Como prometido no último post sobre os lançamentos da Companhia das Letras, vamos para a 2ª parte com mais lançamentos do mês de novembro. Como a ediora possui vários selos, dentre os livros citados há alguns no formato bolso, história em quadrinhos, romances clássicos, coletânea de contos… Não deixe de conferir as sinopse e escolher os presentes de Natal.
Primavera de 1952. Um prédio de seis apartamentos numa rua modesta de Lisboa é o cenário principal das histórias simultâneas que compõem este romance da juventude de José Saramago. Os dramas cotidianos dos moradores – donas de casa, funcionários remediados, trabalhadores manuais – tecem uma trama multifacetada, repleta de elementos do consagrado estilo da maturidade do escritor, em especial a maestria dos diálogos e o poder de observação psicológica.
As janelas, paredes e corredores do velho edifício lisboeta são testemunhas privilegiadas das pequenas tragédias e comédias representadas pelos personagens. As peripécias de Lídia, uma bela mulher sustentada pelo amante misterioso, e Abel, um jovem em>outsider à procura de um sentido para a vida, se contrapõem ao árduo cotidiano dos outros moradores. As narrativas paralelas do livro são organizadas segundo as divisões internas do prédio, do térreo ao segundo andar.
No início da década de 1950, José Saramago já não era um nome totalmente desconhecido na cena literária portuguesa. Aos trinta anos, o futuro vencedor do prêmio Nobel publicara um romance – Terra do pecado (1947) -, e alguns de seus contos haviam saído em jornais e revistas de Lisboa, às vezes assinados com o pseudônimo “Honorato”. Saramago, ex-serralheiro mecânico e então um modesto funcionário da previdência social, também possuía diversos poemas e peças de teatro entre seus inéditos. Até 1953, o escritor iniciaria a redação de mais quatro romances, que ficaram inacabados. Em 5 de janeiro daquele ano “Honorato” finalizava o datiloscrito de um livro de mais de trezentas páginas. O novo romance, em seguida encaminhado para publicação a uma editora lisboeta por intermédio de um amigo jornalista, acabaria esquecido no fundo de uma gaveta. O original nunca foi devolvido ao seu autor, que também não recebera resposta alguma. Na década de 1980, o já consagrado José Saramago era contactado pela mesma editora para publicar Claraboia. A mágoa pela falta de resposta na juventude levou-o a declarar que não desejaria ver o romance editado em vida, deixando para seus herdeiros a decisão sobre o que fazer com o livro. Após seu desaparecimento, as inquestionáveis qualidades do romance, construído com perfeito domínio do espaço narrativo, justificam plenamente a opção de trazê-lo a público.
Último romance escrito por Lima Barreto, tendo sido publicado postumamente, Clara dos Anjos é também o livro que condensa grande parte das preocupações que rondaram a obra do autor. Lá estão o subúrbio carioca, as questões raciais, as diferenças de classe e a modernização do Rio de Janeiro no início do século XX.
Clara dos Anjos é uma mulata pobre do subúrbio, filha do carteiro João dos Anjos e de Engrácia, uma mulher “sedentária e caseira”. Por meio de amigos do pai, Clara conhece Cassi Jones, malandro de família mais abastada e notório galanteador. A despeito dos alertas de seu padrinho – que será brutalmente assassinado -, Clara inicia uma relação com Cassi.
A partir desse encontro fadado à tragédia, Lima coloca o leitor dentro de um jogo de tensões de classe, sedução e preconceito. Ao mesmo tempo, traça um rico e minucioso panorama do cotidiano nos subúrbios do Rio, com suas tristezas e mazelas, mas também como local onde a vida da cidade acontece.
Nesta adaptação para os quadrinhos, os subúrbios saltam literalmente à vida, no magistral traço de Lelis. Apoiado em fotografias e gravuras, Lelis recriou de maneira fiel o ambiente de Clara dos Anjos, além de emprestar agilidade e drama à história. E Wander Antunes, que adaptou o texto de Lima Barreto, soube captar e condensar a intensidade da trama, sem perder o que ela tem de mais forte.
Laura Maldonada Clapper, beldade cinquentona autoritária, vai fazer uma viagem de navio à África com o marido, Desmond, um homem pusilânime e com queda para a bebida. Na véspera da partida, ela recebe em seu apartamento um pequeno grupo: Clara, a tímida filha de seu primeiro casamento; Carlos, seu irmão gay, crítico de música fracassado; e Peter, um editor amigo da família.
No bota-fora, que se prolonga noite adentro num restaurante caro, à medida que o álcool vai fazendo efeito emergem podres e interditos dos Maldonada, família de origem hispano-cubana cuja matriarca, Alma, a viúva do título, está internada num asilo. Antes do fim dessa longa noite, porém, Laura revela uma informação que vinha mantendo em segredo. A revelação lança novas luzes a tudo o que aconteceu até então. O efeito é vertiginoso tanto sobre os outros personagens como sobre o leitor.
O resultado é uma prosa densa, repleta de tensão e surpresas, que convida o leitor a descobrir as verdades ocultas por trás de silêncios, olhares e alusões.
Para Elias Canetti, prêmio Nobel de Literatura de 1981 e autor da celebrada trilogia autobiográfica composta de A língua absolvida, Uma luz em meu ouvido e O jogo dos olhos, também publicada pela Companhia das Letras em formato de bolso, escrever é um ato de enorme responsabilidade, como ele mesmo afirma com todas as letras no ensaio que fecha este volume. Daí o seu título, A consciência das palavras, sob o qual se acham reunidos ensaios sobre Confúcio, Georg Büchner, Tolstói, Kafka, Hermann Broch, Karl Kraus e Hitler, além de uma evocação da tragédia de Hiroshima por intermédio do diário de um de seus sobreviventes ou de reminiscências sobre as origens de seu monumental romance Auto de fé.
John Reckless, pai de Jacob e Will, sumiu sem deixar vestígios. Inconformado, Jacob gasta o dia procurando pistas que lhe deem alguma ideia do seu paradeiro. O garoto vasculha cada cantos do escritório do pai, até que um dia descobre um espelho que servia como um portal para um mundo mágico – um mundo que lhe oferece a perspectiva de liberdade e aventura.
Mantendo segredo do seu achado, Jacob passa cada vez mais tempo do outro lado do espelho. Após doze anos, o mundo sombrio se torna seu verdadeiro lar, onde tem amigos e inimigos e é reconhecido como um dos melhores caçadores de tesouros que já existiram por ali.
Will, o caçula, sente falta do irmão e estranha aqueles sumiços prolongados. Um dia, consegue burlar sua constante vigilância e o segue através do espelho, ato que tem uma consequência terrível. Ferido pelos goyls – homens frios e violentos, que têm pele de pedra e olhos de ouro -, ele acaba vítima de uma maldição: vai se transformando lenta e dolorosamente em uma dessas sinistras criaturas.
Numa corrida contra o tempo, Jacob precisa encontrar o antídoto para o feitiço. Para empreender essa jornada, ele conta com a ajuda da raposa Fox, sua companheira de muito tempo, e Clara, a namorada de Will, que atravessa o espelho para encontrá-lo. Juntos, eles vão enfrentar os perigos e as armadilhas do Mundo do Espelho – antes que seja tarde demais e Jacob perca o irmão para sempre.
Povoado por fadas, bruxas, unicórnios e tritões, e tendo cenários como o castelo da Bela Adormecida e a casa de doces da bruxa de “João e Maria”, o mundo criado por Cornelia Funke remete o leitor aos mais conhecidos contos de fadas de todos os tempos. Na narrativa, contudo, a ênfase da autora recai nos aspectos mais sombrios e brutais das histórias, criando-se uma atmosfera ao mesmo tempo familiar e soturna. É nesse mundo que se desenrolam as aventuras dos irmãos Reckless, uma história de maldição, traições e vingança, mas também de coragem, lealdade e amor.
Todos sabem os riscos que rondam a internet. Embora tenha revolucionado nosso modo de vida, ela também nos expõe a roubos e golpes, além de propagandas intrusivas e uma torrente de e-mails indesejados. E tão rapidamente como a própria rede evoluiu, o crime eletrônico também cresceu e se aperfeiçoou.
Em Mercado sombrio, Misha Glenny revela as engrenagens do submundo da internet, onde um exército de jovens e talentosos programadores encontrou terreno perfeito para inventar um novo tipo de crime. O autor mostra como esses crackers (ou hackers criminosos) aliaram-se à velha guarda da bandidagem, criando uma máfia invisível e global, capaz até de derrubar a internet de todo um país.
O fio condutor desta trama, narrada em ritmo de romance policial, é o site DarkMarket, um fórum on-line onde os hackers vendiam os dados bancários e pessoais de suas presas e davam aulas de clonagem de cartões e de invasão digital. O que começa como um negócio amador logo se profissionaliza numa indústria de milhões de dólares, o braço digital do crime organizado.
Mercado sombrio é uma história de adolescentes brilhantes, vigaristas à moda antiga, hackers misteriosos e programadores respeitáveis cujas vidas duplas fariam corar o mais tarimbado dos gângsteres. Mas é também a história de quem combate o cibercrime, dos agentes que viram seu ofício mudar do combate ao crime nas ruas para o dia a dia dos modernos centros de inteligência digital.
Em McMáfia, Misha Glenny havia mostrado os efeitos da globalização sobre o mundo do crime. Agora, volta-se para o crime verdadeiramente sem fronteiras, em que uma das figuras centrais da gangue pode estar digitando num cibercafé imundo em Odessa, enquanto seu comparsa presta auxílio do porão dos pais na Alemanha.
Mas, além do aparato técnico, o que a internet propicia a essa nova geração do crime é um sentimento de comunidade, um mundo onde a honra – ainda que num sentido muito específico da palavra – pode valer mais que o dinheiro de um roubo bem-sucedido.
Escritos entre 1957 e 1990, estes contos refletem não apenas a evolução da escrita do autor, mas também os seus temas recorrentes. Kenzaburo Oe foi construindo aos poucos um universo tipicamente japonês, habitado por personagens que jamais poderiam ser ocidentais.
Os contos “O homem sexual” e “Em português brasileiro”, tratam de um tipo de incomunicabilidade muito nipônica, em que algo importante deixa de ser dito, numa tentativa nem sempre bem-sucedida de preservar a harmonia social. O delicado equilíbrio dentro da família Oe, que inclui um filho com deficiência cerebral, está retratado em “Viver em paz” e “A dor de uma história”, supostamente narrados pela filha do escritor.
Já em “Seventeen”, um dos contos mais polêmicos, Oe se baseia no assassinato do presidente do Partido Socialista japonês, nos anos 1960, por um adolescente ultranacionalista, para refletir sobre o nível de fanatismo que as ideias políticas podem incutir num indivíduo confuso ou ainda malformado. Na época, o conto foi duramente atacado por ambos os extremos do espectro político.
A visão sem ilusões, porém compassiva, que Oe tem da existência humana amarra todos os textos. Repetidas vezes, ele afirmou que sua obra trata da inegociável dignidade dos seres humanos.
O acontecimento crucial do livro é a greve dos estivadores do porto de Santos, que se recusam a embarcar uma carga de café destinada à Espanha num navio alemão, como cortesia de Getúlio Vargas a Franco. Em torno desse evento movem-se os mais diversos personagens, como grevistas, banqueiros, poetas, funcionários públicos corruptos e jovens diplomatas, além de policiais, políticos, jornalistas e militantes comunistas.
A ação não se restringe ao palco das docas santistas, deslocando-se às fábricas de São Paulo, aos cassinos do Rio de Janeiro, às selvas do Mato Grosso e aos campos de combate da Espanha – onde se decide o destino da democracia.
Escrevendo no início dos anos 1950, durante o segundo governo do presidente Getúlio Vargas (1951-4), Jorge Amado tece com maestria essa teia de personagens e situações, com a verve inflamada de quem se opôs frontalmente à ditadura do Estado Novo, mas também com seu humor e lirismo irresistíveis. A luz no túnel, o terceiro volume da trilogia, será lançado em dezembro e contará com posfácio de Daniel Aarão Reis.
Amigos desde a juventude em Belo Horizonte, Otto e o escritor, cronista e editor Fernando Sabino (1923-2004) mantiveram uma ligação epistolar como poucas em nossa literatura. É sob todos os aspectos uma proeza em um tempo em que não havia computadores pessoais (mas máquinas de escrever) nem e-mail (era preciso bater perna até o correio) nesse vasto intercâmbio entre os dois autores ao longo do tempo e de diversas cidades.
Este volume inédito traz as cartas de Otto a Sabino ao longo de mais de trinta anos de uma sólida amizade – que perduraria até a morte do primeiro, no início dos anos 1990. Enviadas de lugares como Rio de Janeiro, Bruxelas e Lisboa (nestas duas últimas cidades Otto viveria como adido cultural), as cartas trazem o ponto de vista singularíssimo de um autor sobre os mais diversos aspectos da vida: dos amores à literatura, das transformações nos costumes à política do Brasil.
