Histórias de fantasmas vividas na grande necrópole. Sempre gostei de histórias de fantasmas, mesmo sendo um tema clichê, porém, se você souber contar uma história, o fato de ser um clichê não é problema nenhum. Então vamos ver como os autores lidaram com esse tema:
Catarse – Alexandre Heredia
Júnior, ao fugir dos capangas do Zé Bruxo, fica preso dentro de um freezer abandonado. Ao começar a passar fome e sede em meio à poeira e escuridão, percebe que não está sozinho…
Já nesse primeiro conto, vemos o que nos espera em Necrópole. Imagine estar preso em um lugar fechado, escuro e saber que há alguém lá dentro com você, um alguém que deveria estar morto? O autor consegue nos passar o desespero de Júnior e o final do conto é incrível.
Amigo até o fim – Giorgio Cappelli
Depois de perder a mãe em um acidente, Alice tenta levar a vida. Casou-se, tem uma filha e junto com o marido luta para conseguir conquistar o que deseja. Porém, para Ângelo, o marido de Alice, as coisas são bem fáceis, ele parece ter uma sorte grande. Em uma tarde, trabalhando no novo apartamento, enquanto Ângelo trabalha, Alice começa a sentir coisas estranhas e seus vizinhos parecem também pressentir que algo está errado.
Achei o conto simples, mas isso não o deixou ruim. Não senti um “peso” no conto, que normalmente há em contos de terror, mas ele é pesado de outra forma. Acho que o autor não queria salientar o terror em si.
Entre o silêncio e o pó – Camila Fernandes
Irene é filha única, criada pelos avôs. A mãe morreu cedo e nunca conheceu o pai. Sempre sentiu que os avôs a haviam acolhido por simples obrigação, então, foi criada em um ambiente rígido, seco, sem muito amor. O avô morreu, deixando Dona Eleanor viúva, e agora ela também se fora. Irene passou a morar sozinha, tendo como companhia o papagaio Pirata. Ela procura um sentido pra tudo, sentir que está viva, mas acaba procurando da maneira errada. A menstruação está atrasada duas semanas e ela começa a ver coisas dentro de casa que não fazem nenhum sentido.
Gostei muito desse conto. Ele prende e revolta. A situação de Irene e as decisões que ela toma têm um peso enorme e em alguns momentos os fantasmas ficam em segundo plano, porém, eles se unem no final de uma maneira especial e assustadora.
Algo muito errado – Richard Diegues
Toni está fugindo desesperadamente há dias. Em seu encalço, capangas que não desejam nada além do seu sangue, além de vingança. De uma forma estranha, eles sempre encontram Toni. Em uma de suas estadias em um dos hotéis baratos, ele percebe que há algo errado, algo que não deveria estar ali… algo muito errado.
Ótimo conto! É contado em primeira pessoa, vai nos prendendo e nos revelando detalhes da trama aos poucos. O final é inesperado e deixa aquele bom ar de suspense.
Finja que não viu – Dóris Fleury
E se os mortos voltassem? Não como zumbis, mas como fantasmas. E se aquele parente, aquele colega de trabalho que morreu aparecesse e ficasse simplesmente ali, como se não soubesse que está morto? É o que vemos em Finja que não viu.
O conto é uma ótima sátira da sociedade que vivemos hoje. Onde as coisas ruins acontecem, como mortes, assassinatos, injustiças e nós simplesmente viramos o rosto. Aqui, o motivo para virar o rosto é maior e continuamos fazendo. Penso o que aconteceria se as pessoas no conto enfrentassem os fantasmas, parassem de fingir. O conto é dividido em várias partes, como locais e pessoas, o que torna a leitura super rápida.
Jogos de Reis e Damas – Gianpaolo Celli
Chegou o grande dia para Marcus. Iria usar as habilidades aprendidas na Sociedade do Templo de Salomão para prender o espírito de uma famosa feiticeira, que está em um edifício abandonado. Só que as coisas não saem como planejou, quando sua namorada, Patrícia, que é uma repórter sempre em busca da melhor matéria, adentra o edifício sem o conhecimento de Marcus e acaba encontrando a feiticeira Rowena.
Não senti muita profundidade nesse conto. A história não me prendeu. Quando estava chegando ao fim, pensei que poderia mudar de idéia com um final surpreendente. O final é bom, mas não compensou o vazio do conto.
O Fotógrafo – Marcelo Dias Amado
Ao ser perseguido por alguns homens bem suspeitos, Miguel entra no cemitério e ao ver uma cova aberta, percebe que a única solução é entrar e fingir-se de morto. Se os homens o encontrarem, certamente o matarão. O que eles querem é a câmera de Miguel, que carrega um segredo, uma solução, um fim.
Um conto simples, mas a narrativa é surpreendente, ela consegue nos prender e nos levar rapidamente para o fim da história, que é cheia de mistérios. Marcelo escreveu sobre o fantasma clássico, não aquele vingativo que vêm para machucar, mas aquele que quer lhe avisar algo, lhe alertar para algum perigo ou situação. Não consegui adivinhar o final, o autor conseguiu manter o mistério até o fim. Muito bom!
Como podemos ver, os autores souberam trabalhar muito bem com o tema imposto. Há contos do tipo clássico e outros com uma nova idéia e uma nova visão. Cada um com uma característica própria do autor que deixa o conto bem interessante.
Necrópole – Histórias de Fantasmas é o segundo da série Necrópole. O primeiro é Necrópole – Histórias de Vampiros e o terceiro, Necrópole – Histórias de Bruxarias. Esse é o primeiro da série que leio e já estou curiosa com os outros títulos. Aproveite e adicione Necrópole à sua lista de leitura!
NOTA:
Ficha Técnica:
Editora: Alaúde
Autor: Diversos
Origem: Nacional
Ano: 2006
Número de páginas: 176
ISBN: 85-98497-35-5
Skoob: