Editora: Estronho
Autor: Vários autores
Origem: Brasileira
Ano: 2011
Edição: 1
Número de páginas: 208
Acabamento: Brochura
Sinopse: Os calendários são simplesmente ignorados por aqueles que combatem pelo bem ou pelo mal, numa guerra sem vencedores. As grandes batalhas distribuem louros entres os dois lados, em uma dança milimétrica da balança. Mas esse equilíbrio esteve ameaçado em uma época em que a elegância do vestuário das senhoras e cavalheiros convivia, não sem uma ponta de contradição, com o peso e a estranheza dos acessórios e equipamentos utilizados por uma civilização que começava a descobrir as maravilhas da tecnologia.
Anjos e demônios escolheram aquele tempo, utilizando-se de todos os artifícios, armamentos e equipamentos possíveis, e encenaram algumas das mais terríveis batalhas de que a humanidade já presenciou. De conflitos e duelos isolados a confrontos sangrentos entre os exércitos das trevas e da luz.
Onde comprar: Editora Estronho.
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O fascínio pelo progresso tecnológico e por tudo que o Homem alcançou, contudo, convive com uma ignorada, mas constante degradação ambiental, profundas diferenças sociais e com a iminência da desgraça que vai se tornando cada vez mais difícil de ser evitada.
Uma Distopia travestida de Utopia, a sociedade retratada no gênero SteamPunk é uma caricatura do mundo em que vivemos, onde a tecnologia convive grotesca e intrusivamente com os interesses sociais, interrompendo a passagem com os trilhos de um progresso desmedido e tortuoso, mal planejado e orientado por motivações que têm muito menos relação com as necessidades humanas que com interesses corporativos.
A origem do termo SteamPunk é recente, tendo surgido em meados da década de 80, quando Kevin Wayne Jeter tentava rotular seus trabalhos e os de seus colegas escritores, Tim Powers e James Blaylock, que escreveram uma série de romances entre 1979 e 1986 cuja característica mais marcante eram as histórias de Ficção Científica passada na época Vitoriana, com tecnologia “retrô” e claras influências em clássicos da literatura de Ficção Científica.
Constantes inspirações no gênero SteamPunk, os romances de Ficção Científica do século XIX, como “20.000 Léguas Submarinas” e “Da Terra à Lua”, de Julio Verne; “A Máquina do Tempo” e “Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells; “Frankenstein”, de Mary Shelley; e “A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court”, de Mark Twain, não escapam, hoje, de ser associados ao novo gênero.
Esta resignificação dos subgêneros da Ficção Científica se estende a várias medias, incluindo o Cinema e, quem aprecia a cultura SteamPunk, começa a identificar a estética do novo gênero – seja ela intencional ou não – em filmes como “Metropolis”, “1984″, “Brazil – o Filme”, “Delicatessen”, “Jovem Sherlock Holmes”, “De Volta para o Futuro”, “A Cidade das Crianças Perdidas”, “As Aventuras do Barão de Munchausen”, “Wild Wild West”, “Pacto dos Lobos”, “SteamBoy”, “O Cavaleiro sem Cabeça”, “Liga Extraordinária”, “Van Helsing”, “Hellboy”, “O Grande Truque”, “A Bússola Dourada” e tantos outros.
Tal é a popularidade da cultura SteamPunk que é possível identificar e classificar diferentes sub-categorias, determinadas a produção de subjetividade que façam diferentes cortes do gênero, sejam eles Históricos, e que façam uso de personagens, locações e fatos – fictícios ou não – que tiveram lugar no passado; de Fantasia, que se passem em realidades completamente alternativas ou em um futuro norteado pelo desenvolvimento da cultura SteamPunk; ou Variantes do Conceito, que misturam gêneros, tempos, personagens, alienígenas e planetas de forma a torná-los peças que tenham como fim contar uma história sem compromisso com linhas de tempo ou com abordagens clássicas.
Com sua estética por vezes bela, por vezes inusitada e por vezes grotesca, o SteamPunk conquistou o público Goth, Cyber, Industrial e Punk sem dificuldade, bem como todos os que apreciam a riqueza de detalhes que é fruto da colisão entre a tecnologia moderna e os recursos e a estética Vitoriana, repleta de Bronze, Couro, Cobre, Pano, Vapor e Eletricidade.
O que é Deus Ex Machina?
A expressão é usada hoje para indicar um desenvolvimento de uma história que não leva em consideração sua lógica interna e é tão inverossímil que permite ao autor terminá-la com uma situação improvável, porém mais palatável. Em termos modernos, Deus ex machina também pode descrever uma pessoa ou uma coisa que de repente aparece e resolve uma dificuldade aparentemente insolúvel. Enquanto que em uma narrativa isso pode parecer insatisfatório, na vida real este tipo de figura pode ser bem-vindo e heroico.
A noção de Deus ex machina também pode ser aplicada a uma revelação dentro de uma história vivida por um personagem, que envolva realizações pessoais complicadas, às vezes perigosas ou mundanas e, porventura, sequência de eventos aparentemente não relacionados que conduzem ao ponto da história em que tudo é conectado por algum conceito profundo. Essa intervenção inesperada e oportuna visa a dar sentido à história no lugar de um evento mais concreto na trama.
A tragédia grega de Eurípides era notória em usar este dispositivo na trama.
Saudações em meio à uma nuvem de vapor! Estranharam o meu cumprimento? Okay, admito que ele foi um pouco diferente do habitual, mas isso não é algo para se estranhar, pois tem tudo a ver com o livro em questão! Afinal, minha resenha de hoje é sobre um livro que reúne diversos contos do gênero steampunk! Esta foi a minha primeira incursão pelo estilo, apesar de já ter lido inúmeros comentários sobre ele, e posso afirmar com firmeza na voz: foi demais! Os textos anteriores à minha resenha foram inserido neste post com a finalidade de situar dentro do tema aqueles que desconhecem a esse “molde” da ficção cientifica, que está em alta, ou possuem um conhecimento mínimo. Agora que vocês já estão mais por dento do assunto, acompanhem-me pelos pensamentos que tive ao longo de minha jornada por “Deus Ex Machina – Anjos e Demônios Na Era do Vapor”. Tenham cuidado com o vapor das máquinas, ele pode derreter suas peles.
A proposta desta antologia da Estronho, conforme a sinopse na contracapa, é passar ao leitor relatos (histórias) acerca de embates entre forças opostas, nesse caso os símbolos usados são os anjos e os demônios, representantes maiores da luz e das trevas. Entretanto as luzes e trevas dos contos deste livro não se prendem ao óbvio, conceitos religiosos etc, mas são metáforas para as aspirações e sentimentos mais nobres que os seres humanos podem ter em oposição com seus instintos mais vis e traiçoeiros.
O cenário escolhida não é à toa, cada elemento foi evidentemente pensando com o objetivo de reforçar o conceito por trás dos contos. A bela época do surgimento do vapor trouxe as maravilhosas máquinas que tanto impulsionaram o desenvolvimento da sociedade, contudo a humanidade, como podemos notar ao longo de sua trajetória, nunca parece satisfeita com o seu atual estado de graça e sempre está cobiçosa de mais e mais. Isto, como é de se esperar, traz efeitos nocivos e o mesmo vapor que traz bonança, alimenta a tempestade é a partir desta perspectiva que os diversos autores presentes nesta obra escreveram seus excelentes contos.
As histórias variam bastante em seu foco, algumas possuem muitos personagens e oscilam na linha do tempo, enquanto outras optam por uma narrativa mais introvertida, entretanto todas se mantém sobre a mesma base e não fogem da proposta da antologia. Os questionamentos suscitados vão desde a “ética da guerra” até pensamentos acerca do valor que damos para a “evolução tecnológica”. É fabuloso como os autores conseguem tornar verossímeis seus personagens angelicais ou demoníacos, apesar de alguns contos focarem mais em humanos, revestindo-os com uma “pele” humana e fazendo com o que leitor se veja naqueles personagens e reconheça os seus pensamentos como coisas que um dia talvez já estiveram rondando suas mentes.
Alguns contos usam cenários estrangeiros, mas não se tornam menos merecedores de elogios somente por este fator, enquanto outros optam por uma estética mais brasileira e confesso que particularmente gostei mais destes. O motivo para este pequeno detalhe em minha jornada é porque valorizo demais o esforço de autores em produzir enredos dos mais diversos estilos sem negar as suas raízes culturais e ainda prestando uma simbólica homenagem à mitologia e cultura brasileira (a nossa verdadeira cultura e não aquelas canções acéfalas), mais uma vez destaco: os demais contos são excelentes também e não merecem aplausos menores por escolherem uma vestimenta diferente. O meu julgamento aqui é uma preferência pessoal, provavelmente muitos dentre vocês pensam bastante diferente de mim e terão uma leitura distinta da obra.
Para garantir que os leitores mergulhem de cabeça na atmosfera da antologia a Estronho trabalhou cada detalhe neste livro, assim como costuma fazer em todas as suas publicações, e até mesmo a forma de apresentar os autores foi diferente da maneira como já vi em livros que li anteriormente. Os autores são apresentados como “operários”, pois que melhor figura há do que um operário para nos apresentar um mundo movido à vapor?
As artes internas do livro nos conduzem através das páginas perfeitamente, como se estivemos em um trem mesmo, inclusive um detalhe curioso é que a primeira ilustração é justamente um trem parado e a última é a visão de um trem em movimento (quem sabe chegando a uma estação). A perspectiva desta última foto é aparentemente a do maquinista e as bordas escuras da fotografia me fez pensar que ou o “maquinista” observa por uma janela ou ele está fechando os olhos. Seja qual for a interpretação que você tenha, achei fantástico tamanho detalhismos no livro, pois caso a escuridão nas bordas da foto seja uma janela podemos interpretar que este livro foi o que muitos são: uma janela pela qual vislumbramos um mundo fantástico onde o que reside em nossas mentes férteis caminha lado a lado conosco. Caso a escuridão seja olhos que só fecham são símbolos que refletem o nosso derradeiro gesto de leitor e que às vezes nos traz fortes sentimentos de saudade: fechar o livro! Não há como dar outra nota…cinco selos cabulosos!