anterior, ou seja, uma trama em que o Peru provavelmente sequer será posto na mesa, visto que é enorme a possibilidade de algo lhe consumir antes. Isolamento por si só já é um terreno fértil para o terror, pois faz as emoções ficarem mais evidentes, uma vez que não temos a nosso dispor uma gama muito grande de locais para onde fugir ou coisas que nos distraiam.
Em meio a uma tempestade, Julian deve ficar na casa de fazenda que pertenceu ao seu falecido pai com os seus dois sobrinhos pequenos, Nicholas e Maureen. O fato das crianças serem estrangeiras, frutos de um casamento anterior da atual mulher do irmão de Julian, causa um pouco de estranhamento nele e essa sensação de que há algo sinistramente desajustado acontecendo na casa vai se intensificando quando pequenos eventos fazem com que Julian relembre de sua infância e com isso também o medo vai se tornando cada vez mais autêntico, palpável. Um sentimento que apenas uma criança consegue viver com tamanha pungência. O final é deliciosamente de humor negro!
Setor B12 – Karen Alvares
O personagem central, neste conto narrado em terceira pessoa, é Beto, um homem simples, casado e com uma filha pequena. Depois de ficar meses desempregado, começa a trabalhar arduamente na construção de um prédio que está com o prazo de entrega apertado. Pouco antes de ser admitido como pedreiro na obra, ainda na fila de espera para ser entrevistado, uma figura que passa a ser chamada de “O Velho” posteriormente comenta sobre coisas estranhas que rondam aquele terreno. Todo fã de terror é uma pessoa dotada de grande curiosidade, como posso afirmar isto? Ora bolas, o que mais faria uma pessoa continuar a ler mesmo quando sente um enorme medo? Pois esse é o tipo de emoção que muitas histórias do gênero nos causam. Tendo em vista esse traço de personalidade, como não ficar com uma pulga atrás da orelha com um início assim? Então, impossível.
Com o passar dos dias, como podemos deduzir, anormais eventos ocorrem, sempre cada vez mais aterrorizantes até uma conclusão apavorante. Quero deixar claro que o final é absolutamente diferente do que imaginava, todavia foi uma surpresa muito positiva. Será que você vai conseguir ver prédios em construção da mesma forma depois dessa aventura arrepiante? Leia e depois me diga.
A Morte do Cisne – Melissa de Sá
Algumas histórias, chamadas de contos de fadas, possuem origens no mínimo macabras, muito diferente das versões popularizadas, principalmente, pela Disney. Príncipes, amigos destemidos que ajudam a mocinha em suas jornadas e madrastas malvadas que colocam as donzelas para dormir, isoladas em torres etc; esqueça tudo isto! Há uma dose de romance nesse conto? Sim. Há um vilão inescrupuloso que deseja ardentemente devorar a inocência de uma bela dama? Sim. A protagonista idealiza uma vida? Sim. Contudo, a Melissa fecha o livro com chave de ouro ao nos presentear com uma narração profundamente lírica acerca da natureza do sonho, força que nos faz enxergar uma possibilidade maior para nós mesmos, e como os seres mortais encaram a sua condição de finitude. Poético. Quem disse que o terror não pode ser sensível como uma poesia de Vinícius de Moraes ou Carlos Drummond de Andrade, ainda não leu algo como isto. A sensação que me dominou foi como aquela que experimentamos ao saber que vamos chorar, pois algo nos sensibilizou demasiadamente.
O que posso dizer para concluir a minha análise? As autoras demonstraram um trabalho em conjunto de primeira qualidade, há alguns erros de revisão, mas em número mínimo, o que demonstra zelo pelo produto final. Dá vontade de ler mais alguns contos delas, mas quem sabe poderei matar essa vontade futuramente? Dou cinco selos cabulosos.
Nota:
Entrevista:
Olá, Karen e Melissa, como vocês estão? Antes de qualquer coisa, digo: muito obrigado por dedicarem alguns minutos a essa entrevista. Sem lhes roubar mais tempos, vamos para a conversa mesmo?
1 – Como surgiu a ideia para este e-book?
