[Resenha] A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata

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Capa do livro. Imagem de uma pessoa olhando para o mar, apoiada em um corrimão. No topo, cobrindo boa parte do céu da paisagem, uma carta com um laço vermelho, selos, e o título do livro escrito à mão na carta.
Capa do livro. Imagem de uma pessoa olhando para o mar, apoiada em um corrimão. No topo, cobrindo boa parte do céu da paisagem, uma carta com um laço vermelho, selos, e o título do livro escrito à mão na carta.

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata é um livro escrito a quatro mãos por Mary Ann Shaffer e Annie Barrows. A história fictícia é baseada em acontecimentos da Segunda Guerra Mundial e na ocupação alemã de ilhas no Canal da Mancha durante a guerra.

Tudo começa quando Juliet, uma escritora londrina, recebe uma carta de Dawsey, um morador da ilha de Guernsey. Na mensagem, ele comenta que encontrou seu endereço em um livro que adquiriu e que gostaria da ajuda dela para encontrar alguns livros, já que em Guernsey não há mais livrarias. Os dois começam a se comunicar e aos poucos Dawsey conta sobre a sociedade literária que ele e seus amigos formaram durante a ocupação alemã.

O interesse de Juliet pela história faz com que ela se corresponda com os demais membros do clube de leitura e aos poucos ela se aproxima deles, enquanto tenta reconstruir um retrato dos impactos da guerra.

Não sei como o livro foi parar em Guernsey. Talvez haja algum instinto secreto nos livros que os leve a seus leitores perfeitos. Se isso fosse verdade, seria encantador (P.19).

Leitor ativo para uma leitura ágil

O livro é todo composto por cartas trocadas entre os personagens. Juliet é a personagem central da trama e é principalmente a sua correspondência que o leitor acompanha. Ainda assim, entre envios dela e resposta que recebe, a história é construída. Cabe ao leitor o papel de unir as informações contidas nas cartas para estruturar a história de Juliet e seus amigos.

E justamente por ser escrita em cartas e mensagens, o livro proporciona uma leitura bastante rápida, pois a linguagem adotada pelos personagens é bastante direta e simples. Assim, os fatos são narrados em um ritmo agradável e fluído, permitindo que o avanço seja constante.

Personagens cativantes

Não apenas o ritmo do texto contribui para a leitura fluir, como também os personagens o fazem. São muitos os membros da Sociedade Literária e a curiosidade em saber sobre suas histórias peculiares mobiliza o leitor a seguir adiante.

Isola, Dawsey, Elizabeth, Eben, Eli, Sidney… Cada personagem desperta um carinho especial no leitor por sua forma de ser e por suas histórias que, apesar de marcadas pelo sofrimento da guerra, encontraram superação na amizade e na literatura.

Um retrato íntimo da guerra

A narrativa parte de um acontecimento real: a tomada das ilhas do Canal da Mancha pelos alemães. Apesar de elas pertenceram ao território britânico, são relativamente independentes em suas decisões. Assim, não receberam muita ajuda concreta, ficando sob o domínio alemão por vários anos.

A partir das histórias de seus personagens, A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata apresenta a realidade da guerra sob olhares pessoas de quem vivenciou acontecimentos terríveis e também momentos de esperança e alegria em meio ao que ocorria. Assim, temos um retrato muito íntimo da situação da guerra e de como as pessoas encontravam maneiras de enfrentar o isolamento, as restrições e a violência.

Sobre o poder da literatura

No contexto da guerra, mesmo com histórias e personalidades diferentes, todos os personagens encontraram uma forma em comum de lidar com suas experiências: a literatura. É por meio dos livros que Juliet consegue expressar suas opiniões sobre os fatos da realidade que vive. Assim como por meio dela os moradores de Guernsey encontram uma desculpa para confraternizar e fugir da realidade da ocupação.

É muito envolvente a forma como o livro consegue apresentar essa mensagem sem forçá-la: não há discursos dos personagens sobre a importância da leitura, mas percebemos pela sua conexão com os livros o quanto a literatura os salvou de seus demônios e memórias.

É isto o que eu amo na leitura: uma pequena coisa o interessa num livro, e essa pequena coisa o leva a outro livro, e um pedacinho que você lê nele o leva a um terceiro. Isso vai em progressão geométrica – sem nenhuma finalidade em vista, e unicamente por prazer. (P.20)

E no final das contas…

Com uma escrita delicada, A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata apresenta um retrato humanizado de um episódio bastante tenebroso da história mundial. O livro consegue destacar a beleza dos recomeços e da manutenção da esperança mesmo em meio a situações desesperadoras.

Por isso tudo, vale muito a pena conferir a correspondência trocada entre Juliet e seus amigos, se emocionar com as experiências narradas e refletir sobre como encaramos nossas próprias provações.

Nota

Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.
Cinco selos cabulosos. A maior nota do site.

 

 

 

 

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Ficha técnica

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Título: A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata
Autoras: Mary Ann Shaffer e Annie Barrows
Edição: 1
Editora: Rocco
ISBN: 9788532524102
Ano: 2009
Páginas: 304
Resumo: O título conta a história de Juliet Ashton, uma escritora em busca de um tema para seu próximo livro. Ela acaba encontrando-o na carta de um desconhecido de Guernsey, Dawsey Adams, que entra em contato com a jornalista para fazer uma consulta bibliográfica. Começa aí uma intensa troca de cartas a partir da qual é possível identificar o gosto literário de cada um e o impacto transformador que a guerra teve na vida de todos. As correspondências despertam o interesse de Juliet sobre a distante localidade e narram o envolvimento dos moradores no clube de leituras – a Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata –, além de servirem de ponto de partida para o próximo livro da escritora britânica.

O clube, criado antes de existir de fato, foi formado de improviso, como um álibi para proteger seus membros dos alemães. O que nenhum dos integrantes da Sociedade imaginava era que os encontros pudessem aproximar os vizinhos, trazer consolo e esperança e, principalmente, auxiliar a manter, na medida do possível, a mente sã. As reflexões e as discussões a respeito das obras os livraram dos pensamentos sobre as dificuldades que enfrentavam e ainda serviram para aproximar pessoas de classes e interesses tão díspares, de pescador a frenólogo, de dona de casa a enfermeira.

Instigada pela força dos depoimentos, a jornalista decide visitar Guernsey, onde a convivência com as pessoas que conheceu por cartas e a descoberta sobre as experiências dos ilhéus lhe dão uma nova perspectiva. A viagem proporciona à escritora mais do que material para seu livro. Guernsey oferece a chance de recomeçar após a Guerra, fazer amizades sinceras e encontrar o amor – em suas diversas formas. O que ela encontra por lá, e as relações que trava, mudam sua vida para sempre.

A autora Mary Ann Shaffer não sobreviveu para assistir ao sucesso da sua estreia literária – ela morreu em fevereiro de 2008, aos 73 anos. A sociedade literária e a torta de casca de batata recupera um mundo que se perdeu entre os escombros da guerra, feito de camaradagem e solidariedade, delicadeza e simpatia. Nele, a guerra – e a morte – é vencida por um batalhão de personagens igualmente sensíveis e sedutores, que conduzem os leitores pelas mãos, através de um narrativa, humana e marcadamente feminina, até o fim.