Título original: Apt Pupil
Gênero: Drama / Thriller
Duração: 111 min
Ano de lançamento: 1998
Direção: Bryan Singer
Roteiro: Brandon Boyce
Produção: Jane Hamsher, Don Murphy e Bryan Singer
Orçamento: 14 milhões de dólares
Elenco: Brad Renfro (Tood Bowden); Ian McKellen (Kurt Dussander); Joshua Jackson (Joey); Ann Dowd (Monica Bowden); Bruce Davison (Richard Bowden); James Caren (Victor Bowden); Marjorie Lovett (Agnes Bowden); Heather McComb (Becky Trask); David Schwimmer (Eduard French); Elias Koteas (Archie); Michael Byrne (Ben Kramer); Jan Triska (Isaac Weiskopf); Joe Morton (Dan Richler); Michael Artura (Detetive Getty); Mark Flythe (Darren).
IMDB:http://www.imdb.com/title/tt0118636/
Análise:
Saudações, leitores! Hoje falarei sobre o filme “O Aprendiz” (Inspirado no conto “Verão da Corrupção”, presente no livro “Quatro Estações”). Este não é uma história de terror, gênero que consagrou o mestre Stephen King entre o público que o conhece com menos afinco que seus fiéis leitores e que até mesmo dentre seus leitores mais vorazes foi a primeira experiência. Histórias que diferem do terror não são incomuns no multi-verso de King e até mesmo as narrações esculpidas com traços explícitos de terror nunca se contentam em ficarem presas em páginas que já nos fizeram desconfiar de palhaços, gentis vendedores que oferecem coisas muito desejadas em troca de pequenos favores ou soldadinhos feitos de plástico verde, mesmo essas histórias que frequentemente causam longos arrepios falam de algo além do susto, elas falam sobre amizade, ganância inconsequente e retribuição ou punição, chame como quiser.
Sendo assim, preparem-se para conhecer O Aprendiz!
O filme começa em uma sala de aula onde um professor levanta o seguinte questionamento: “O que levou algumas pessoas a fazerem o que fizeram e outras a não fazerem absolutamente nada?” Essa é uma pergunta muito oportuna sabendo que ao longo da sua obra Steven, depois de tantos anos como leitor fiel já sinto intimidade suficiente para chama-lo assim, a suscita inúmeras vezes, colocando pessoas comuns em condições atípicas. Isso reforça a concepção de que o terror em King é um canal utilizado para gerar cada palavra nas folhas em branco, ou seja, o terror é como a luz de nossos quartos que nos possibilita ler sem agredir nossa visão.
Nesta sala de aula está o personagem que acompanhamos de mãos dadas nessa jornada, um jovem com inteligência aguçada chamado Todd Bowden. O jovem, cuja curiosidade acerca do período em que a Alemanha esteve sob o jugo do regime nazista, em seus estudos acha fotos de um membro do regime que, conclui ele, trata-se de um vizinho seu. Então coleta dados suficientes até que consegue provas substancias que confirmam suas dúvidas.
Todd chantageia o velho senhor Dussander, ameaçando entregar-lhe à policia caso se recusasse a lhe contar tudo que viveu durante o tempo em que serviu ao exército alemão nacionalista. O jovem demonstra evidente e grande desejo em saber os mínimos detalhes de cada atrocidade perpetrada pelos nazistas e quais foram os sentimentos que o velho soldado nutriu, Kurt Dussander não se opõe ao apetite doentio do garoto e lhe descreve os cada nuance do que habitou seu coração nesses dias de trevas. A curiosidade do menino é dúbia, ora mórbida e fruto de uma mente psicótica ora algo natural para um adolescente que almeja atingir terrenos além das fronteiras escolares. Saber mais!
Como consequência de sua curiosidade o garoto passa a ter alucinações e noites sequenciais em branco, todavia a razão, a faísca que acende este pavio, desses malefícios não fica ainda perceptível. Estaria impressionado pelas barbáries ouvidas e reproduzidas em sua mente nas horas de solidão ou começou a pesar sobre seus ombros uma culpa pelo deleite malsão que sentia em resgatar do passado as memórias calejadas de um velho maculado por uma vida pregressa que gostaria de esquecer e deixar enterrada em seu quintal.
Com toda a pressão exercida pelo garoto o ex-nazista vai progressivamente reincorporando o papel, persona, do jovem ceifador que foi um dia, chegando a sair um pouco do controle daquele que se assume como seu regente (Todd Bowden). Amedrontando-o.
O menino acaba tendo problemas na escola e suas notas caem e Dussander é assumido como culpado por ele, visto que as noites insones o estavam fazendo adormecer em sala de aula. A aproximação entre ambos fica ainda maior e mais forte após Dussander ajudá-lo com isto passando-se por seu avô em uma reunião na escola e começar a auxilia-lo com os estudos, aumentando suas notas.
A relação que em principio tinha o jovem como agente dominante inverte-se ou pelo menos se equilibra quando o velho declara que redigiu algumas folhas, guardadas no cofre de um banco, em que conta todo o seu envolvimento com o menino desde o primeiro dia. Aquele que pensava ser o caçador acaba se nivelando com sua presa. Porém como alguns podem concluir, somando os fatos apresentados, Dussander não quer afastar o seu pupilo, mas somente sair dessa posição de presa. Seria isto um resquício do instinto adquirido quando ainda era um nazista?
Durante algum tempo as coisas transcorrem com tranquilidade até o momento em que Dussander encontra-se com um mendigo que se oferece agressivamente para ajudá-lo a carregar suas compras. Esse mesmo mendigo o havia visto na janela de sua casa em uma noite anterior quando estava vestido com o uniforme do exército nazista que Todd comprou em uma loja de fantasias. Considerando que o mendigo pretendia também chantageá-lo de alguma forma o convida para jantar. A cena que se segue é executada com belíssima maestria. Enquanto o incauto morador de rua está sentado à mesa de jantar podemos ouvir ao fundo uma música erudita que contrasta com o ambiente sujo e descuidado da casa, um contraste tão saboroso de se provar quanto o conflito estabelecido de doce e salgado em nossos paladares (sim, eu adoro misturar doce e salgado rsrsrs). O ex-nazista então desfere um ataque com uma faca, cravando-a, nas costas do seu convidado para a refeição. Depois de um curto embate joga-o no porão. Local onde o filme terá uma de suas cenas mais fortes. Sem dúvida alguma o elenco todo caprichou em sua atuação!
A partir deste ponto o filme assume seus instantes de maior tensão, fica no exato ponto em que cada fibra de uma corda começa a se romper e nós ficamos na expectativa, roendo as unhas. Um segredo fundamental é revelado, uma informação que alteraria o resultado da trama, uma decisão que conduz para um evento imprevisível é tomada e o verdadeiro caráter, ou o que foi engendrado depois de todos esses eventos , de Todd Bowden é revelado. Todo o filme nos mantém presos com os olhos na televisão, não há como interromper seu curso ao longo de quase duas horas. Esse foi um dos filmes que me fez querer ver os créditos, como numa última tentativa de prolongar ainda mais aquele espaço de tempo em que filme e espectador se mesclam. A fotografia escura, casando perfeitamente com o enredo, encanta e a atuação do elenco, vale chamar a atenção para Ian McKellen e Brad Renfro, transpira talento. A expressividade está em cada detalhe das cenas, tudo colabora para ampliar a excelência dessa obra. Deixo um conselho para vocês: fiquem atentos ao discurso de formatura de Todd Bowden e a potência na sua voz e olhar que em foco dispensa a necessidade do resto do corpo para interpretar. Isso me fez pensar o seguinte: para saber se um ator é realmente bom diga-o para interpretar somente com os olhos, afinal uma arte que visa trabalhar moldando a alma humana deveria começar por suas janelas. Por último deixo uma pergunta para vocês:
Por que vocês fazem o que fazem?
NOTA: