RESENHA: “O CLÃ DOS MAGOS” DE TRUDI CANAVAN

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Capa
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Autora: Trudi Canavan
Editora: Novo Conceito
Origem: Australiana
Ano: 2012
Edição: 1
Número de páginas: 446
Sinopse: Todos os anos, os magos de Imardin reúnem-se para purificar as ruas da cidade dos pedintes, criminosos e vagabundos. Mestres das disciplinas de magia, sabem que ninguém pode opor-se a eles. No entanto, seu escudo protetor não é tão impenetrável quanto acreditam. Enquanto a multidão é expurgada da cidade, uma jovem garota de rua, furiosa com o tratamento dispensado pelas autoridades a sua família e amigos, atira uma pedra ao escudo protetor, colocando nisso toda a raiva que sente. Para o espanto de todos que testemunham a ação, a pedra atravessa sem dificuldades a barreira e deixa um dos mágicos inconsciente. Trata-se de um ato inconcebível, e o maior medo da Clã de repente se concretiza: uma maga não treinada está à solta pelas ruas. Ela deve ser encontrada, e rápido, antes que seus poderes fiquem fora de controle e destruam a todos.
Skoob

Book Trailer:

Análise:

“[…] quando a pedra se aproximou da barreira dos magos, desejou que a atravessasse e alcançasse o alvo […] Funcionou. Quebrei a barreira, mas não é possível. A menos que […] eu tenha usado mágica.”

—Pág. 24.

 

Novo Conceito

Saudações, leitores! Recentemente me bateu uma imensa vontade em ler alguma obra de fantasia. Estava querendo algo que pudesse mergulhar a minha mente em um ambiente encantador, onde cada página pudesse exercer um fascínio tão grande que a leitura fosse um processo no qual cada parágrafo fosse desejado tão fortemente quanto um copo de água no mais áspero deserto. Sou um leitor que acredita muito em clima e humor para os livros, ou seja, às vezes queremos um livro não apenas por simpatizar com ele, mas por uma emoção que nos atinge tão vigorosamente que podemos classificá-la como um chamado espiritual ou literário nesse caso. Alguns livros ficam mais tempo do que outros em minha “estante” (guardo meus livros em um armário por causa da falta de espaço em casa), justamente porque não estou no humor para lê-los. Então, voltando ao assunto principal, olhando entre os livros que tinha para ler, vi “O Clã dos Magos” de Trudi Canavan, enviado pela editora parceira Novo Conceito, e foi uma reação automática pegá-lo e começar a ler. Agora vocês devem estar pensando: Mas e aí, ele satisfez as suas expectativas? Acompanhem as minhas palavras…

O livro começa com uma ideia comum, uma personagem que descobre possuir habilidades além do que imaginava e se descobre inserida em uma nova e fantástica posição no mundo. Esta é justamente a largada da vida de muitos personagens nas histórias de fantasia e no universo das HQs, como vocês devem saber, mas não sou do tipo de leitor que menospreza um livro por já começar com moldes populares ou clichês, como também podemos chamar, afinal há excelentes histórias que começaram assim e depois conquistaram o seu merecido espaço. A figura central, neste livro, é Sonea, uma jovem residente da favela da cidade de Imardim. O passado da garota é bastante misterioso e muito pouco é revelado sobre os seus progenitores, alimentando ainda mais a sensação de surpresa acerca da descoberta de seu dom para a magia. Sonea foi criada por seus tios, Jonna e Ranet, mas estes são personagens que participam pouquíssimo da trama e não chegam a influenciar nos eventos, algo que achei um pouco estranho, uma vez que os tios demonstram afeto pela garota, em seus escassos instantes de participação, mas se mantém distantes e acabam não demonstrando uma preocupação tão grande assim. Acho que nos próximos volumes da saga, eles podem ser mais trabalhados.

Exceto por um ou outro personagem que aparece no decorrer do livro e a própria Sonea, quem obtém mais foco é Ceryni ou Cery, numa forma mais íntima, um amigo de longa data da garota. Ele é importantíssimo no desenvolvimento da história, talvez a personalidade dele não cative alguns leitores, pois demonstra uma forte ligação com Sonea, quase uma necessidade vital de estar perto, e sei o quanto isso pode ser aborrecedor de se ler, mas até que o personagem consegue evoluir em suas cenas solos, o que acaba equilibrando um pouco as coisas.

Depois do evento durante o dia da purificação, Sonea e Cery conduzem uma fuga constantemente dos magos que tentam encontrar e capturar a maga selvagem que está à solta. Durante esse período, o que vemos é uma aventura alicerçada na ação, mas que não consegue envolver muito, devido à narração que soa repetitiva (sem maiores detalhes para evitar spoilers), isso é algo que dura até aproximadamente a página 150. Após esta fase, começamos a perceber uma evolução na escrita da autora e uma alteração no foco da história. O que antes era uma narração de ação, passa a ser uma série de explanações acerca do contexto político do mundo imaginado por Trudi Canavan.

A segunda parte do livro é o que realmente começa a fazer a leitura da obra valer a pena, portanto, caros leitores, lembre-se que após um caminho difícil em “O Clã dos Magos” há algo digno de ser contemplado. Muitos personagens são bastante dúbios, o que instiga o leitor a desbravar as informações e refletir, além de que, apesar da narração ser em terceira pessoa, algumas vezes ganha os contornos particulares dos sentimentos de um personagem, o que nos faz tentar querer saber o que é fato e o que é boato. Como muitas vezes, em nossa própria vida, muitos fatos não se apresentam como eles são em si, mas como chegam até a nossa mente. Quase como aquela brincadeira chamada “Telefone sem fio”.

Os enfoques nesse primeiro livro da trilogia são: as relações de poder no mundo concebido pela autora, um grande mistério que é comentado somente em dois momentos do livro, coisa que não torna a obra vaga e acaba fazendo sentido, dada a condição em que a garota começa a viver, e o papel que Sonea, dotada de um imenso poder, terá dentro d’O Clã. Leitores mais habituados a mundos de fantasia em que tudo é muito evidente, batalhas épicas, por exemplo, com certeza vão achar o livro entediante, mas ressalto aqui o fato que se trata do primeiro livro de uma trilogia, uma introdução. O grande mistério, que mencionei no início deste parágrafo é o termino perfeito e deixa a promessa de que o segundo livro será aquele em que tudo realmente começa a ferver e poderemos apreciar personagens mais consistentes com conflitos maiores. Como o livro cumpre o seu papel de situar o leitor em um mundo novo, mas não chega exatamente a fascinar, vou conceder três selos cabulosos para o livro. Abraços!

NOTA: