RESENHA: “A FÚRIA DOS REIS” DE GEORGE R. R. MARTIN

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Capa de “A FÚRIA DOS REIS”

A TÃO ESPERADA CONTINUAÇÃO DE CRÔNICAS DE GELO E FOGO Em A fúria dos Reis, o segundo livro da aclamada série As crônicas de gelo e fogo, George R. R. Martin segue a épica aventura nos Sete Reinos, onde muitos perigos e disputas ainda estão por vir. Além dos combates que se estendem por todos os lados, o perigo agora também chega pelo céu, quando um cometa vermelho como sangue surge ameaçadoramente. Uma terra onde irmão luta contra irmão e a morte caminha na noite fria, nada é o que parece ser, e inocência é uma palavra que não existe. Quando os reis estão em guerra, a terra toda treme!

Primeiro tenho que começar esta resenha me desculpando pela minha ausência e demora na produção desta resenha. Foi mal. Ok, agora, para o que interessa. Continuações são complicadas. O desafio de expandir um mundo de ficção, criar novos personagens e tramas, fazer a ponte entre o começo e o fim de uma saga, são desafios que poucos escritores conseguem superar. Isto em histórias “normais”. Num épico de proporções gigantescas como as Crônicas de Gelo e Fogo, esse desafio fica ainda maior. Podemos contar nos dedos quantos “segundos livros” falharam nessa missão. A Câmara Secreta, da série Harry Potter, é considerado o mais fraco dos sete livros. A série Duna, as sagas de Isaac Asimov, até mesmo em Star Wars, na nova trilogia, A Guerra dos Clones, todas as continuações diretas, os “segundos livros” falharam em manter o fôlego das séries, recuperado apenas mais tarde. No entanto As Duas Torres do Senhor dos Anéis do Tolkien é considerado uma obra impar. E como a Fúria dos Reis se saiu nesta história? Ele passa, e com louvor! Mas, entenda, ainda não é tão bom como o primeiro livro.

A Fúria dos Reis na realidade é bem mais que uma simples continuação do primeiro livro. O teor, as traições, as ligações nas entrelinhas, tudo ainda está lá. No entanto, existe uma diferença crucial que muda toda a dinâmica do que era a Guerra dos Tronos. Um elemento antes claramente desprezado por Martin, colocado de maneira selvagem e descarada neste livro. Um nascimento tão simples e óbvio que se torna cada vez mais inusitado quanto mais é descrito para você, leitor aventureiro que sem embrenha nas terras de Westeros até além da muralha. E sabe que elemento é este?

Este elemento é a magia.

N’A Fúria dos Reis, Martin a revive no mundo de Wasteros, mas para os leitores, a sensação é justamente de um nascimento. Não entendeu? Eu explico! Para um leitor que é bem acostumado com mundos fantásticos, a magia é um elemento intrínseco a história. Mais que uma ferramenta dos personagens, ela se torna um próprio personagem. Algo vivo que você acompanha, torce, contra ou a favor, deseja ou despreza. A magia de um mundo de fantasia FAZ o mundo de fantasia.

Pois bem. Wasteros é um mundo onde a magia morreu. Essa idéia, vendida no primeiro livro quase até o ultimo ponto (e que só morre no último parágrafo!) faz com que você desacostume com a idéia de ver a magia aqui. Mais que isso, você, assim como a maioria dos personagens deste fabuloso romance, se esquece da magia. No entanto, lá esta ela, em A Fúria dos Reis, viva, dando seus primeiros passos novamente. E ver a magia nascendo é uma experiência diferente. Ela é mais obscura. Perigosa. Selvagem até. Não é algo que se deseje novamente no mundo, pois antes que todos tenham tempo de dominá-la novamente, criaturas que deveriam dormir pelo resto de seus tempos acordarão junto com ela.

O livro, embora em termos de história um pouco inferior ao seu predecessor, já que não tem começo, meio e fim, mas sim é por inteiro uma ponte entre histórias, é muito, mas muito bom mesmo. Digo que ele é uma ponte, por que cumpre com louvor o papel dos “segundos livros” de sagas com mais que dois volumes. Esta missão é justamente estruturar o mundo. Dar cor e cultura a ele. Enquanto aprendemos o desenho da saga, as regras de Wasteros e da história que leremos no primeiro livro – política, vingança, honra, guerras e corações partidos, tudo isso misturado na disputa de quatro famílias pelo que cada uma chama de justiça – no segundo livro conseguimos ver melhor suas cores. Vemos novas nações, inimigos e futuros aliados, novas intrigas e possíveis traições (algumas até executadas!). Saboreamos um mundo com mais desafios e poderes que imaginávamos a início. E com mais surpresas no futuro! Afinal, se a magia houve de nascer aqui, amadurecerá e muito nos próximos livros!

Quanto aos personagens em si, é um show a parte. Tyrion Lannister continua chutando bundas fantástico, e vinga muito de nosso ódio quando chega a Porto Real para por ordem naquela baderna como a nova Mão do Rei. Seu personagem consegue ganhar mais e mais respeito dos leitores, enquanto ganha mais e mais fraquezas por conta de um… Novo amor (?) que não veio exatamente da nobreza. Outro personagem que ganha uma certa grandeza sombria é Mindinho, que cada vez mais ganha um ar de mistério sobre si, e quanta influência ele possui no reino. Isso, sem contar Varys, a aranha, que com sua própria versão deturpada do que seria honra, mostra que realmente quer o bem do reino. Não importa com quem sentado no trono de Ferro.

Outros personagens ganham bem mais notoriedade no segundo livro. Bran e Rickon, embora o ultime não tenha nenhum capítulo seu, aprendem que ou crescem rápido , ou não haverá ninguém para cuidar deles num futuro bem mais próximo que acreditariam. Bran inclusive que é posto frente a frente com seu maior desafio por dois novos companheiros inesperados. Agora é a hora dele confrontar a verdade. Sansa por sua vez encara a realidade de sua vida como prisioneira. Descobre que é apenas um fantoche na mão de um Rei infante, despreparado e um tiquinho insano. E é neste ninho de cobras onde o sangue de Stark da menina tem que lhe preservar, ou então acabar por matá-la. Jon Snow segue em sua jornada com seus irmãos da patrulha da noite até mais adentro de além da muralha. E lá descobrirá muito mais do que desejaria, se frustrará bem mais do que acharia possível, e terá que aprender na marra que não é apenas a honra que lhe salvará a vida. A senhora Stark cada vez mais tem que suportar a tensão de ver sua família aos pedaços, e se resguardar ainda assim. E será dela uma decisão que afetará a todo o destino da guerra. Robb, no entanto, praticamente não aparece no livro, a não ser em sussurros proibidos dos aldeões e de quem joge da guerra, levando Winterfell cada vez mais perto de Porto Real, o que lhe causará um prejuízo enorme por confiar nas pessoas erradas. E podem contar que falo de Greyjoy, e sua cobiça por poder e admiração. Mas francamente, o personagem que mais surpreende e cresce a cada frase… aahh, esta seria Arya…

Arya, Arya… A filha mais próxima de Ned Stark mostrará porque merece fazer parte da casa do Lobo Gigante. E numa jornada que qualquer um diria difícil demais até para grandes guerreiros, a menina fará você se apaixonar cada vez mais por ela.

Não esperem menos de A Fúria dos Reis que um grande livro. Com certeza não é o melhor da série, mas cumpre e muito sua meta. E se preparem.

Pois agora o que nos espera é a Tempestade de espadas!

NOTA:

Avaliação: “LEITURA FODA”