ENTREVISTA COM O FÃ – COM NIKELEN WITTER

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Quem é Nikelen Witter?

Nikelen Witter é escritora, historiadora e professora universitária. Nos últimos anos, publicou contos em diversas antologias de ficção fantástica e Territórios Invisíveis é seu romance de estreia. Vive atualmente no interior do Rio Grande do Sul com o marido e o filho, dividindo-se entre eles, a literatura, suas aulas e o ativismo pela leitura. É autora de livros na área de História, colunista do jornal on line Sul21 e da Revista Fantástica.

Olá, Nikelen, primeiro quero agradecer em nome do blog por conceder esta entrevista sobre o seu amor ao escritor Oscar Wilde e dizer que pode ficar muito à vontade para responder, pois estamos entre amigos com um amor em comum, a literatura. Espero que se divirta tanto quanto eu ao lhe entrevistar.

Vamos às perguntas ou você tem alguma coisa a dizer antes?

Quero agradecer, Priscilla, por ter se lembrado de mim como alguém que gosta muito deste autor. Também quero me desculpar caso as respostas soem um pouco cheias de História. Isso porque, para mim, Wilde, além de um escritor magnífico, foi um homem incrível, cuja própria existência é digna de ser conhecida e lembrada.

1 – Como nasceu o seu amor por Oscar Wilde?

Nossa!Essa pergunta me joga muito cedo na minha vida. Eu cursava a sétima série e tinha uma amiga que gostava tanto de ler quanto eu. De fato, ela era ainda mais especial que isso. Um dia ela me contou que estava lendo um livro incrível, que era da mãe dela. Eu disse que gostaria de lê-lo também. Uns dias depois, ela me trouxe o livro, pois a mãe permitira o empréstimo. Era uma versão recontada para jovens de O Retrato de Dorian Grey. Foi amor à primeira leitura. Claro, eu não tinha, na época, a noção de que as versões recontadas nos afastavam em muito dos textos originais. No entanto, eu achei o livro ainda melhor quando, mais tarde (já nos primeiros anos da faculdade), li o texto completo. Percebi que a versão que eu lera, havia “limpado” muitos dos elementos ligados a homossexualidade que tornavam a história ainda mais complexa e saborosa.

Depois, meu contato veio com o livro Histórias de Fadas, que são uma série de contos adoráveis, destinados ao público infantil. Essas histórias nada têm de rasteiras e são de extrema beleza, tristeza e ternura. Mais adiante, por conta do filme, fui atrás de O Fantasma de Canterville. Um conto fascinante: engraçadíssimo, cínico, debochado. Se eu já não amasse Oscar Wilde, teria me apaixonado ali.

2 – O que você acha das inúmeras adaptações da história mais célebre do autor (“O Retrato de Dorian Grey”)?

O Retrato de Dorian Grey é mais que um romance. Digo isso porque ele tem em si características de mito. Possui elementos que são universais. A vaidade é um tema universal, assim como o medo do envelhecimento, da decrepitude, da dissolução do que somos no que é pior em nós. Oscar Wilde propõe questões que podem ser lidas de diversas maneiras, coladas aos mais diferentes personagens. Afinal, o que seria viver sem sofrer as consequências físicas de nossos atos, das nossas escolhas, das nossas pequenas e grandes maldades? O que seria viver imune ao que o tempo pode causar? Nesse sentido, os filmes que adaptam a obra podem ser melhores ou piores dependendo da forma como contam a história. Alguns chegam a ser mesmo muito ruins. De fato, não sei se vi alguma adaptação que recomendaria, embora até acredite que exista.

3 – Como você avalia a importância de Oscar Wilde para a literatura da época em que viveu?

Oscar Wilde viveu num período de grande efervescência cultural. A virada do século XIX para o XX marcou a história das artes com uma virada no que definimos por “gosto”. Em outras palavras, os artistas desse período não são apenas críticos com sociedade, eles criticam o tipo de arte que as pessoas consomem e passam a propor novas experiências estéticas. Wilde será um desses artistas. Com uma personalidade extravagante, ele mergulha na boemia e na agitada vida noturna de Londres passando a propor novas formas de produzir e consumir arte. Foi um dos criadores do estetismo ou dandismo, uma proposta estética que via no belo uma forma de se opor aos males trazidos pela industrialização. De fato, Wilde faz de si mesmo um dândi, usando a moda e, especialmente, o lançar modas, como uma forma de expressão social. Há um diálogo na peça O marido Ideal em que ele resume o prazer de criar beleza no vestir-se e no portar-se.

Apesar do sucesso como escritor e dramaturgo que Wilde atinge – talvez, também, por conta dele – isso não o poupa das críticas da sociedade que o percebe como cada vez mais excêntrico e diferente dos padrões aceitos da época. Sua forma de viver acabará culminando no seu julgamento e prisão por “atos imorais com diversos rapazes” e ele foi condenado a dois anos de trabalhos forçados. Ao sair da prisão, Wilde vai para Paris e se torna de forma ainda mais clara um defensor “do amor que não ousa dizer o nome”, mesmo que produza cada vez menos em termos literários.

Minha impressão é que como artista e como homem, Oscar Wilde é uma das grandes figuras dos últimos dois séculos.

4 –A obsessão de Dorian Grey pela juventude eterna é um retrato perfeito do que vemos hoje em dia com pessoas cada vez mais maníacas pela cirurgia plástica por puro capricho. O que você acha que Oscar Wilde diria disso se pudesse visitar o nosso tempo?

Não mudamos nadado que tínhamos de pior, apenas aprimoramos. (risos)

5 –Você poderia nos dizer se o autor lhe influenciou em algum aspecto de sua escrita?

Acho que todos os autores que lemos e amamos, nos influenciam de alguma forma. O humor e a complexidade de Wilde são, sem dúvida, pontos inspiradores da sua literatura.

6 – Há algum fato engraçado ou incomum que você viveu envolvendo um livro do autor, personagem etc?

Nada que eu recorde, agora.

7 – Houve algum dos trabalhos do autor que você não gostou?

Infelizmente, não li textos de Wilde o suficiente para não gostar de algum.

8 – Há algum texto dele que você gostaria de adaptar para o cinema ou teatro se tivesse os recursos necessários?

Eu acho que adaptaria O Príncipe Feliz.

9 – Um desafio: Se você tivesse que resumir Oscar Wilde em uma palavra, qual seria?

Extraordinário (no sentido absoluto da palavra: fora do ordinário, do comum, do medíocre).