RESENHA: “CRUZANDO O CAMINHO DO SOL” DO CORBAN ADDISON

2
Capa
Capa
Autora: Corban Addison
Editora: Novo Conceito
Origem: Americana
Ano: 2012
Edição: 1
Número de páginas: 448
Sinopse: Sita e Ahalya são duas adolescentes de classe média alta que vivem tranquilamente junto de seus familiares, na Índia. Suas vidas tranquilas mudam completamente quando um tsunami destrói a costa leste de seu país, levando com suas ondas a vida dos pais e da avó das meninas. Sozinhas, elas tentam encontrar um modo de recomeçar a vida. Mas elas não devem confiar em qualquer um… Enquanto isso, do outro lado do mundo, em Washington, D. C., o advogado Thomas Clarke enfrenta uma crise em sua vida pessoal e profissional e decide mudar radicalmente: viaja à Índia para trabalhar em uma ONG que denuncia o tráfico de pessoas e tenta reatar com sua esposa, que o abandonou. Suas vidas se cruzarão em um cenário exótico, envolto por uma terrível rede internacional de criminosos.
Skoob
Onde comprar? Aqui!

Book Trailer:

Análise:

“Não quero ser pessimista. A guerra pode ser vencida. Mas não colocando os traficantes atrás das grades. O tráfico vai acabar quando os homens deixarem de comprar mulheres. Até lá, o melhor que podemos fazer é vencer uma batalha de cada vez.”

—Pág. 381.

Saudações, caros leitores! O que vocês fariam caso a liberdade lhes fosse usurpada? Como não sucumbir quando você é violentado tão profundamente que cada uma de suas virtudes se enfraquece diante do medo? Quando um espírito é retirado forçadamente da pureza para um estado de extrema depravação os resultados podem ser os mais desastrosos e a vida, indubitavelmente, nunca mais será a mesma para aqueles que foram vítimas de abuso. A obra em análise captura a atenção do leitor por meio de um texto ágil, cativante, mas não se restringe a entreter. O livro atrai, informa, nos transforma e convida a agir, sabendo a importância dos mínimos gestos.

A história já começa intensa, nos fazendo arregalar os olhos ao constatar como alguns males vêm e agem independente de nossa vontade. Essa brusca alteração no rumo da vida das irmãs Ahalya (17 anos) e Sita (15 anos) que não são mais crianças, mas também não atingiram ainda a fase adulta, é chocante, pois elas mesmas ainda não conseguem conceber uma existência tão maléfica quanto aquela em se veem jogadas. Porém, desde os primeiros momentos o estreito laço entre eles, o apoio mútuo, é fundamental para aliviar a tormenta. É praticamente impossível não envolver-se no turbilhão de emoções. O impacto do que vemos narrado é como a gravidade, apesar do escritor não optar por descrições explicitas, o que poderia gerar um mal-estar exacerbado nos leitores mais sensíveis emocionalmente, não nos lançam além das paredes do nosso mundo, muito pelo contrário, exibem a sujeira embaixo do tapete. Infelizmente, as atrocidades que lemos acontecem com milhares de “Ahalyas” e “Sitas” anônimas, talvez você até conheça alguma.

Em outro ponto do planeta (Estados Unidos), sem qualquer ligação perceptível no começo, o ambicioso Thomas enfrenta uma degeneração existencial. O seu anseio por ascensão profissional, mesmo que para isso tenha de sufocar a voz de seu coração e ignorar ações inescrupulosas de seus superiores, causa ojeriza em qualquer pessoa com um pouco mais de senso se justiça e honra. Todavia, Corban Addison conseguiu transformá-lo muito, mas sempre de forma coerente com pensamentos, sentimentos e acontecimentos se entrelaçando e forçando-o a repensar diversos assuntos.

No primeiro momento Thomas é a síntese dos governantes dos países de primeiro mundo que ainda ficam indiferentes às mazelas que florescem nos países em desenvolvimento, mas de vez em quando lançam sementes em seus territórios. Essa posição apática faz considerar que os dirigentes dos grandes países ainda devem imaginar que vivem em uma cúpula indestrutível, isolados do mundo como uma ilha, mas lembremos de que até mesmo um pedaço de terra está vulnerável à subida da maré e outras intempéries naturais. Os acontecimentos que fazem Thomas acordar é como um pungente soco na face, remodelando a sua perspectiva de si mesmo. Esse é o combustível em sua jornada espiritual, assim denominada por ser uma progressiva renovação de valores.

A religiosidade da Índia e alguns de seus costumes são aspectos abordados belamente, o que demonstra um perfeito trabalho de pesquisa, e engendra uma ambientação riquíssima, demonstrando a exuberância cultural de um país que muitas vezes nós, ocidentais, conhecemos de modo deturpado.

A solidez do enredo também vem da própria experiência de engajamento social do escritor, que abraça a causa, entre inúmeras outras, pela abolição da escravatura moderna (o que inclui o tráfico sexual). O livro possui uma linguagem simples, apontamento de referências para os dados apresentados e ainda nos deixa uma luz no fim do túnel, visto que enquanto houver homens dispostos a batalharem contra o mal,  a escuridão jamais estabelecerá o seu império. Nenhuma ação é insignificante, façamos a nossa parte por um mundo melhor. Humanidade não é um estado de coisas permanente, não somos “é humano”, mais sim um exercício contínuo, ou seja, “ser humano”. Nascemos ignorantes, mas tomando a ciência de nossas potencialidades, por que ainda insistir em ceifar o que há de bom?

A diagramação, a revisão e a capa são perfeitas! A Novo Conceito merece os meus parabéns pelo trabalho esmerado, mais uma vez. Aliando uma parte física de qualidade a uma história relevante para a sociedade o resultado não poderia ser outro senão um banquete literário. Darei cinco selos cabulosos!

Nota:

Novo Conceito