Comecei a ler Desespero sem ter a mínima ideia do que viria pela frente. Me surpreendi quando, ao terminar, me toquei que tinha acabado de ler o livro mais religioso de King até agora (não li todos).
Nele, a questão de Deus, como ele age, ajuda, ama e é cruel está presente cada vez mais, conforme avançamos as páginas. É bem mais forte do que em A Dança da Morte, onde Abagail, uma das personagens, precisa ouvir a voz de Deus para tomar as atitudes corretas.
Desespero não é somente o sentimento constante no livro, mas o nome de uma cidade (imagina). A cidade está próxima à Rodovia 50, conhecida como a rodovia mais deserta dos Estados Unidos.
Nela, viajam Peter e Mary que estão em férias. Acabaram de visitar a irmã de Peter e agora viajam pela rodovia 50 onde a paisagem é o deserto e a companhia são os rolos de palha pelo caminho. Deparam-se então com mais uma companhia inusitada e um tanto assustadora. É um policial. Ele pede para que Peter encoste. Essa cena é carregada de suspense, daquelas que nos deixa tensa. King trabalhou muito bem nela. O policial tem quase dois metros de altura e eles sentem medo dele. Não medo de uma multa, mas de que ele simplesmente peça a Peter para descer do carro, o mate e depois estupre sua mulher. Porém, eles acabam rindo de si mesmos com a grande paranóia até que o policial encontra algo no carro dos dois, algo que não era pra estar lá. Um pacote de drogas. Cortesia da irmã de Peter. Foram presos e agora o policial é realmente assustador.
— Vocês têm o direito de permanecer em silêncio – disse o policial grandão com voz de robô – Se preferirem não permanecer em silêncio, tudo o que disserem pode ser usado contra vocês numa corte de justiça. Têm direito a um advogado. Eu vou matar vocês. Se não puderem pagar um advogado, um lhes será proporcionado. Compreendem seus direitos, como expliquei?
Em seguida, a família Carver que também viajava de férias, têm os quatro pneus do trailer furados e um policial enorme aparece para ajudar e os leva gentilmente para a cidade mais próxima.
— É mesmo? – disse Ralph – Uau. Quantos policiais vocês têm num lugarzinho deste, seu guarda?
— Bem, tinha mais dois – disse o tira, o sorriso na voz mais óbvio que nunca – mas eu matei.
A personagem principal do livro é David, filho de Ralph Carver. É ele que tem o contato com Deus, é por causa dele que conseguem escapar da prisão. Ele é o maldito menino rezador.
— Está pensando em Deus? – perguntou o policial – Não se dê ao trabalho. Aqui, o território de Deus termina em Indian Springs, e até mesmo o Senhor Satanás não põe os pés muito ao norte de Tonopah. Não tem Deus em Desespero, bebezinho. Aqui só existe can de lach.
[…]
As vozes deles eram distantes agora, fugindo, mas antes que desaparecessem inteiramente, ouviu seu pai dizer:
— Desmaiando, não. Rezando.
Não tem Deus em Desespero? Bem, vamos ver.
Tudo gira em volta de David e no que Deus pede a ele para fazer. A súbita loucura de Collie se deve a algo desenterrado na Mina do China. Algo que já foi descoberto e causou muitas outras mortes. Algo que deveria ter se mantido enterrado.
O livro não me causou medo, mas o suspense me deixou tensa várias vezes. Como eu disse, King trata da crença em Deus como algo essencial para a sobrevivência. Isso não me incomodou. Ele não fala de pecados e obrigações, constantes nas religiões. Denota a parte que somente crer e ter fé é o suficiente. Me perguntei se caso algum ateu o lesse isso não se tornaria enfadonho.
Há uma citação dos tommyknockers e quem leu Os Estranhos vai ver certa semelhança com o que aconteceu em Haven. Citações de A Torre Negra também estão presentes, mas não vou citá-las, porque ainda não li a série.
O final denota fortemente a questão mostrada no livro: Deus é cruel. Mas de qualquer forma, ele também é amor.
Leiam e tirem suas próprias conclusões.
Ficha Técnica:
Autor: Stephen King
Origem: Estrangeira
Título original: Desperation
Ano: 2001
ISBN: 978-85-8105-004-1
Número de páginas: 385