RESENHA: “BIOGRAFIA DE JOSÉ SARAMAGO” DE JOÃO MARQUES LOPES

3
Biografia de José Saramago, capa

Uma biografia é sempre um risco, pois quem o faz pode transformar o autor(a) em um ícone muito maior do que ele realmente seria ou enfraquecer a sua imagem perante o público. Não nego que os motivos que me levaram a ler Biografia de José Saramago redigida pelo escritor português João Marques Lopes e publicado no Brasil pela editora Leya foram obrigações para com o nosso podcast (CabulosoCast), contudo também não negarei como essa biografia venceu todos os meus medos e soube atrelar autor e obra de modo tão sincero.

Sinopse:

A obra relata episódios da vida de Saramago de sua tenra idade, passando pela publicação do seu primeiro romance Terra do Pecado (1947). Os períodos em que se dedicou a escrever crônicas para o jornal Diário de Lisboa (1974 – 1975) e sua relação com os regimes totalitários.1980 Saramago publica Levantando do Chão um romance que se destaca dos seus primeiros escritos por inalgurar o que seria conhecido como “o estilo saramaguiano”. Onde os discursos diretos e indiretos são subvertivos para compor o todo textual. Este romance deu ao escritor seu primeiro prêmio O Cidade de Lisboa. Entre os anos de 1982 e 1983, publica Memorial do Convento, livro que progetaria o autor para o âmbito nacional e internacional. Daí passamos as polêmicas que envolveram o lançamento de O evangelho segundo Jesus Cristo e a consagração ao Nobel de literatura (o único em língua portuguesa) pela mesma obra e o fenômeno popstar que o autor luso passa a viver depois que o desta premiação.

i

Análise da obra:

O autor (João Marques Lopes) tenta elaborar uma construção do escritor Saramago ao longo de todo o livro. Os fatos apresentados são sempre intrelaçados a possíveis obras ou elementos (in)conscientes que viriam a ser aproveitados nos seus livros futuros. Além de conhecermos detalhes curiosos que levaram a elaboração de outros trabalhos, como, por exemplo A caverna, antes seria chamado de O centro, mas por causa de uma visita do escritor luso a um museo suas perspectivas iriam mudar completamente. Como este mesmo livro, somado a Ensaio sobre a Cegueira e Ensaio sobre a Lucidez, fecham uma trilogia sobre a vitória do neoliberalismo em detrimento do Socialismo que caíra junto com o murro de Berlin. Um ponto bastante positivo do livro Biografia foi a surpreendente decisão de João Marques Lopes de não usufruir muito das Pequenas Memórias (livro que fora escrito pelo próprio José Saramago e que já possui resenha aqui no blog), para evitar plágios involuntários. Se em Pequenas Memórias, Saramago converge, também, fatos do seu cotidiano em possíveis inspiração, Lopes o fez, mas através de outra fonte Os cadernos de Lanzarotes que eram as anotações que o prémio Nobel de literatura faria ao longo de sua vida intercalando memórias com especulações antecedentes as suas produções literárias.

Seja descrevendo elementos históricos ou fatos casuais da vida de Saramago, Lopes não explora alguns pontos que para nós leitores seriam importantíssimos, em grande parte pela escassez de informações, como, por exemplo no caso da vida afetiva com Pilar Del Río. Ou detalhes que antevieram o Nobel. Mesmo assim o livro é uma homenagem no tom certo, como Saramago o foi, um sujeito discreto, mas de língua ferina. Considero a Biografia muito mais prazeroso de ler do que Pequenas Memórias, talvez minha leitura deste houvesse sido mais proveitosa se feita antes depois daquele.

Para quem é fã da obra do velhinho que cativou o mundo e renovou a escrita é uma obra imperdível.

i

Nota:

Avaliação: FODA!