RESENHA + ENTREVISTA: “O SEGREDO DE ESPLENDORA – LIVRO 2: ASCENSÃO” DA TATIANA MARETO

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Capa
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Autora: Tatiana Mareto
Editora: Bookess (Independente)
Origem: Brasileira
Ano: 2011
Edição: 1
Número de páginas: 416
Skoob
Sinopse: Sozinha no mundo inferior, Heather precisa enfrentar a difícil ascensão que a aguarda. Enquanto ela luta para controlar a luz e mostrar a todos que não é a causa do fim dos tempos, seus amigos se colocam em todo tipo de perigo para ajudá-la. E um novo segredo, ainda mais sombrio, revela-se quando Heather realiza mais uma de suas impossíveis façanhas.
Onde comprar? Informações aqui.

Análise:

“[…] A força é muito grande, ela precisa ser canalizada. Você precisa tomar ciência do poder, compreendê-lo. Deixar que ele aja por você, e não em você.”

—Pág. 8.

Saudações, caros leitores! O livro avaliado de hoje é o segundo volume de uma trilogia. Começar sagas, para alguns leitores, é motivo para temor, pois o medo que a qualidade da história caia ao longo das partes sempre ronda a mente. Quando adquirimos um livro, normalmente estamos investindo nele o nosso dinheiro, além de nosso precioso tempo, e, em contrapartida, esperamos obter um entretenimento que nos agrade, nada mais justo, desde que escolhamos o livro tendo em conta qual é a proposta do escritor ao gerar aquela obra. Agora, vamos efetivamente refletir acerca das sensações e pensamentos que foram semeados em mim e ao que estas coisas me conduziram.

O livro inicia-se no exato ponto em que o anterior terminou, dando a impressão de que somente o tempo de um virar de página passou da leitura do primeiro para o segundo volume e isso faz com que a memória dos acontecimentos fique fresca, além de que a protagonista (Heather) parece regredir ao estado primário de sua personalidade nas primeiras páginas da aventura, visto que ela demonstra completo estranhamento e desorientação frente à realidade da ascensão de seu poder. Entretanto, rapidamente temos o primeiro dos vários pontos de virada da trama. As repentinas e contínuas, porém bem construídas, alterações de rumo da história foi uma das novidades que mais me causou deleite e fará aqueles que comprarem o livro I quererem comprar o II, ao menos supondo que as minhas palavras passem credibilidade. A continuação justifica-se, não há como dizer o contrário.

A adição de novos personagens realmente foi milimetricamente pensada, uma vez que nada fica sem uma importância fundamental, até mesmo aqueles que parecem bem secundários demonstram que terão a chance de serem fatores determinantes, isto deixa o quadro dos eventos mais complexo e, consequentemente, composto de personagens mais sólidos, presentes em cenas, pois é desagradável acompanhar algo (série, filme, livro etc) em que o criador vai inserindo mais e mais elementos sem deixar mais do que meia dúzia tangíveis, enquanto o resto não passa da famosa “encheção de linguiça”. A Tatiana me demonstrou real preocupação em elaborar uma obra em que o leitor não ficasse detido em trechos dispensáveis, tive a percepção de que a escritora diante do papel em branco não teve dúvidas ou pelo menos não escreveu sob o efeito de incerteza. Considero sinal de respeito ao leitor manter um texto o mais limpo possível.

Um dos personagens trabalhados neste volume, o anjo caído Jophiel, senhor do Olho de Cerno (submundo), serve como o maior exemplo de um atributo que a escritora conseguiu conferir ao texto: uma linha tênue entre o bem e o mal. O conflito é baseado em oposições de interesses e não em indivíduos que ficam professando valores, essa característica tornou a leitura mais divertida e capaz de surpreender, pois não há uma definição clara dos limites de cada personagem, ninguém fica preso à uma “grade moral”. Alguns paradigmas comportamentais são rompidos e a evolução dos personagens ocorre nas direções mais improváveis, por exemplo, Stuart, um vampiro amigo de Henry, que era impaciente, antirromântico e indisciplinado, acaba caindo em um contexto inimaginável até o presente.

Jophiel

O modelo para a foto do personagem é  Carson Nicely.

Jophiel, sem dúvida alguma, é o personagem mais encantador pela sua maneira imponente de apresentar-se e o sarcasmo aguçado que fica balanceado pelo alto carisma de poucas, mas bem pensadas, palavras. O anjo caído não faz o tipo mocinho desnorteado e vulnerável, muito pelo contrário, ele é o anti-herói que chegou de vez para revelar o outro lado da moeda e roubar a cena de alguns personagens. Todavia, a relação amorosa de Henry e Heather não é esquecida e nos proporciona ainda mais instantes de descobertas de deixarem qualquer um boquiaberto. O vaticínio sobre Heather fica ainda mais pesado e o preço de possuir um poder colossal é cobrado sem piedade e todo aquele que estiver no caminho está passível de tornar-se uma vítima do conflito que se anuncia.

Todos os fatos são elucidados de forma mais justa, o Conselho de Esplendora perde bastante de seu poder nos relatos históricos e acaba deixando exposta a sua face menos graciosa e o leitor vê que há podridão no reino celestial. Fica ainda mais ressaltado que não há como parar a tormenta senão por uma guerra em que os destroços muito provavelmente irão além do horizonte. “O poder”, desfecho da saga, promete uma intensa movimentação e um final em chamas.

A diagramação do livro (li em e-book) está perfeita, quanto a isso só posso elogiar, entretanto a revisão deixou passar alguns erros de escrita. É compreensível que existam pequenos deslizes na revisão, já vi livros com vários revisores e ainda com erros, mas é sempre bom frisar a importância de um texto o mais trabalhado possível em conjunto com a sua parte física ou estrutura digital. Avaliando estes dois aspectos, em relação ao primeiro livro, onde a diagramação ficou um pouco a desejar, posso declarar que houve evolução, logo darei quatro selos cabulosos e meio!

Nota:

4 selos e meio

Entrevista

Tatiana Mareto

Olá, Tatiana, mais uma vez estou aqui entrevistando você, confesso que gosto bastante dos bate-papos informais pelo Twitter contigo, isto passa um sentimento maior de amizade, compreende? Isso e acompanhar o seu trabalho como autora independente é gratificante, pois sei que, humildemente, estou auxiliando uma escritora, que também considero como uma amiga, a subir alguns degraus no seu sonho. Bem, vamos às perguntas…

1 – Depois de escrever o primeiro volume de “O Segredo de Esplendora”, como foi escrever a continuação? Houve dificuldade?

Não, na verdade o processo foi continuo. Quando comecei a escrever O Segredo de Esplendora eu não pretendia escrever mais de um livro, porém a história se alongou e percebi que publicá-la em um volume apenas geraria um livro nada comercial. Afinal, quem vai ler um romance de 800 páginas de um autor desconhecido? Então optei por dividir em quantos livros fosse preciso para que cada um não tivesse 500 páginas. Em 3 meses eu já tinha escrito A Origem, Ascensão e parte de O Poder, quando decidi transformar o então livro único em uma trilogia.

2 – No primeiro livro acompanhamos basicamente uma história de amor com um pouco de suspense, mas no segundo livro o romance ficou mais sutil e você trabalhou mais o suspense (muitos segredos são revelados, aliás), como foi para você essa transição de formato na narração?

Como eu disse acima, foi contínuo. A primeira parte da história mostra o reconhecimento de Heather, essa criatura única que precisava se descobrir. Tanto que escolhi o nome A Origem porque, para mim, no primeiro livro, Heather encontra a sua origem, o seu verdadeiro “eu”. E uma das partes mais significantes dessa descoberta é Henry, seu amor vampiro, uma criatura que ela nem mesmo acreditava que existia, e que contribuiu definitivamente para que ela se aceitasse. Ultrapassado esse momento de descoberta do “eu”, Heather teria que enfrentar as consequências de ser quem ela é, e isso começa em Ascensão, o segundo livro. Os segredos que Esplendora esconde são maiores do que ela pensava, e aos poucos ela vai descobrindo que até quem acreditava saber a verdade sabe, de fato, muito pouco.

3 – Os personagens nesse segundo livro ficaram bem mais complexos, a própria linha divisória entre vilões e mocinhos ficou bem frágil, como tem sido o feedback de seus leitores quanto a isso?

Preciso ser sincera que eu tive pouco feedback até agora. O Leitor Cabuloso é o segundo blog literário a resenhar Ascensão, e até o momento eu estava focando em divulgar A Origem, o primeiro volume. Tive retorno de alguns leitores esporádicos, e eles foram bem positivos. Acho que o leitor gosta de ação e de movimento, e em Ascensão ele tem um pouco mais disso. Os conflitos ficam mais dinâmicos e novas personagens são introduzidas. Para minha surpresa, os leitores se identificaram bastante com essas novas personagens e com o papel que elas desempenham na trama. Com exemplo posso citar o Anjo Negro, que aparece sutilmente em A Origem e que ganha mais importância no segundo livro.

4 – Os pontos de virada no livro foram inúmeros, será que ainda podemos esperar muitas revelações no terceiro livro? Por favor, nos instigue a curiosidade. (risos)

O terceiro livro não contém tantas revelações bombásticas como o segundo, mas posso garantir que o segredo que ele esconde vale por muitos! O terceiro volume da trilogia, O Poder, mostra a conclusão da trama e, consequentemente, Heather em pleno contato com quem ela realmente é. Mais uma vez, personagens antes pouco relevantes aparecem em momentos decisivos na história, e algumas situações vão causar o caos em Esplendora. Eu criei uma chamada para o livro que trazia a frase “Esplendora em chamas”, e é basicamente isso que o leitor vê durante O Poder.

5 – Jophiel, o anjo negro caído e senhor do Olho de Cerno, algo que seria equivalente ao conceito de inferno que normalmente alguns acreditam, tem um grande destaque e importância no livro, chegando a roubar a cena dos protagonistas maiores, quais foram os seus pensamentos ao concebê-lo? Ele é extremamente carismático e, com certeza, foi aquele que mais gostei na obra.

Jophiel é minha personificação do ying-yang. Todo mal tem um pouco de bem, e todo bem tem um pouco de mal. Em O Segredo de Esplendora, a linha do bem e do mal é muito tênue, e Jophiel representa isso muito bem. Ele é um Anjo totalmente fora dos padrões de Esplendora, sempre foi rejeitado (será que podemos dizer que ele sofria bullying? *risos*) e acabou caindo, refugiando-se no Submundo. Mas ele esconde um segredo que o faz sofrer continuamente. Quando esse segredo é revelado, aquela parte boa que o leitor não conseguia ver nele vem à tona. Jophiel foi uma surpresa, pois os leitores realmente gostaram bastante dele e do seu papel na trama.

6 – Como autora independente, qual a sua avaliação do relacionamento com os blogueiros e outros autores?

Acho fundamental a aproximação entre blogueiros e autores, mesmo os que não são independentes. Oras, se as grandes editoras entendem que os blogs literários são importantes para o processo de divulgação e aprimoração da literatura, como pode o autor ficar de fora disso? Esse relacionamento tem que ser recíproco e respeitoso. O autor tem que entender que o blogueiro não é um crítico literário e que ele vai ser honesto na hora de fazer a resenha, porque, antes de ser blogueiro, ele é um leitor. Assim como o blogueiro tem que entender que gosto e qualidade da obra são coisas diferentes. Uma obra tem qualidade quando é bem escrita, tem uma trama bem montada, personagens bem estruturados, boa apresentação gráfica, etc. O blogueiro, mesmo assim, pode detestar a história, isso é gosto. Então a resenha precisa saber separar uma coisa da outra e o autor precisa saber aceitar críticas negativas. Nem todo mundo vai gostar da nossa história, não é mesmo? Tenho visto muitas brigas na blogosfera literária e isso me chateia, porque entendo que as parcerias autor-blogs precisam continuar fortes para que os autores independentes tenham boas chances de divulgar suas obras.

7 – O primeiro livro você ainda chegou a lançar uma edição por uma editora, mas depois decidiu assumir realmente o papel como independente. Qual a sua perspectiva do caminho que escolheu? O que você acha da vida como independente no Brasil?

A vida de escritor no Brasil é dura, mas deve ser assim no mundo todo. Eu optei por ser independente na primeira vez, ou seja, lancei O Segredo de Esplendora por conta própria (sem editora) antes de consultar alguma. Depois houve a oportunidade de publicação com selo editorial, mas não deu certo e entendi que o caminho independente, naquele momento, era mesmo a melhor opção. Cometi muitas falhas, claro, e espero ter aprendido para o futuro. Mas não me arrependo; não consigo ver o autor independente como um excluído ou um fracassado. Para mim, o autor independente é apenas um escritor que se cansou do processo editorial, ou que optou não passar por ele. Mas a vida é muito difícil, porque autores independentes são vistos com olhos muito rígidos por todos. É como se livro lançado por editora fosse bom, livro independente não. Essa relação não existe; tem muita editora publicando lixo literário por aí. Tem muita obra sem qualidade no mercado, com selo editorial. E tem muito trabalho independente que encanta leitores. É uma pena ver que existe essa diferente de tratamento, mas isso é algo que precisamos superar. Se optei por ser independente, preciso conhecer as pedras do caminho e ultrapassá-las sem reclamar – muito (risos).

8 – Agora, gostaria de falar sobre os seus mais recentes projetos literários (“Jogos de Adultos” e “Quando o Verão se For”). Acho interessante a sua atitude em buscar estabelecer projetos literários em várias plataformas e queria saber o que você sente com isto. Há outros projetos já sendo pensados? Noto que você é uma autora inquieta e nunca para de produzir textos.

Eu escrevo sem parar, vários textos de uma vez. Dizem que isso não é bom, mas sou hiperativa e não consegui ainda focar em apenas uma obra – confesso que tentei. No momento tenho 4 obras iniciadas, vou falar rapidamente sobre as que você citou. Quando o Verão se For era uma fanfiction (quem já viu esse filme antes?) escrita especialmente para algumas amigas minhas. É uma história com valor sentimental, que decidi adaptar para se tornar um original completo. Porém é uma obra de romance puro e simples, que trata apenas do relacionamento entre as personagens principais. Quando decidi publicá-la em um formato alternativo, busquei opções e encontrei o BookSérie, possibilitando divulgar a história gratuitamente para quem quiser ler. Já Jogos de Adultos surgiu de uma brincadeira quando prometi para algumas amigas que escreveria um livro erótico melhor do que 50 Tons de Cinza. Eu nunca tinha escrito nada explícito, apesar de ter muitas cenas eróticas em minhas histórias. Gosto de explorar o erotismo porque escrevo, basicamente, romances – porém eu nunca tinha escrito nada com tantos detalhes e cujo enredo fosse exatamente o envolvimento sexual entre personagens. Se está bom eu não sei, mas decidi publicar em formato alternativo também, para possibilitar ao leitor a oportunidade de acompanhar, em tempo real, meu processo de escrita. Além desses dois, tenho Sequestrados, que está sendo finalizado, e uma obra ainda sem nome, com um enredo mais elaborado, que se passa basicamente em um futuro distante da nossa época. Não sei o que vou fazer com essas duas obras ainda; quando terminá-las decido se publico, envio para uma editora, ou distribuo gratuitamente.

9 – Agora, como sempre faço, deixo o espaço para você falar o que quiser.

Cuidado, quando me dão a palavra eu costumo não devolvê-la! (risos). Eu gostaria de agradecer ao Leitor Cabuloso pela oportunidade de parceria e de divulgação, especialmente a você Ednelson, sempre gentil e prestativo nas redes sociais, contribuindo para a literatura nacional. É muito difícil conseguir espaço em um blog literário de qualidade, por isso sou grata ao Leitor Cabuloso por ter-me aberto as portas para divulgar minhas histórias. Eu desejo ser lida, e saber como o leitor se sente após ler as obras; isso é o que me move. Mesmo que o retorno seja negativo, eu quero recebê-lo, e são esses espaços que nos possibilitam chegar, efetivamente, ao leitor.

Para os leitores que leram a entrevista até aqui, deixo dois recados. Primeiro, autor nacional sabe escrever de tudo. Não achem que somos limitados a alguns enredos; sabemos escrever fantasia, suspense, romances policiais, terror… o que o leitor desejar. Existe uma diferença de universo, de linguagem, de estrutura do livro nacional em relação ao livro estrangeiro, mas isso não significa, em nenhuma hipótese, que o livro nacional seja inferior. Abrir a mente para a literatura nacional é uma necessidade. Segundo, o escritor independente não precisa ser visto como um pária do mundo literário. Existe muita coisa ruim, mas muita coisa boa, tanto nas editoras quanto no enorme universo dos independentes. Ler as sinopses dos livros, conversar com outros leitores, ver as resenhas – tudo isso é fundamental para conhecer a obra e decidir se ela é para você, mesmo que seja produzida por um autor independente. Peço que você, leitor, nos olhe sem pré-concepções porque selo editorial não significa, necessariamente, qualidade. Grande abraço a todos.

Agradeço por mais uma entrevista concedida, lhe desejo muito sucesso, conte sempre com o apoio do Leitor Cabuloso! Que o baby que você aguarda venha com muita saúde! Abraços e beijos!