RESENHA: “VAPORPUNK” DA EDITORA DRACO

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Vaporpunk, capa

A literatura é uma “caixinha de surpresas” mesmo. Depois de tantos livros lidos considerava-me conhecedor dos meus desejos, ou seja, supunha saber meus gostos e preferências literárias. Mero engano. Pois quando olho para o vapor sei que ainda estou sujeito a surpresas e arrebatamentos repentinos. O estilo steampunk conquistou-me e isto não posso negar! O livro Vaporpunk da editora Draco foi uma dessas descobertas que ficamos felizes em temo-nos feitas antes do derradeiro fim. Impressione-se com esta coletânea de novelas escritas com talento e vapor por escritores luso-brasileiros.

O estilo steampunk usa a tecnologia a vapor como mote para sustentar suas histórias, o livro em questão é todo elaborado com base neste estilo.

Sinopse:

Esqueça o Brasil e o Império Português dos livros de história, pois estamos numa realidade onde em ambos os países a Revolução Industrial alcançou-os. O mundo vive uma corrida ao vapor e pelo domínio e aprimoramento dessa tecnologia. As novelas (pois só há um conto) narram eventos fictícios onde temos não apenas o maquinário a vapor como ponto alto das histórias, mas também narrativas envolvendo máquinas do tempo, lobisomens e uma gama de possibilidades que somente a criatividade poderia mensurar.

O livro em si foi uma grande surpresa, já que não estou acostumado a comprar livros escritos por autores nacionais daí o deslumbre ao ver o acabamento. Seu formato luxuoso é de encher os olhos: a capa é bem original e joga você dentro do clima do livro, os detalhes como a divisão entre as novelas e os espaços temporais usando engrenagens são muito condizentes com a temática.

A revisão foi impecável e não há erros de digitação; o leitor não necessita ficar lembrando-se que está lendo um livro editado no Brasil e escrito por autores nacionais, já que suas características são semelhantes a de grandes sagas importadas que vemos por ai.

Sobre os textos são muito gostosos de ler e em nenhum deles vemos aquela tentativa de explicar o que é o gênero steampunk, daí não fica a sensação de que estamos recebendo uma aula, pois através da própria atmosfera somos emergidos neste universo e o compreendemos em seus pormenores. As histórias fluem e não possuem qualquer ligação entre si o que permite ao leitor navegar sem rumo, pode-se começar por qualquer novela, não existe a obrigatoriedade de seqüência. Como disse mais a cima, os autores diversificaram sua escrita expandindo o universo do steampunk para a introdução de vários outros elementos da ficção especulativa.

No conto A fazenda-relógio de Octavio Aragão único do livro, vemos como a lei Áurea poderia ser diferente caso os escravos fossem trocados por máquinas; Na primeira novela Os oito nomes do Deus sem nome de Yves Robert, o leitor é apresentado ao misticismo africano, onde, por meio de um pacto os deuses protegem Portugal – é uma história de suspense que pretende deixar o leitor sem fôlego; Em Os primeiros Astecas na lua de Flávio Medeiros Jr. que desenvolve um trilher policial com pitadas de ficção científica eletrizande que prende nossos olhos do início ao fim; Consciência de Êbano de Gerson Lodi-Ribeiro, escreve uma história de vampiros – confesso que senti dificuldades para lê-lo, já que o autor emprega um vocabulário africano que me fez retomar a leitura, pois muitas vezes não compreendia os diálogos, mas a história, um trilher de terror, possui um final aterrador; Unidade em Chamas de Jorge Candeias, conhecemos Sidónio um passarolista que terá que vencer o preconceito para junto as outros passarolistas negros sobreviver ao terrível exército francês; A extinção das espécies de Carlos Orsi, somos apresentados ao jovem Charles Darwin que ficará estupefato com as possibilidades das tecnologias de sua época; Em Os dias da besta de Eric Novello, o reinado de Dom Pedro II é aterrorizado por um lobisomen; E por último, O sol é que alegra o dia… de João Ventura que faz um texto quase biográfico da vida de Padre Himalaya e seus inventos que usam o sol como força motriz.

Considero, no geral, o livro um deleite a leitura de fantasia. O leitor que debruçar os olhos sobre Vaporpunk não se arrependerá, pois terá ganho muitas horas de boas histórias com situações e personagens que está acostumado a ver em outros gêneros. O livro não é de literatura fantástica nacional, mas literatura fantástica, pois seus escritores nos fazem sentir ver Brasil e Portugal de outra forma, até aparecendo serem outros lugares.

por Lucien, o Bibliotecário (que está esquentando água para usar o vapor!)