RESENHA: “DISTÚRBIO” DA VALENTINA SILVA FERREIRA

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Um livro sobre o qual ouvi muito falar, tanto pelo tema, quanto pelo talento da autora.

Li o livro em dois dias e acho que poderia ter lido mais rápido, se não fosse o peso que ele carrega. Algumas vezes tinha de parar de ler um pouco e durante o dia me senti triste e desanimada e só mais tarde percebia que era por causa do livro.

Em Distúrbio conhecemos Rossana. Ela é a filha mais velha de uma família rica e bem sucedida. É uma menina maravilhosamente linda. E em todos esses aspectos, tinha tudo para ser feliz.

Mas não é isso que acontece.

Perpétua, a mãe de Rossana é uma mulher egoísta que tem inveja da filha. Ela sempre quis ser modelo, mas nunca teve a beleza para tal. O máximo que conseguiu foi ser uma dançarina em uma boate na cidade, onde realizava o desejo dos homens, para desgosto de seus pais.

Foi nesse lugar que conheceu seu marido, Carlos. É um homem escroto e de baixa estima, que compensa a mesma pagando as mulheres para satisfazê-lo.

Rossana então é forçada pela mãe desde pequena a ser modelo. Ela deseja que a filha seja o que ela não conseguiu ser.

Isso é um absurdo, mas infelizmente existe muito. Quantas mães não obrigam as filhas e filhos a praticarem certos esportes que gostariam de ter praticado na infância e não puderam e/ou não conseguiram? Quantos obrigam as crianças em cursos que não as agradam porque acham bonito e chique, e que ela, a mãe ou o pai, com certeza gostariam de ter feito naquela idade.

É uma coisa para se pensar. O limite que os pais ultrapassam na tentativa de moldar o caráter, o gosto e a profissão de seus filhos.

Rossana é obrigada a fazer exercícios diários, a comer pouco e a usar roupas apertadas e sensuais desde muito pequena.

Ela tem irmãos, as gêmeas Petra e Lara e o pequeno Leonardo, mas nenhum deles tem a sua beleza então não tem as obrigações e podem brincar e comer o que quiserem. Rossana com o tempo deseja ser normal como eles, para poder ser criança.

Imagens no verso da capa

É revoltante o fato de que ninguém faz nada. Em casa, o pai de Rossana não participa da vida dos filhos e quando participa, piora a situação. Na escola, as pessoas vêem que Rossana sofre, desconfiam dos maus tratos, mas fica só nisso. Com o passar do tempo, a própria Rossana percebe que a vida dela não é boa, as coisas a que é submetida são ruins, mas nem ela toma uma atitude. Isso me deu ódio em muitas vezes. De ninguém fazer nada, ninguém ver nada. Da própria Rossana não jogar tudo pro alto e fugir ou qualquer outra coisa. Você fica torcendo para alguém fazer uma coisa, qualquer coisa.

Às vezes aparece um personagem que é bom e tem o intuito de ajudar, mas sempre fica por isso mesmo. Infelizmente, as coisas só pioram para o lado de Rossana e o final é um exemplo disso.

Eu gostei bastante do livro por causa da emoção que ele me causou: raiva, revolta, tristeza. É desolador ver uma criança passar pelo que Rossana passa. É revoltante você ver as pessoas ao seu redor não tomarem uma atitude.

Devemos nos lembrar que existem por aí muitas Rossanas, Perpétuas e Carlos. Eles podem ser nossos amigos de trabalho, escola e até mesmo nossos vizinhos. E talvez, nós podemos ser iguais as pessoas que vêem a situação da criança e não fazem nada para mudá-la.

Um livro com uma história triste – em mim chegou a ser até deprimente – que vale a pena ser lido. Ele nos passa certas lições, ele nos abre os olhos para algo que está por aí, mas não faz muita diferença, porque já é comum.

Torço sinceramente que a história de Distúrbio seja somente uma história, mas, infelizmente, sei que isso não é verdade.

A Valentina é portuguesa, então o livro tem esse idioma, porém não atrapalha em nada a leitura. Muitas coisas são diferentes, palavras que não usamos ou não costumamos usar, mas a Estronho nos ajuda com notas no rodapé explicando o significado de cada palavra. E, não sei vocês, mas eu considero o português de Portugal mais bonito e isso dá outra cara ao texto.

Booktrailer:

NOTA:

Ficha Técnica:
Editora: Estronho
Autor: Valentina Silva Ferreira
Origem: Portuguesa
Ano: 2011
ISBN: 978-85-64590-11-3
Número de páginas: 200
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