Há uma guerra no céu. O confronto civil entre o arcanjo Miguel e as tropas revolucionárias de seu irmão, Gabriel, devasta as sete camadas do paraíso. Com as legiões divididas, as fortalezas sitiadas, os generais estabeleceram umarmistício na terra, uma trégua frágil e delicada, que pode desmoronar a qualquer instante.
Enquanto os querubins se enfrentam num embate de sangue e espadas, dois anjos são enviados ao mundo físico com a tarefa de resgatar Kaira, uma capitã dos exércitos rebeldes, desaparecida enquanto investigava uma suposta violação do tratado. A missão revelará as tramas de uma conspiração milenar, um plano que, se concluído, reverterá o equilíbrio de forças no céu e ameaçará toda a vida humana na terra.
Juntamente com Denyel, um ex-espião em busca de anistia, os celestiais partirão em uma jornada através de cidades, selvas e mares, enfrentarão demônios e deuses, numa trilha que os levará às ruínas da maior nação terrena anterior ao dilúvio – o reino perdido de Atlântida.
Escrever sobre Eduardo Spohr é para mim, antes de qualquer coisa, uma honra e emocionante. Pode soar como uma rasgação de seda brega (e não deixa de ser), mas emociona ao leitor que acompanhou a verdadeira jornada do herói pelo qual este autor passou ver que um cara daqui, da nossa terrinha, conseguiu realizar um sonho tão grande quanto aparentemente inacessível ao público e autores nacionais. O que ele fez?
Ele nos mostrou que era possível.
Pois quem segue a história do cara se emociona ao vê-lo realizar um sonho, que é partilhado por tantos outros: Uma história fantástica, no Brasil, por um brasileiro. Não que ele tenha sido o primeiro de grande sucesso (que vou chutar ter sido o André Vianco, o primeiro que vi escrever uma fantasia mais densa passada em território brasileiro), mas como o processo foi bem mais aberto para os fãs, nos sentimos parte da história, e honrados pelo seu sucesso. Tanto em seu primeiro livro, o A Batalha do Apocalipde (que será retratado como ABdA) quanto em sua nova obra, o Filhos do Éden (que chamaremos de FdE) foram felizes na empreitada de realizar a fantasia que tanto gostamos num cenário nosso, com uma história maravilhosa e um resultado surpreendente.
No ABdA o mundo místico dos celestes, ao qual somos apresentados, é épico, maravilhoso, bem construído e com imenso potencial. Ablon e seus companheiros, assim com seus inimigos, conseguiram um lugar especial no coração dos leitores e admiradores da obra. Tal história, épica, corajosa, filosófica, aportou de maneira magnifica, e parecia estar fadada a permanecer imbatível contra qualquer obra seguinte de Spohr. ABdA seria, portanto, o maior desafio do autor em seus futuros trabalhos.
E qual não é minha grata surpresa ao ver que FdE consegue superar a obra anterior com louvor?
Mas antes de tudo, vamos colocar uma coisa bem clara: Filhos do Éden NÃO É uma Batalha do Apocalipse. Nem uma continuação, nem um remake, nem um prequel, nem nada disso. Portanto, antes de tentar comparar os livros, entenda bem que os livros NÃO DEVEM ser comparados levianamente!
No entanto, de maneira nenhuma isso significa que a qualidade deste novo livro é inferior!
Na verdade, o grande trunfo de FdE sobre ABdA é justamente a proximidade maior que o novo livro têm com o ser humano, além da própria humanidadeem si. FdEtrata justamente de uma história ligada com anjos menos poderosos que estiveram fortemente ligados com a natureza humana, absorvendo parte dessa essência complexa e misteriosa que reside dentro de nossa alma. O que significa vermos justamente aquilo que mais faltou em ABdA, e causou uma certa estranheza na obra: personagens mais humanizados. Enquanto no livro anterior havia apenas a bruxa Shamira como o ponto de vista humano da história (e que seja levado em consideração que ela mesmo já havia em certo ponto transcendido o que pode ser entendido como “ser humano”, tanto em termos físicos como espirituais), em sua nova obra Spohr determina seus dois personagens principais, Denyel e Kaira, como anjos com características praticamente humanas. Indivíduos que, mesmo criados à retidão, conservam, naturalmente ou não, uma característica básica e inerente a raça humana, que faz com que nos identifiquemos mais facilmente com eles. Uma faceta que todo o ser humano têm, seja homem, mulher, criança ou velho, maligno ou bondoso.
