ENTREVISTA: LEMOS MILANI

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Depois da resenha de A Ascensão da Casa dos Mortos, agora uma breve entrevista com o autor, Lemos Milani. Acho muito interessante ler uma entrevista de um autor do qual gostei da obra. Ela nos revela novidades e ás vezes até dicas para a escrita. As influências que senti no livro de Lemos, se confirmam aqui. Espero que gostem da entrevista, assim como eu. O Lemos foi super simpático em todo o processo de parceria. Valeu Lemos!

 

1 – Como surgiu a ideia para escrever A Ascensão da Casa dos Mortos?

A ideia não surgiu já pronta, nem com detalhes definidos. A Ascensão da Casa dos Mortos veio como uma insatisfação das estórias que já tinha visto ou lido no decorrer dos anos — sem contar que sou apaixonado por construções antigas. Foi mais um trabalho de pesquisa e molde, e apenas comecei a escrever quando encontrei a ambientação perfeita. Ao visitar o Lado de Javary, em Miguel Pereira, ao passar pela estrada sinistra de acesso ao local, tinha a certeza de que havia ali algo a ser contado. Foram encaixes de blocos, se é que posso explicar assim. Mas posso dizer com convicção que a origem do livro está num conto que escrevi em 2008, de apenas duas páginas, intitulado Decodificação.

2 – Completando a pergunta anterior, algum autor ou situação influenciou na escrita?

Como situação, tenho a descoberta do Lago de Javary, já citado acima, e uma casa na qual uma tinha minha era caseira, que é datada do início do século XVII. Já quando penso em autores e escrita, não posso negar a influência que Stephen King e Edgar Allan Poe tiveram em mim — o poema O Corvo está impregnado em cada página do meu livro. São escritores brilhantes no modo de escolher e narrar uma situação. Sempre fui muito de analisar romances; pegava os livros no intuito de estudar os diálogos e as descrições, assim como transições de cenas e passagens de tempo. Isso me rendeu bons resultados. É um vício que ainda possuo. Mas não foram só autores desse âmbito que me influenciaram: não tenho restrições de leitura.

3 – Esse é o seu primeiro livro solo, correto? Certamente você planeja escrever outros. Continuarão seguindo o gênero do terror?

Isso, mas se colocarmos em questão de publicação. A Ascensão da Casa dos Mortos é o primeiro livro a ser publicado, embora seja o quinto livro escrito. Sim, ainda tenho muitos projetos. O curioso é que este foi o primeiro livro de terror que resolvi por em andamento. Comecei com algo mais romântico, depois acabei por mudar a direção: sempre me disseram para escrever algo de terror. As pessoas que convivem comigo sabem o motivo, algumas sentem um pouco de medo por causa do meu comportamento mais… diferente. Mas embora seja um gênero que eu goste, não pretendo apenas fixar-me nele. Várias ideias que possuo são terror, mas também estou seguindo com planejamentos mais realistas: gosto de trabalhar com a questão do indivíduo versus sociedade.

Todavia, posso dizer que já estou em processo final de revisão de um novo romance. Terror. Mais violento e com uma questão mais complexa de ser abordada.

4 – Você recebeu muita influência na infância para a leitura? Gosta de ler que tipo de livros?

Na verdade, não. Eu odiava leitura quando pequeno. Mas odiava por não ter tido um incentivo por parte acadêmica ou familiar. Fui me interessar apenas quando uma prima resolveu passar as férias escolares em nossa casa: ela levou uma sacola enorme recheada de livros da Série Vaga-lume. Ela lia tanto durante os dias… Acho que comecei mais por curiosidade. Não entendia como alguém conseguia fixar tantas horas de atenção em um monte de papel. Foi um prazer conseguir construir a resposta da indagação que tive. Já atualmente tenho dado preferência aos clássicos, mas gosto de qualquer tipo de livro, basta apenas ter um enredo que me cative.

5 – Quando descobriu que gostaria de ser escritor? Alguma dica para quem quer seguir o mesmo caminho?

Descobri que conseguia inventar estórias antes mesmo de conhecer a leitura. Sentava em um canto qualquer e ficava criando situações nas quais tinha participação ativa. Muito tempo depois eu fui juntar os fatos e perceber que eu poderia escrever algo interessante. Para quem quer seguir esse caminho, acho que a leitura é a base, só que uma base tão lógica que, sinceramente, não sei se a jogaria como dica. A prática é essencial, assim como o ato de criticar o próprio texto. A paciência também é fundamental. Todavia, acho que a principal dica que tenho a oferecer é essa: não tenha preconceitos. Mantenha a cabeça aberta sempre, um escritor que trás ideias massificadas e estereotipadas sobre qualquer fato, que não está aberto ao novo, é tão superficial quanto uma folha em branco.

6 – Gostei muito que um autor novo como você tenha conseguido entrar no mercado literário com uma obra inicial tão boa. Quanto tempo demorou para escrever A Ascensão da Casa dos Mortos? A publicação foi difícil?

Obrigado pelo elogio. Comecei a base do livro em 2009. Escrevi um determinado número de páginas e resolvi parar por achar que o texto não estava se desenvolvendo da melhor maneira possível. Nesse período de abandono da escrita, procurei me informar mais sobre o assunto. Vi filmes, li livros, estudei sobre alguns fenômenos e casos “reais”. Apenas decidi retomar quando estava pronto, e isso durou mais de um ano.  Então, quando vi que tinha expandido minha compreensão do tema e da escrita, finalizei a original em poucas semanas.

Tive diversos originais recusados, mas a Ascensão da Casa dos Mortos foi aceito pela primeira editora que enviei. Tinha conhecido a Editora Estronho poucos meses antes, por intermédio de um primo. Achei que poderia ser uma boa oportunidade. Hoje vejo o quão sortudo fui. A Estronho tem uma excelente atitude ao tentar trazer, para o mercado editorial, autores nacionais. Ela investe, se dedica, se preocupa e aconselha os jovens escritores. Uma atitude nobre atualmente.

7 – Tem alguma recomendação para os leitores do Leitor Cabuloso?

Tenho uma recomendação, mas creio que se aproxime muito da dica dada aos que querem seguir a carreira de escritor. Leiam sem medo. Não se preocupe com o que vão falar dos livros que lê. Não suporto os que rotulam livros por se acharem mais desenvolvidos intelectualmente. Toda leitura é válida. Se quiser algo que é considerado como “modinha”, mesmo eu não concordando com esse termo, leia. O processo de desenvolvimento é constante e sempre progressivo. Vamos avançando na leitura naturalmente. Não estaria lendo hoje Tostói se, há alguns anos, não tivesse começado com os livros da série Harry Potter. Incentivei uma amiga, certa vez, a ler a série Crepúsculo, e ela não tinha o hábito de ler: quando dei por mim a peguei lendo os livros do Jorge Amado. Fiquei feliz por isso.