K.A.: A ideia foi da Mel, mais ou menos no meio do ano passado. O livro na verdade era um projeto maior – que ainda não abandonamos – de um site com contos de terror com um quê de interatividade. Nós começamos o projeto, porém, devido a alguns problemas pessoais, eu me afastei um pouco e decidimos adiá-lo. Perto do Natal a Mel voltou com a ideia e ficamos super animadas porque a Amazon e o Kobo estavam chegando ao Brasil, trazendo consigo a oportunidade de autopublicação. Separamos dois contos da nossa gaveta e propomos em nossos blogs desafios de contos de terror com o tema Natal. Saíram, então, os dois primeiros contos, fiz a capa, a Mel diagramou e publicamos o livro próximo ao Natal. O processo de escrita de Noites Negras está registrado nos nossos blogs (www.papelepalavras.wordpress.com e www.mundomel.com.br) .
M.S.: Foi tudo muito, mas muito rápido. Nós já tínhamos a idéia de fazer um projeto juntas, um livro de contos, mas acabou que não deu no tempo que queríamos. Aí veio o Natal e eu pensei “Poxa, Natal dá uma coisa bacana” e quando eu vi, eu e Karen já estávamos combinando quando entregar os contos.
2 – Quais os motivos que fizeram cada uma de vocês começarem a escrever?
K.A.: Sempre gostei muito de escrever, desde pequena, quando fazia redações na escola; as minhas preferidas eram as de histórias, sempre achei um horror as dissertativas. Quando já era adolescente, comecei a ler Harry Potter e conheci o fandom e, é claro, as fanfics. Li várias e senti a necessidade de escrever as minhas; os livros estavam demorando para sair e todo mundo tinha ideias de como eles terminavam. Escrevi várias fanfics, todas ainda estão hospedadas no famoso Fanfiction.net (http://www.fanfiction.net/~karen13). Gostei muito disso, principalmente do retorno dos leitores; as fanfics são boas escolas, dão várias noções de como construir um enredo, coerência, manter as características dos personagens – afinal você está trabalhando com os personagens de outro autor e até mesmo construindo seus próprios, além de tantas outras coisas. Foi a partir daí que tive vontade de criar minhas histórias, com meus personagens, mas só passei a levar a carreira realmente a sério há mais ou menos um ano e meio.
M.S.: Sempre gostei de ouvir e ler histórias, desde bem pequena. Acho que é esse amor que tenho por histórias que me fez querer escrever algumas delas. Escrevo desde sempre; inclusive tenho um caderno com capa da Miney cheio de coisas que escrevi aos sete anos de idade. Uma relíquia!
3 – Vocês têm outros projetos juntas?
K.A.: Recentemente escrevemos juntas uma ficção científica que enviamos para uma submissão. É um projeto muito mais audacioso que o Noites Negras; trata-se de uma história completa, muito maior que um conto, e foi preciso fazer uma revisão minuciosa no final porque ultrapassamos e muito o limite de caracteres estabelecido. Eu e a Mel tínhamos duas ideias distintas e resolvemos juntá-las e resultou nessa história. Deu um trabalho enorme, mas ficamos felizes com o resultado. Trabalhar com a Mel é sempre uma ótima experiência.
M.S.: Temos a idéia para um projeto maior, de Halloween, e recentemente escrevemos uma noveleta juntas, de ficção científica. Foi um trabalho a quatro mãos mesmo e o resultado foi incrível. Enviamos para uma seleção e agora é esperar.
4 – Como nasceu essa amizade? Os livros foram a ponte?
K.A.: A ponte foi mesmo Harry Potter! Só que faz tanto tempo que eu e a Mel nos conhecemos que nem lembro mais se a gente começou a se falar em fóruns ou se foi por lermos as fanfics uma da outra… Acho que foram as duas coisas.Você lembra, Mel? Nossa, faz tanto tempo. Agora, pessoalmente, nós nos conhecemos apenas ano passado e foi em uma ocasião muito especial: foi no evento Livros em Pauta, da Editora Andross, no qual tanto eu quanto a Mel lançamentos contos em antologias. Foi nossa primeira publicação e a primeira vez que nos abraçamos. 🙂
M.S.: Eu e Karen nos conhecemos de muito tempo, dos idos áureos do fandom de Harry Potter. Isso faz o quê, uns oito anos? Geeeeeeeente, como o tempo passa. Sempre fui fã do trabalho dela como autora de fanfics e sei que ela leu algumas das minhas fics também. No entanto, só ficamos mais próximas quando descobrimos que tínhamos a mesma vontade de nos dedicar mais à nossa escrita criativa.
No final de 2011, nós fizemos um pacto/desafio de terminar um livro que tínhamos na gaveta em 4 semanas. Foi uma loucura, mas nossos dois livros saíram. Foi aí que descobrimos que podíamos sim nos profissionalizar na escrita, mesmo com a rotina louca, e decidimos que não íamos parar mais (A experiência ficou para sempre registrado nos nossos blogs, www.mundomel.com.br e www.papelepalavras.wordpress.com). Desde então, sempre trocamos nossos textos, revisamos coisas uma da outra, damos palpite e nos ajudamos.
Ano passado, pude conhecer a Karen pessoalmente no nosso primeiro lançamento de antologia, pela editora Andross. Foi um dia inesquecível! Então sim, os livros foram a ponte.
5 – Vocês podem falar um pouco sobre os seus trabalhos solos?
K.A.: Bem, eu tenho um livro chamado Alameda dos Pesadelos e estou em negociação com uma editora, mas não posso falar qual nem mais nada sobre o assunto! É difícil porque dá muita vontade de abrir o bocão, mas… bem, fechei minha boca com zíper! O que posso dizer é que é um livro de terror que tem como temas: a culpa e o recomeço. E a Mel já leu! É que sempre que temos projetos, uma lê o projeto da outra e revisa (e também uma amiga nossa revisa pra gente). Então eu também li o projeto dela! 🙂 Além de Alameda dos Pesadelos, já publiquei também em três antologias da Andross e recentemente na coletânea comemorativa da Draco, Dragões, com o conto “A Dama das Ameixas”, que também pode ser adquirido solo em versão digital ou comprando o livro completo. Estou no momento também trabalhando em um drama, bem diferente do que costumo escrever, e produzindo contos e crônicas para várias submissões e concursos que participo. Ano passado ganhei um prêmio muito especial: o Prêmio SESC/DF Rubem Braga de Crônicas e vai sair uma antologia das vencedoras esse ano ainda. Ah, e é claro, participo do projeto Um Ano de Medo, com um time incrível de escritores (Ed, Franz, Tati, Rainier, Edilton e Emanuel) e convidados, postando contos inéditos de terror todos os dias do ano; meus dias são as sextas-feiras.
M.S.: Tenho um livro pronto chamado “Metrópole”, uma distopia. Mandei para várias editoras e estou trabalhando para publicá-lo. Esse é o livro-resultado do primeiro desafio que fiz com a Karen e, inclusive, ela me ajudou a revisá-lo junto com uma outra amiga. “Metrópole” é meu xodó porque além de ser uma distopia pós-apocalíptica (adoro catástrofe em literatura rs), foi uma oportunidade que tive de escrever uma história em forma de quebra-cabeças.
Tenho um conto publicado pela Andross chamado “Uma Canção para o Fim” na antologia Dias Contados Vol.3 (não disse que adoro catástrofe?). Nesse ano vai sair também um conto meu, “O Fio da Espada”, numa antologia da Draco chamada “Excalibur” com ambientação nas lendas do rei Arthur.
Aguardando seleções ou mesmo na gaveta, tenho vários contos de fantasia e até mesmo um livro para adolescentes.
6 – Quais as suas influências literárias principais?
K.A.: Stephen King, claro, é o primeiríssimo da lista. Depois J. K. Rowling, afinal, foi por causa dos livros dela que comecei a escrever a sério. O que mais? Jeff Lindsay, Agatha Christie… Mario Prata me influencia quando escrevo crônicas. Ah, e Stephen King de novo!
M.S.: Acho que J.K. Rowling é a primeira, não posso mentir. Comecei escrevendo fanfics de Harry Potter. Foi onde aprendi grande parte do que sei hoje sobre como montar histórias. É difícil falar de influências (a gente meio que é influenciado por muito do que lê), mas no meu texto hoje, acho existe uma grande marca do Stephen King e da Margaret Atwood. Dois escritores que admiro muito.
7 – Depois de publicar uma obra de forma independente, como avaliam a experiência?
K.A.: Acho que é um meio válido para um escritor divulgar seu trabalho ou, ao menos parte dele. É claro que não esperava muita coisa, afinal, somos iniciantes – e por isso estabelecemos um preço quase simbólico para o livro – mas até o momento fiquei bastante feliz com a repercussão que teve. Sempre vou checar qual a posição na lista de vendidos e fico muito feliz quando vejo que o livro galgou posições; fico mais contente ainda quando algum leitor diz o que achou das nossas histórias. É um caminho longo até que nossos textos sejam conhecidos e é desse jeito para todo mundo, mas estamos nos esforçando para isso acontecer.
M.S.: Eu gostei muito. Me fez ser muito mais consciente do processo de divulgação de uma obra e me fez mais engajada nessa nova onda dos ebooks no Brasil. Fiquei muito feliz com o resultado que conseguimos atingir e foi ótimo ver a reação positiva dos leitores. Publicação independente é trabalho pesado e pouco retorno financeiro, mas o retorno de experiência e de feedback com os leitores é fantástico.
8 – Qual o último livro que vocês leram e o que acharam?
K.A.: O melhor dos últimos livros que li foi Marina, de Carlos Ruiz Zafón (Zafón é perfeito! Estou perdidamente apaixonada por esse autor!); li também Depois dos Quinze, de Bruna Vieira, uma seleção muito sensível de crônicas da autora; e por último li recentemente Zona Morta, do King, que foi ótimo, mas não é meu preferido.
M.S.: O último livro que li foi “Girl Gone” (Garota Exemplar, em português), da Gillian Flynn e achei fantástico. A história é dinâmica, bem planejada e os personagens são incríveis. Pra mim, Amy e Nick poderiam ser meus vizinhos de tão reais. Daqueles livros que te deixam pensando dias e dias depois de ter terminado de ler. Recomendo muito.
9 – O espaço final é para vocês falarem o que quiserem…é sério…
K.A.: Hum… pessoalmente eu sou de poucas palavras, mas quando escrevo falo demais, acho que deu para notar. Bem, acho que só quero agradecer ao Ed por ler nosso livro e pelo enorme carinho conosco e ao blog Leitor Cabuloso pelo espaço aqui. Agradecer a Mel por ser a melhor companheira de escrita do mundo e também aos leitores do blog por lerem o post até aqui! Se curtirem terror, experimentem ler Noites Negras de Natal e outras histórias! 🙂 E se não curtirem… peraí, gente, como assim vocês não gostam de terror?!
Bem, se vocês não gostam de terror não tem problema também. Eu escrevo outras coisas e, como disse a Mel, o importante é escrever sobre pessoas. É disso que se trata escrever. Se quiserem saber mais sobre meu trabalho, visitem meu blog (www.papelepalavras.wordpress.com) e meus projetos. 🙂
M.S.: Então, eu queria agradecer, Ed, por esse espaço aqui. Infelizmente muita gente ainda pensa que literatura nacional é Machado de Assis ou livros de baixa qualidade. Existem poucos incentivos para o escritor brasileiro, mas felizmente essa realidade tem começado a mudar e muito disso vem de ações de blogs literários como o seu. Cada vez mais temos ganhado espaço e mais leitores demonstram interesse em ler livros nacionais feitos por escritores que se levam a sério.
Eu escrevo fantasia, ficção científica, distopia, terror, mas escrevo essencialmente sobre pessoas e seus dilemas. Pra mim, literatura é isso: usar mundos imaginários para falar do cotidiano, das coisas essenciais do ser humano. Quem também gosta, pode me acompanhar no meu blog pessoal, www.mundomel.com.br, no meu blog literário www.livrosdefantasia.com.br ou no Facebook (Melissa de Sá). Será um prazer ter vocês por lá. J
Abraços, desejo muito sucesso para as duas e contem sempre com o Leitor Cabuloso!
Karen Alvares:
Melissa de Sá: