RESENHA: “DOMÍNIO SOMBRIO” DA VAL MCDERMID

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Capa
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Autora: Val McDermid
Editora: Bertrand Brasil
Origem: Escocesa
Ano: 2010
Edição: 1
Número de páginas: 364
Sinopse: Passado e presente se entrelaçam em um sensacional suspense psicológico. Aparentemente, apenas um crime não resolvido: uma rica herdeira e seu filho são sequestrados e, após o resgate, ela aparece morta e a criança some sem deixar rastros. Mas, após quase 25 anos, a jornalista Bel Richmond, sem querer, descobre uma pista que pode trazer novamente o caso à tona. Ao mesmo tempo, a investigadora de casos arquivados e protagonista da trama, Karen Pirie, está investigando outro caso ocorrido em 1984, ano da maior greve de mineiros da Escócia. Na ocasião, o líder sindical Mick Prentice é acusado de ter se unido aos fura-greves e ido morar em outra cidade. Porém, novas evidências sugerem que o desaparecimento de Mick pode não ter uma explicação tão simples assim, e a policial se vê envolvida num nevoeiro sombrio de segredos, traições e assassinatos.
Skoob

Análise:

“Sempre quis te contar a verdade a seu respeito, mas nunca parecia ser o momento certo. Agora estou morrendo, e você merece a verdade […]”

—Pág. 321

Saudações, caros leitores! Atualmente algumas escritoras figuram entre as pessoas que adoro quando o assunto é suspense, uma delas é Val McDermid, uma autora escocesa e com cinco livros já traduzidos em nosso país. Confesso que me surpreende constatar a habilidade com que mulheres, muitas vezes tidas como o sexo frágil, conseguem criar tramas de fazer gelar o sangue de alguns homens e talvez até tirar algumas horas de sono. Nunca subestimo o talento de quem quer que seja devido ao fato de ser homem ou mulher, contudo a nossa sociedade ainda carrega certos padrões de pensamentos que se mostram equivocados. A obra que será analisada é “Domínio sombrio”. O primeiro livro que li da Val foi “Sombras de um crime” e o encontro com esta segunda obra foi muito bom, um novo formato, para um novo enredo e a autora conquistou-me ainda mais ao me exibir mais um pouco de sua mente criadora.

A obra começa apresentando uma cena introdutória que não chega a fazer sentido, pois não temos qualquer informação sólida a partir da qual pensa-la, mas estabelece uma incógnita que imediatamente nos fazer tecer mil suposições e querer avançar as páginas para encontrar as peças necessárias para compreender o que o quebra-cabeça quer nos revelar. Acho que, apesar disso ser um recurso clichê em histórias de suspense, é uma ferramenta maravilhosa para estimular a curiosidade, atributo indispensável para uma boa imersão no gênero ao qual o livro pertence. Lentamente é que a cena vai ficando mais clara, mas outras peças aparecem e frequentemente retornamos à ignorância dos fatos e temos de refazer as nossas considerações, apagando algumas observações em nossos “bloquinhos” e assumindo novas hipóteses como bons detetives.

O livro oscila entre presente e passado, sendo as regressões temporais um meio de ilustrar os momentos em que alguém é interrogado ou, por meio de uma conversa, refere-se ao passado. A característica mais instigante é que esses retornos ao passado não seguem uma ordem cronológica sempre (a primeira rememoração não é necessariamente sobre algo antes da segunda, por exemplo), fazendo rapidamente uma visão bem definida do que está velado, mas sempre mostram uma perspectiva singular, onde não deixamos de notar algumas avaliações parciais e assim o leitor é convidado a pesar e levar em conta ou não algumas coisas, adorei a estrutura do livro que nos deixa ser uma espécie de observador invisível, mas que colabora na construção do sentido da obra. É até um desafio conseguir solucionar o mistério antes do desfecho.

Nesta obra, ao contrário de “Sombras de um crime”, não temos uma viagem profunda pela psique de um assassino evidentemente desequilibrado, tarefa que a Val McDermid já me demonstrou saber fazer muito bem a ponto de tornar a leitura frenética, mas sim acompanhamos um processo em que o verdadeiro caráter de algumas pessoas é revelado, demonstrando que às vezes guardamos dentro de nós mesmos autênticos terrenos sombrios, sejam marcados por pegadas de sangue ou apenas informações que nos deixariam em papel embaraçoso. Enfim, todos possuem um domínio sombrio.

A autora também apostou em uma divisão do livro em duas linhas com mistérios distintos, mas que aos poucos começam a cruzar seus contornos e talvez não sejam questões tão distantes uma da outra. Essa alternância de contextos deixou o texto muito dinâmico. Basicamente, as personagens que mais nos auxiliam na resolução do desconhecido são: Karen Pirie e Bel Richmond. Alguns personagens teimam em lutar até onde for possível para conservarem seus cofres de segredos muito bem trancados, mas a dose de ação que vemos não é algo exagerado, nota-se como o mistério é priorizado ao invés de jogos de vida e morte. Dou cinco selos cabulosos ao livro, pois Val McDermid acabou de se confirmar mais uma vez como hábil escritora de suspense, sabendo explorar as mais variadas possibilidades que o gênero oferece e ainda dando uma conclusão inesperada para a história. Recomendadíssimo!

Nota: