RESENHA: “CÃO RAIVOSO” DO STEPHEN KING

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Eu disse a você que eles iriam embora, Tad. É o que sempre fazem, afinal. E é aí então que eu volto. Eu gosto de voltar. Gosto de você, Tad. Acho que agora vou voltar todas as noites e cada vez estarei mais perto de sua cama… um pouco mais perto… até que chegará a noite em que, antes que possa gritar, você ouvirá uma coisa rosnando bem pertinho de sua cama, Tad, e essa coisa serei eu, que saltarei e comerei você, então, passará a estar dentro de mim.

A primeira vez que li Cão Raivoso foi no meu celular – o vício me levou a isso. Agora que pude lê-lo com o livro em mãos com um cheiro de sebo, a leitura ficou ainda melhor.

Conhecemos de início Tad Trenton um garotinho de quatro anos que têm dificuldades para dormir, já que um monstro vive em seu closet. Os pais, como todos devem fazer, dizem que é apenas imaginação de Tad, embora mesmo depois de fechar a porta do closet, ela sempre se abre sozinha depois.

Os pais de Tad, porém, têm mais coisas com que se preocuparem além do monstro no armário. O pai de Tad, Vic, está passando por uma crise grande no seu trabalho como publicitário. O casamento com Donna está com um clima ruim há bastante tempo.

O que ele não sabe é que Donna tem um caso com um reparador de móveis da cidade, Steve Kemp. Ela acabara se envolvendo com ele por sentir-se completamente vazia, por ficar em casa sozinha com o filho a maior parte do tempo, por estar totalmente entediada por ter de morar ali naquela cidade do interior do Maine, Castle Rock. Mas ela acaba vendo que a coisa está indo longe demais. Kemp não é tão bom como imaginara, aliás, ele não era nada bom. Em meio a um confronto bem tenso, ela termina com o amante.

Steve Kemp não é o tipo de homem que costuma ser dispensado e resolve dar o troco. Escreve uma carta para Vic que a recebe em meio aos preparativos para a viagem que terá de fazer a Nova York junto com o sócio, Roger. A viagem irá decidir o destino da sua empresa, assim como das suas vidas.

O bilhete revela que Donna estava tendo um caso com palavras nada gentis.

Eles conversam, ela explica o motivo, embora ele não compreenda muito bem. Não pode deixar de viajar para Nova York, então promete pensar no casamento, no futuro dos dois enquanto isso.

Em meio a toda essa bagunça, ele se esquece completamente de ligar para Joe Camber, mecânico que iria consertar um problema no carro de Donna.

Joe vive junto com sua esposa e filho na Rodovia 117. Junto com eles também vive o grande, porém gentil São Bernardo, Cujo. Quando qualquer pessoa se depara com o cão, toma um grande susto, porque ele é realmente grande, mas isso não significa que seja bravo, muito pelo contrário. Até que em uma tarde Cujo, correndo atrás de um coelho que se enfurna em uma pequena caverna, fica com a cabeça presa no buraco tentando pegar sua recompensa quando um morcego, carregado com o vírus da raiva, morde o seu focinho.

Indiferentes a isso, Charity e Brett Camber, decidem viajar, pois Charity acaba de ganhar na loteria um bilhete de cinco mil dólares. Ela suborna o marido – que é daquele tipo ignorante, comum de interior – para que possa ir visitar a irmã levando o filho, Brett e consegue. Ele consente, pensando que com a ausência da mulher irá poder se divertir também.

Donna então, em uma ida ao mercado com Tad, percebe como o carro está realmente ruim e decide se arriscar, levando-o a casa de Joe, por mais que o telefone não atendesse. Vic havia lhe dito que ele sempre estava em casa.

Ela consegue chegar até a casa dos Camber – quase não conseguiu – e o carro morre ali, em frente à oficina. Não há ninguém em casa, exceto Cujo.

Donna e Tad então se vêem presos dentro do carro. Não podem sair, porque do lado de fora está o São Bernardo de 100 quilos, babando loucamente, com os olhos vermelhos, tomado pela hidrofobia. O monstro do closet.

O cão olhava-a com os dentes arreganhados. Era como se estivesse fazendo uma careta para ela. Ele se chamava Cujo, mas o nome de sua dentada era morte.

Não será novidade dizer que o livro é muito bom, né? King consegue transformar a raiva em algo sobrenatural e ainda mais assustador.

Eu gosto da capacidade de acrescentar pequenos detalhes a história, detalhes que levam a um caminho pré-traçado, o destino. Ele poderia muito bem só contar a história de uma mulher e um menino, presos em um carro debaixo de um sol, em uma temperatura de 40ºC, mas é nos apresentada a vida de cada personagem. Seus segredos obscuros, o lado bom e ruim de cada um, assim podemos nos identificar com eles, torcer por eles e sofrer com eles.

King dá a esse livro um final que eu jamais imaginaria que tivesse coragem para tal.

O livro tem muitas referências a Zona Morta, pois em Castle Rock, cinco anos antes, John Smith ajuda a polícia a prender um assassino na cidade. Para evitar spoilers não vou dizer o nome do assassino em si, mas o livro o cita muitas vezes e até a forma que ele é pego.

A única coisa ruim é, como a edição que li é bem antiga, pode ser que por isso haja bastantes erros na grafia, como por exemplo:

“Aquilo trouxe-lhe à lembrança de uma coisa que havia acontecido em casa de seus pais…”

“…(era assim que seu pai se referi sempre…”

E o erro mais grotesco de todos, quando em uma parte do livro, Tad se imagina em um lago de patos, mas lemos diferente:

“Aquele monstro que fugira de seu closet. Junto dos ratos não havia monstros.”
Bem que poderia haver uma nova edição de Cão Raivoso para acabar com esses errinhos.

 

NOTA:

 

Ficha Técnica:

  • Editora: Record
  • Autor: Stephen King
  • Origem: Estrangeira
  • Título original: Cujo
  • Ano: 1981
  • Edição:
  • Número de páginas: 332
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