RESENHA: “O DELATOR” DA TESS GERRITSEN

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Capa
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Editora: Harlequin Books
Autor: Tess Gerritsen
Origem: Americana
Ano: 2011
Edição: 1
Número de páginas: 320
Sinopse: Em uma noite chuvosa, no meio da estrada, um estranho fugindo de assassinos surge bem na frente do carro de Cathy Weaver. O comportamento delirante de Victor Holland dava a entender que se tratava de um homem à beira da loucura. Mas sua afirmação de que estava sendo perseguido poderia ser atestada pelo temor no olhar e pela bala cravada no ombro. À medida que as horas passam e os perseguidores se aproximam, Cathy não consegue evitar um único pensamento: ela estaria ajudando uma pessoa em perigo ou colocando sua vida nas mãos de um homem perigoso?

Análise:

 

O delator foi um dos primeiros livros de Tess Gerritsen. Nessa fase inicial da autora as histórias românticas que se fundem ao elemento suspense/policial, marca que se acentuaria em suas futuras publicações, foram dominantes. O seu enredo tem alicerces que poderiam ser tranquilamente comparados a um filme de Hitchcock e simultaneamente aos melhores filmes românticos.
A autora se detém em diversas partes numa descrição minuciosa dos sentimentos entre Cathy e Victor que se desenvolvem em uma atmosfera de perigo e paranoia. A narração é tecida com uma habilidade que já anunciava a capacidade que a escritora poderia atingir. Todo o conteúdo afetivo que é transmitido pelos personagens ao leitor não é, em momento algum, entediante. Toda a linguagem sentimental é dosada com parcimônia e inserida em momentos apropriados.
Os leitores de Tess Gerritsen no Brasil que já a conheceram em sua atual fase podem começar a leitura sem qualquer temor de que ao termino do livro possam ter uma decepção. Costuma-se imaginar que um escritor em seu começo de carreira seja mais desleixado ou dotado de um estilo menos atrativo, todavia não é o que ocorre com Tess. Obviamente seu estilo de escrita está muito diferente, contudo isso não diminui a qualidade de seu trabalho.
Algumas das marcas que diferencia “O Delator” dos demais livros que já li dela é a caracterização de suas personagens femininas e a maneira de desenvolver a trama. Enquanto nos livros policiais as mulheres são construídas como seres de personalidade muito fortes, dotados de independência e que ofuscam muitas vezes a participação dos homens nos eventos narrados, em “O Delator” o foco oscila entre personagens que complementam a trama (coadjuvantes) e o casal romântico (protagonistas). Outra singularidade, como citei no início deste parágrafo, fica por conta do modo usado para fluir a trama. Em todos os livros que li da autora o mistério principal é experimentado em uma pequena dose nas primeiras páginas do livro, uma curta cena geralmente e que costuma se encaixar no contexto geral próximo do fim da obra, para depois desacelerarmos e irmos retomando a velocidade novamente até atingirmos o clímax, entretanto neste livro seguimos uma rota mais linear, indo da ignorância absoluta ao que está escondido no cerne do romance para a sua solução ou esclarecimento. Aliás, gostaria de deixar uma dica aqui, não leiam a orelha do livro, pois eventos que só são explicados depois da página 100 são revelados sem o menor respeito ao leitor. Acho que quando alguém se propõe a apresentar seja uma resenha ou um comentário mais simples sobre um livro deve ter muito cuidado com o que revela por meio de suas palavras, uma palavra fora do lugar pode acarretar infortúnio.
Victor representa toda a segurança que Cathy busca na vida, apesar dele estar fugindo de algo que ela desconhece, a segurança que ele transmite no olhar e em suas atitudes são dignas dos grandes galãs-heróis. Todavia essa figura de imponência não é inabalável como o célebre senhor Bond ou o herói de ação Rambo. Sua vulnerabilidade lhe concede um aspecto real e faz o leitor se sentir na companhia de alguém que realmente poderia existir e não de um claro produto de ficção. Já Cathy é uma mulher frágil, fato representado em seu corpo magro, baixa estatura, falta de perspectivas para a sua vida amorosa e casamento falido. Cathy não é o tipo de heroína ou mocinha que a todo tempo está exaltando a sua paixão de forma exacerbada como uma adolescente costuma fazer. Ambos possuem características que acabam transformando-os em um casal agradável de acompanhar. Houve instantes em que torci mesmo para a união deles e olhem que não costumo agir assim, exceto quando uma história consegue me capturar verdadeiramente.
O texto de “O Delator” é tão natural que até mesmo os leitores que costumam prolongar o seu deleite não conseguirão resistir a avançar cada vez mais páginas e talvez só larga-lo ao terminar. Eu o terminei em dois dias. A história não tem um grande mistério a ser solucionado, logo não existem grandes reviravoltas, entretanto as cenas de perseguição e fuga são de roubar o fôlego, orquestradas com um toque de mestre. Considerando que o livro não é dotado de um grande grau de complexidade não há muito que falar. “O Delator” é essencialmente uma história de amor contada de um jeito capaz de agradar um vasto público. Uma história em um estilo simples: A mulher que conhece o homem misterioso e se apaixona para depois se ver em uma rede de conspiração e perseguição. Recomendo! Hoje, a senhora Gerritsen vai ganhar quatro selos cabulosos!

NOTA: