No bairro onde Will mora a violência é uma constante. Todos sabem como agir quando são testemunhas de algum crime. Todos conhecem as três regras para sobreviver nessa região. Em Daqui para baixo, vamos acompanhar a jornada de Will ao tentar obedecer as regras.
Regra número 1: não chorar
O irmão de Will, Shawn, é morto e ele sabe quem é o culpado. Mas chorar é proibido, ele deve seguir as regras e lidar com a dor e a tristeza de outro jeito. Com apenas 15 anos, é difícil saber até como consolar a mãe.
Acompanhamos, então, a noite após o assassinato de Shawn, quando Will se tranca em seu quarto, que dividia com seu irmão. É nesse momento que ficamos sabendo da existência das regras e da determinação de Will em seguir todas elas.
Regra número 2: nunca dedurar alguém
O relacionamento dos moradores daquele bairro com a polícia fica claro com essa regra. Um bairro pobre, com maioria negra, não é uma população que confia nas leis para trazer justiça para o seus. A violência, afinal, é algo presente no cotidiano dessas pessoas. E ela inclui crimes cometidos por policiais.
Portanto, Will não tem nenhum interesse em denunciar o culpado. Ele pretende cumprir a risca a terceira, e última, regra.
Regra número 3: é preciso se vingar
Se alguém faz algo contra você ou pessoas próximas, deve haver vingança. E é esse o plano de Will, quando se levanta no dia seguinte a morte de seu irmão. Assim, com a arma que pertencia a Shawn, ele sai de casa e pega o elevador.
E é nesse instante, enquanto está dentro do elevador descendo até o térreo, que a maior parte da narrativa se passa. No espaço de um minuto para descer 9 andares que Jason Reynolds nos mostra, através de versos, o que se passa na cabeça de Will.
Versos que dizem muito
O fato da narrativa ser escrita em versos torna a leitura uma experiência ainda mais incrível. É uma leitura rápida, as páginas voam quase na velocidade com a qual desce o elevador. Além disso, essa forma de escrita consegue nos passar os sentimentos de Will de maneira singular.
O luto pela perda do irmão, o medo pelo o que está indo fazer, a confusão de um jovem que não sabe se tomou a decisão certa, a urgência de não ser visto. Tudo isso nos é passado em poucas palavras, com uma estrutura narrativa que prende muito o leitor. E ainda mais com uma ambientação claustrofóbica que potencializa cada sentimento.
Acima de tudo, o autor nos mostra, através das paradas que o elevador faz, a realidade daquele bairro e suas consequências para os moradores. Um realidade que possui muitos paralelos com a vivência das pessoas negras aqui no Brasil.
Alguns dos temas tradados são: violência, racismo, falta de infraestrutura urbana e de assistência do poder público e como tudo isso gera um ciclo de agressividade do qual é difícil sair, dentro da comunidade.
Uma leitura tensa, mas tocante
Daqui pra baixo é um livro poderoso que passa uma mensagem importante. E que exemplifica pra gente que as estruturas racistas agem de forma semelhante tanto nos Estados Unidos como no Brasil. É uma leitura intensa, tensa e tocante.
Enfim, recomendo muito a todos. E, para quem procura histórias escritas e protagonizadas por pessoas negras, esse é um livro significativo. Uma dica para quem consegue entender inglês, o audiobook é narrado pelo próprio autor e tem apenas uma hora de duração, é um excelente jeito de conhecer essa história.
Nota

Garanta a sua cópia de Daqui pra baixo e boa leitura!
Ficha técnica
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Título: Daqui pra baixo
Autora: Jason Reynolds
Editora: Intrínseca
Tradução: Ana Guadalupe
Ano: 2019
Páginas: 320
ISBN: 9788551004982
Sinopse: Will perdeu o irmão para a violência. Agora, precisa enfrentar sua realidade e descobrir se a vingança é capaz de aplacar sua dor.
Aos 15 anos, Will conhece intimamente a violência. Ela está à espreita no dia a dia de seu bairro, nos avisos para que não volte tarde para casa, nos sussurros dos vizinhos sobre mais uma pessoa que foi morta. Dessa vez, os sussurros são sobre seu irmão mais velho. Shawn foi assassinado na rua onde a família mora.
Contado do ponto de vista de Will, Daqui pra Baixo é uma narrativa ágil que se passa em pouco mais de um minuto — o tempo que o elevador do prédio leva para chegar ao térreo. Esse é o tempo que Will tem para descobrir se vai seguir as regras de sua comunidade ou se é possível não perpetuar o ciclo de violência.
A regra número 1 é não chorar. A número 2, nunca dedurar alguém. A terceira, a crucial: se fazem algo com você ou com os seus, é preciso se vingar. A curta trajetória do elevador é ritmada pelas paradas em cada andar e por aqueles que aos poucos ocupam a cabine e os pensamentos de Will. Cada rosto tem uma história de vida e de morte. Will, em questão de segundos, vai definir a dele.
Originalmente escrito em prosa, depois em verso, Daqui Pra Baixo faz a emoção — a confusão, a revolta, o medo — de um garoto armado que sai para vingar o irmão crescer também no peito de quem lê. Um livro impossível de ignorar.
![[Resenha] Daqui pra baixo – Jason Reynolds Capa do livro. Um painel interno de elevador riscado e desgastado assim como os botões, que aparecem do 7, no topo, até o 1, na base. Ao lado de cada botão está desenhado em branco, também desgastado o número. O botão do 1, não mostra o número e está aceso. O painel mostra o reflexo embaçado de um homem negro. Na base à esquerda, o titulo do livro e o nome do autor.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2020/06/DaquiPraBaixo-Site-696-390.jpg)

Não esqueça de adicionar ao seu ![[Resenha] Lebre da Madrugada – Arthur Malvavisco Capa do livro. Ilustração com um fundo roxo. Em primeiro plano, uma lebre branca, ao redor dele, ocupando o restante da capa, diversos objetos, uma garrafa, duas flores distintas, uma pena escura, uma pinça, uma tesoura e uma faca com cabo estilizado. No topo, o título do livro em branco com fonte estilizada.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/LebreDaMadrugada-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] A cidade de bronze – S. A. Chakraborty Capa do livro. No fundo, um céu escuro, com alguns pontos luminosos no topo. Na base, uma perspectiva de horizonte com a silhueta de algumas construções em arquitetura árabe em dourado, e uma pessoa caminhando vista bem de longe. Do local dessa pessoa emana uma luz com labaredas amarelas que vão até o topo da capa avermelhando-se. No centro da capa uma mandala, e em primeiro plano o título do livro.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/ACidadeDeBronze-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] Olhos d’água – Conceição Evaristo Capa do livro. Ilustração do rosto de uma pessoa, mostrando apenas o olho, ocupando toda a capa, o olho é castanho, e a pele em tom marrom, tons azuis abaixo do olho mostram que a pessoa está chorando. O fundo é branco. No topo o nome da autora, e logo abaixo o título do livro em azul.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/OlhosDagua-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] Homens de armas – Terry Pratchett Capa do livro. Ilustração cartunesca em tom amarelado mostra um grupo de aventureiros medievais. No grupo faz parte uma guerreira que está a frente, seguida de um guerreiro, do outro lado um homem baixo carregando um machado, mais atras uma criatura semelhante a um ogro, do outro lado mais um guerreiro com machado e um pequeno dragão no ombro. Eles percorrem uma caverna. No topo, o nome do autor e título do livro. Na ponta superior direita, uma faixa com o texto "Discworld"](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/HomensDeArmas-Site-696-390.jpg)
![[Resenha] De Lukov, com amor – Mariana Zapata Capa do livro. Fundo com manchas brancas e azuis claras formando uma textura parecida com gelo. Ocupando toda a capa, um buque de rosas. Em primeiro plano, o titulo do livro ocupando toda a capa, e no centro o texto "Autora bestseller do New York Times e USA Today, Mariana Zapata"](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/08/DeLukov-Site-696-390.jpg)