Esta seria a característica de poder mudar. Se transformar a partir do nada ou de algum lugar. O poder de evoluir.
O livre-arbítrio.
Outro ponto são as próprias narrações e descrições de Spohr, que evoluíram bastante desde o primeiro livro. Além disso, a forma como ele aborda as questões e história do “Spohrverso” neste novo livro é bem mais interessante e dinâmica para o leitor, pois é feita na forma de diálogos e tensões entre os próprios personagens, tornando a troca de informações muito mais orgânica.
Outra grande característica que deve ser salientada neste livro diz respeito aos combates. A fonte “animesística” de inspiração de Spohr sempre foi clara no ABdA, como os “golpes batizados”, os cenários gigantescos e uma ou outra mudança nas placas tectônicas depois de cada combate. No FdE isso muda de maneira absurda, e muito bem vinda (embora eu goste muito dos combates do primeiro livro). As brigas, claro, ainda são muito mais do que dois caras trocando uns pontapés, mas se tornou um embate mais “preso à gravidade”, se é que posso colocar dessa forma. Os ambientes fechados ainda continuam quase fechados no fim de uma luta, os elementos do cenário são bem levados em consideração, e o que eu considero a mudança mais significativa, os heróis se ferem. Sim, eles são rasgados, triturados, feridos, espancados, quase morrem umas dúzias de vezes, sentem dificuldades, precisam descansar! E tanto sofrimento só termina por conectá-los mais a nós, por entender que estes personagens têm muito, mas muito mais a perder que os grandes generais e arcanjos desta guerra.
Isto termina por puxar o grande assunto do livro, seu grande trunfo, e seu maior sucesso. Os personagens.
É interessante como cada um deles é demarcado, tanto por suas falhas quanto por suas virtudes. Não será estranho se você escolher um preferido (ou um odiado!) no começo do livro e mudar de idéia no decorrer da história. Mesmo o personagem menos explorado no livro, O Primeiro Anjo, cativa com sua presença na história. Na realidade, o indivíduo que é mais bem explorado no livro seja um já visto no ABdA, uma grata surpresa nesta nova aventura, o incrível estenomefoimantidoemsigilo!
Pode parecer engraçado, mas cada um dos personagens principais, se observado com frieza, não passa de um grande clichê. A heroína desmemoriada. O defensor honrado. O sacerdote da paz. O anti-herói canalha. Até mesmo os vilões. Cada um deles é um grande arquétipo, cansado de ser usado em tantas obras por aí. Mas a maneira que são utilizados em FdE é tão única, embora saudosa e cheia de easter eggs (eu JURO que esperava uma lâmina de luz aparecendo como arma do Denyel!!!), os personagens são tão divertidos e cativantes, cada um a sua maneira, com sua cara, que não há nada a fazer se não torcer pelo sucesso da aventura de Kaira, Levih, Urakin e Denyel, e de segurar a repiração até o fim desta eletrizante aventura. Pois no fim de FdE nos sentimos ainda mais assim, o que éramos desde o início desta resenha por conta da fantástica Obra de Spohr.
Somos todos companheiros.
Somos todos os Filhos do Éden.
PARTES QUE O MENINO ESTRANHO MAIS CURTIU!
“…. Não posso dizer nenhuma, senão daria um spoiler brabo!”
NOTA:
Você pode adquirir o livro pelo site da Livraria Cultura! Confira o link!