Nestas cartas escritas com mão levíssima e dicção altamente literária, comparece um elenco de personagens que iriam decidir os rumos do Brasil nos mais diversos campos, da literatura à política, da música popular às finanças. Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, Jânio Quadros, San Thiago Dantas, Chico Buarque e João Goulart, entre muitos outros, aparecem como protagonistas, interlocutores ou mesmo em sublimes (humorísticas ou amorosas) evocações de um autor que assim definiu seu gosto por escrever tantas cartas: “Não é grafomania. É civilidade”.
No início da década de 1990, Otto Lara Resende iniciou uma profícua e caudalosa colaboração com a Folha de S. Paulo. Jornalista tarimbado, com passagens por diversas redações, Otto escrevia nesse espaço diário crônicas sobre uma vasta gama de assuntos: os desajustes da política (vivíamos a Era Collor), os amigos desaparecidos (como Nelson Rodrigues, Vinicius de Moraes e Paulo Mendes Campos), os costumes no Rio de Janeiro (cidade que o mesmerizava), as mudanças no nosso idioma, a literatura etc. Sempre com clareza e delicadeza exemplares.
Esta reunião de suas crônicas na Folha é uma edição ampliada de um volume publicado pela Companhia das Letras em 1993 e organizado, na época, por Matinas Suzuki. Desta vez, o jornalista Humberto Werneck recebeu a incumbência de coordenar o volume, garimpando mais de setenta crônicas nunca antes publicadas em livro.
E o Otto cronista é nada menos que um clássico do gênero: sua prosa, escorreita e refinada (mas nunca hermética), se molda à perfeição a amplitude de temas e pontos de vista apresentados diariamente nas páginas do jornal. A leitura das notícias o alimentava, claro, mas também há aqueles tópicos consagrados por outros cronistas antes e depois (a exemplo de Rubem Braga e Fernando Sabino, amigos e personagens de alguns textos deste volume), como a impiedosa passagem do tempo, os encontros e desencontros proporcionados pela grande cidade, a nostalgia de quem sabe que tudo, afinal, é breve e desaparece um dia. Às vezes, na edição seguinte do jornal.
Vento sul reúne vinte contos (ou “ficções”, como quer a autora) de leitura fácil, sentido cristalino e efeito impactante. Eles estão organizados em quatro blocos: “Matrizes”, “Contracanto”, “Planos paralelos” e “Garoa, sai dos meus olhos” – este último citando um poema de Mário de Andrade. Neles se articulam histórias fundadoras, lembranças de personagens e vivências, vinhetas poéticas, aqui e ali uma quase parábola para falar de temas de abordagem difícil como a violência solapada que às vezes se pratica nas famílias. Em todas as histórias: a perda – e sua outra face: a persistência da memória. Como diz João Moura no texto de orelha, aqui se trata de afastar os mortos para dar lugar aos vivos. Sem dúvida, mas também de acolher os mortos e criar uma voz para tudo que permanece vivo.
Dorian Gray é um jovem de rara beleza, o que motiva o pintor Basil Hallward a fazer um retrato dele. Fascinado por seu modelo, Basil realiza um trabalho extraordinário, de modo que o próprio Dorian Gray se apaixona por sua imagem. Influenciado por Henry Wotton, um dândi que critica a cultura vitoriana e prega um hedonismo indulgente, Gray começa a levar uma vida dupla. Com o passar dos anos, ele conserva o brilho de sua juventude, enquanto o retrato, escondido num quarto fechado, revela os efeitos do tempo em seu lugar.
O retrato de Dorian Gray é o único romance de Oscar Wilde. Sua versão definitiva, publicada em abril de 1891, despertou paixões e chocou-se com a pudica sociedade vitoriana, que viu na história fantástica e filosófica apenas a imoralidade de seu herói.
Tartaruguinha gostou tanto da história que o pai leu sobre pinguins que acaba sonhando naquela noite que é uma dessas aves. Quando acorda, decide tornar o sonho realidade. Veste o paletó do avô e faz tudo que um pinguim faz: anda bamboleando e desliza de barriga no chão, brinca de passar o ovo e come bolachas em forma de peixe. É um verdadeiro dia de pinguim – que acaba com a próxima história que o pai conta na cama, sobre um certo macaquinho que vive na selva…
Brincando de ser criança, o renomado autor e ilustrador Valeri Gorbachev criou e ilustrou essa história sobre a magia do faz de conta e o poder dos livros em despertar a imaginação dos pequenos leitores.
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