Editora: Record
Origem: Americana
Ano: 2010
Edição: 1ª
Número de páginas: 384
Sinopse: Nesta obra, Amy Redwing é responsável por uma organização que resgata golden retrievers abandonados ou em perigo.
Brian McCarthy, seu namorado, é um arquiteto que, nas horas vagas, ajuda a namorada em suas missões.
Quando Nickie, uma cadela salva por Amy entra na vida do casal, uma série de estranhos acontecimentos tem início.
Amy suspeita de que há algo de sobrenatural envolvendo Nickie, mas não imagina a perigosa trama em que ela e Brian estão envolvidos.
Análise:
“Um excesso de cães continua sofrendo maus-tratos e sendo abandonados – um já é demais -, e as pessoas continuam matando as outras por dinheiro, inveja e por razão nenhuma. Os maus têm sucesso e os bons fracassam, mas este não é o fim da história. Milagres que ninguém vê acontecem e entre nós andam heróis nunca reconhecidos, e pessoas vivem na solidão por não conseguirem acreditar que são amadas […]”
—Pág. 381.
A obra resenhada hoje é de um autor que já conheço há alguns anos, porém em 2012 ainda não li algum de seus livros e como recentemente um vizinho meu adquiriu alguns livros dele, resolvi revisitar o escritor e conferir algum de seus trabalhos que não receberam a minha apreciação. O escolhido foi “A Noite Mais Escura do Ano” e este foi um daqueles livros que me atraiu por um motivo que não sei bem explicar. A sua capa cheia de folhas secas que remetiam a pensamentos sobre o outono e decadência me deixou curioso demais e o seu enredo, comentado na sinopse, instigou ainda mais o meu desejo de leitor e até mesmo contestador, pois, apesar de não levantar a bandeira de qualquer crença religiosa, sou uma pessoa aberta ao debate de qualquer teoria e qualquer mistério me intriga assim como o homem de ciência busca com afinco elucidar um dado ou o religioso procura adentrar nos mistérios de sua fé.
Provavelmente alguns entre vocês, caros leitores, possam estar se perguntando: “Mas onde fé e religião entram nesse livro? Só porque tem sobrenatural no meio, fé e religião precisam ser mencionadas?” O que acontece é o seguinte: o livro acaba envolvendo alguns personagens em um mistério com marcas que estão além dos métodos de compreensão convencionais para eles e fenômenos que fogem da lógica a que estamos tão habituados saltam das páginas para os nossos olhos e como toda a leitura que nos prende, somo levados a refletir sobre o que ocorre e talvez mexer em algumas das raízes que nos mantém presos a vida e todos os elementos que a integram. O que tornou a obra de Dean Koontz nem um pouco cansativa é que ele não usa uma linguagem doutrinária ou torno o sobrenatural o componente mais importante do livro.
Agora devo ter criado uma incógnita na mente de alguns leitores, visto que o elemento que parecia ser o foco do livro foi colocado como um pano de fundo, e agora, o que é o “motor” da trama? A história basicamente se desenvolve ao redor da ideia do amor como uma força construtiva, uma força capaz de reestabelecer laços, curar feridas que estão além do alcance dos remédios comuns, ou seja, que precisam de coisas capazes de atingir o nosso cerne, nossos sentimentos e pensamentos, e esse amor fica evidenciado na figura dos cães que Amy e seu namorado, Brian, cuidam com tanto esmero, abrindo mão constantemente de quantias muito significativas de dinheiro e tempo de suas vidas, porém para eles isso é encarado como uma missão de vida, algo que por si só justifica cada segundo de suas existências, isso é ainda mais claro com Amy.
O passado de todos os personagens é algo sombrio, não no sentido de guardar informações que poderiam comprometer as suas vidas, ao menos em alguns casos, mas no sentido de que guardam e tentam sempre velar fatos dos quais não se orgulham ou que poderiam fazer com que pessoas amadas se afastassem. O suspense sobre quais seriam estes segredos é alimentado com pequenas pistas que formam somente silhuetas que atiçam ainda mais a imaginação e lentamente, com calma suficiente para que o leitor digira tudo, Dean vai removendo o véu do passado de seus personagens.
Os eventos paranormais do livro tem como ponto de partida a cadela Nickie. Uma dócil e espetacularmente inteligente golden retriever. Ela demonstra possuir o dom de compreender acima da média dos cães o mundo que a cerca, assim como as pessoas, e seus olhos, cativantes como a mais bela escultura ou pintura, parecem fazer as pessoas mergulharem em um mar de paz absoluta quando são dotadas de uma índole que normalmente classificamos como boa, mas se a pessoa carrega dentro de si uma mácula voluntária, nutre seu prazer com sofrimento alheio, os olhos de Nickie são como sentir a morte no seu encalço e o terror é a única resposta possível.
Dean Koontz conseguiu ilustrar a figura do cão com uma sensibilidade belíssima, algo que somente quem ama também estes animais pode compreender totalmente, pois os cães além de símbolos, desde tempos antigos, de proteção dos lares, são também representas ótimos do que é lealdade, sinceridade, empatia, enfim, amor incondicional! Diante de algo tão nobre, não consigo compreender a maldade humana e o egoísmo se torna um gesto ainda mais baixo, pois se um animal consegue se doar tanto a outra pessoa, porque alguns de nós, seres que se proclamam o alto da cadeia evolutiva, às vezes agimos com veneno transbordando de nossas bocas? Isso faz repensar o que vem a ser “racional” e o que a “evolução” simboliza em um mundo que usamos nosso conhecimento mais para matar do que para tornar o mundo melhor. Penso que poderíamos aprender mais com os animais.
Em “A Noite Mais Escura do Ano” o mal é absurdamente cruel, revoltante mesmo sendo uma ficção, seus atos são movidos por um capricho e não há obstáculos que possam fazer o seu ímpeto em devorar a inocência e ceifar vidas cessar. Com essa fórmula está estruturada uma clássica batalha entre o bem e o mal, mas não há clichês em como os eventos são narrados, isso é o que tornou essa leitura tão boa. Há o uso de arquétipos populares, mas o manuseio dessas ideias é que deixou o livro atraente. Como muitos amigos já comentaram: o uso de clichês não é um problema, mas o modo como você os movimenta pela trama é o cerne que determina se o seu trabalho é bom ou ruim.
Diversos personagens são usados nos capítulos, mas a narração é toda em terceira pessoa. Os capítulos curtos fazem a leitura avançar a largos passos e o futuro de alguns personagens secundários é imprevisível, pois Dean não deixa claro quais são aqueles que vamos acompanhar ao longo do livro e quais irão se retirar antes do desfecho. Sou um leitor que às vezes cria afeto mais pelos personagens secundários do que pelos principais e nesse livro, se pudesse voltar no tempo, daria alguns conselhos a mim mesmo. Querem saber que conselhos seriam estes? Pois não direi, quero que a curiosidade de vocês fique em alta! Leiam este livro também e depois retornem aqui para dizer o que acharam. Dean Koontz me surpreendeu com essa obra. Ela é muito distinta de seus livros anteriores, mas obviamente o talento não diminui com essa alteração de estilo. Abraços a todos! Até outro momento! Boa leitura a todos!
Concedo quatro selos cabulosos para o livro.
NOTA: