RESENHA DO FÃ – Com Douglas M. Pereira do “Amplexos Fraternos”

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Saudações, caros leitores! Dando continuidade ao “festejo” dedicado à Tolkien, lhes trago a resenha feita por um fã do autor. O livro? “O Hobbit”. Vamos nos familiarizar com o Douglas primeiro?

Bio: Nascido em Porto Alegre, em junho de 1982. Migrou em 2001 para Curitiba, onde teve contato com poetas conhecidos do meio literário paranaense. Desde 2005 vive em São Paulo. Ainda criança já escrevia contos, poesias, músicas e histórias em quadrinhos.

Dedicou-se profissionalmente à informática, mantendo a literatura, até então, como uma identidade secreta. Em 2009, conheceu a revisora, editora e crítica de cinema Cristine Tellier que o direcionou ao meio literário de forma contundente.

Mantém o blog Amplexos Fraternos e Cafeína Literária, em que publica alguns de seus trabalhos, além de opiniões sobre livros e filmes.

Menção Honrosa no 23º Concurso de Contos Paulo Leminski (2012).

O Hobbit
O Hobbit

Tolkien praticamente criou um movimento artistico como Renascimento, Romantismo ou Naturalismo. Postula lugar ao lado dos grandes deuses da escrita. Deu fundamentos para boa parte do que se conhece hoje como mitologia européia. Era um grande estudioso de linguística e de literatura. Suas obras refletem sua genialidade. E o livro O Hobbit é um condensado de seu brilhantismo.

Como toda obra de renome, é circundada de lendas em relação à sua origem. Diz-se que a ideia surgiu de forma fortuita, quando encontrou uma folha em branco e escreveu despretensiosamente: “Em um buraco no chão vivia um hobbit.”. Particularmente, não acredito nisso, mas a existência destas estórias confirma que se trata de um clássico.

A obra conta a história de um pequeno ser mitológico, equiparado a um duende (me perdoem os fãs pela comparação esdrúxula) que é convocado para uma aventura. Junta-se então a uma trupe com treze anões (apesar da nomenclatura “anões”, são também um povo mitológico) e ao mago Gandalf para recuperar o tesouro dos anões, roubado pelo dragão Smaug. Até galgar seu objetivo, a trupe enfrentará uma série de ameaças através do mundo fantástico criado por Tolkien.

Apesar de o livro permear o mesmo ambiente de outra obra do autor, – a mais famosa – O Senhor dos Anéis, entendo que seja completa por si só e não apenas um prelúdio como comumente dito. Sua história e estilo são independentes. Mesmo o tom utilizado é bem específico. Trata-se de uma obra infantil que faz uso dos recursos linguísticos direcionados para o estilo, haja vista as vezes em que o narrador conversa com o leitor inocentemente.

Outro fato surpreendente sobre O Hobbit, é que se trata de um livro infantil escrito por um ex-militar que presenciou os horrores da Primeira Guerra Mundial – o que remete a outro clássico que surgiu em circunstâncias semelhantes: O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Isso me sugere que os traumas terríveis gerados pela guerra trazem em anexo um vagalhão de nostalgia à infância. Tempo de paz verdadeira, arriscaria-me a dizer.

Tolkien – provavelmente de maneira apenas intuitiva – escrevia estritamente dentro da forma da Jornada do Herói“, pesquisada e defendida por Joseph Campbell. O que mostra que, mesmo seguindo formatos comuns de estrutura narrativas, em nada é obscurecida a genialidade, a atemporalidade e a criatividade de um grande autor.

Apesar da temática de realidade fantástica, a narrativa aborda o tema com sutileza, sem distorcer o mundo real à beira do ridículo e, mesmo assim, conseguindo manter o teor surrealista. Algo bem difícil de fazer. Quem leu, a despeito das adaptações cinematográficas, deve ter percebido que o mago Gandalf não faz uso de grandes poderes mágicos. A magia é mais sugerida do que demonstrada.

Embora crítica de cinema não seja minha área, não poderiam faltar algumas palavras sobre a adaptação recém-lançada: Não desgostei, mas acredito que distorceu muito a história original. O acréscimo de personagens e sub-histórias ofuscou a simplicidade e a beleza da obra. Fiquei surpreso, visto que o diretor havia sido tão assertivo ao adaptar O Senhor dos Anéis.