Entrevista com o Vampiro – Anne Rice

0
Recorte da capa do livro, em um fundo quase todo escuro parte do braço de uma pessoa de pele clara usando roupas levemente brilhante e avermelhada. Em primeiro plano, o texto:
Recorte da capa do livro, em um fundo quase todo escuro parte do braço de uma pessoa de pele clara usando roupas levemente brilhante e avermelhada. Em primeiro plano, o texto: "As Crônicas Vampirescas", na linha de baixo, em amarelo: "Anne Rice", e por fim, o título: "Entrevista com o Vampiro"

Entrevista com o Vampiro é, talvez, junto ao Drácula, uma das maiores ficções sobre vampiros já escritas. Não somente por toda a construção narrativa e de universo, mas por tudo que causou após sua publicação. As influências de Entrevista com o Vampiro desde que foi publicado é imensa, e pode-se dizer que ela alterou, de certo modo, a forma como os vampiros passaram a ser vistos, principalmente após o filme.

Um vampiro entra num bar e…

O livro conta a história de Louis, um vampiro que já viveu alguns séculos e, certo dia, encontra um jornalista em um bar. Poderia ser o começo de alguma piada ruim, mas é assim mesmo que Anne Rice começa a narrativa sobre a jornada de um vampiro, desde o momento em que foi transformado, passando por toda a sua desgraça e descrença com a humanidade, até o momento em que se cansou tanto que quer revelar seu segredo para alguém, quer conversar, quer expor o que é, como chegou até ali. A personalidade de Louis é um ponto interessante de ser observado, e algo que várias outras produções procurariam inspiração nos anos seguintes. Louis é melancólico, triste, ser vampiro para ele é um fardo maior que para os outros vampiros que conhece. Ele ama a cultura, seus livros, o teatro. De alguma forma, ele acaba se ligando ao mundo que deixou pra trás procurando coisas ao que se apegar. Evita, ao máximo, se alimentar de humanos, e prefere se alimentar dos animais. Louis não é, de forma alguma, o vampiro assassino e sanguinário que costumava fazer parte do imaginário.

Louis passou por muita coisa em sua (semi) vida de vampiro. Quem o transformou foi Lestat, talvez o maior personagem de Anne Rice.  A autora é realmente apegada ao personagem, visto que muitos dos livros seguintes contam com (pelo menos) a menção ao vampiro . Quase como um Lestatverse, onde ele já aprontou de tudo.

“Família” pouco convencional

E, sobre aprontar de tudo, em Entrevista com o Vampiro temos um pequeno vislumbre dessa personalidade problemática de Lestat. Louis passa uma boa parte do livro falando ao jornalista das atitudes impensadas e terríveis daquele que o transformou. Lestat, ao contrário do Louis, está muito mais próximo ao vampiro sem coração de que estamos acostumados. Ele realmente não se importa com matar humanos, as vezes até torturando suas presas ao máximo antes de se alimentar delas. Inclusive, Lestat não se importa quem são suas vítimas, se vão suspeitar de algo, se algo vai dar errado. Tudo que ele quer, quando encontra Louis, é poder manter uma vida que lhe garanta certas facilidades: Louis é dono de terras, tem dinheiro, e Lestat precisa de um local para manter seu pai a salvo, um senhor já cego e com a idade avançada (no livro, no filme não há menção ao pai de Lestat, e tudo que ele procura em Louis é seu dinheiro e sua fazenda).

Após um ataque mal sucedido de Lestat na fazenda, chamando a atenção dos escravos, que perceberam que algo errado acontecia na casa, Louis e Lestat se mudam para a cidade. Vão para Nova Orleans e, após um tempo, acabam transformando uma garotinha chamada Claudia para ser vampira também. Claudia logo encontra uma figura fraterna em Louis e Lestat, mas conforme cresce percebe que nunca será uma mulher completa, permanecendo com o corpo de criança, e isso gera um grande conflito, principalmente entre Lestat e Claudia. Claudia desenvolve uma personalidade difícil, e não gosta que mandem nela, fazendo com que Claudia logo se rebele contra Lestat e faça um plano para matá-lo. Ao fazer isso, foge com Louis para a Europa.

Claudia é uma criança em sua aparência, mas viveu muitos anos como vampira. Apesar de sua amizade com Louis, pensando nele como uma figura familiar, sua personalidade se afasta bastante da do vampiro mais velho.

Outros como Eu

Ao irem para a Europa, Louis realiza algo que queria a muito tempo: conhecer outros vampiros, que não fossem o Lestat, saber que existem outros como eles. Porém algo ameaça a tranquilidade dos dois, quando descobrem que Claudia e Louis assassinaram outro vampiro, uma das grandes regras dos vampiros, além do grande problema de Claudia ser uma vampira criança.

Claudia acaba morta pelos companheiros vampiros em Paris, e Louis se vinga de todos eles. Armand, um dos vampiros que Louis conheceu em seu tempo na cidade, acaba se tornando companheiro de Louis. Ambos voltam para os Estados Unidos, mas algo foi perdido em Louis após a morte de Claudia.

Louis se tornou um vampiro taciturno e quieto após a morte de Claudia. Perdeu o gosto pela vida. Apesar de perceber que a criança já era um problema, que estava se tornando um monstro (e não só poder ser um vampiro, mas por perder aqueles resquícios de humanidade que eram tão importantes para ele), Louis acabou ficando ressentido. Armand, ao notar, percebe que não pode continuar com ele.

Louis, ao final de sua narrativa, se reencontra com seu antigo amigo Lestat, que sobreviveu e ainda vive na cidade, meio decadente, não sendo metade do vampiro que foi um dia.

Análise e opiniões

O livro de Anne Rice dá início a um universo que passa a ser construído com calma e paciência, sobre vampiros e humanos, sobre dificuldades que seres mortais encontram ao se tornarem imortais, abandonarem um lado que estavam tão acostumados. Acordar certo dia com todos os sentidos aguçados, mas não reconhecendo o próprio espaço em que estão. Apesar de todas as questões que envolvem essa produção, a todas as críticas a alguns personagens e algumas escolhas da autora, é notável a preocupação que teve com alguns deles. Ao distanciá-los da humanidade, acabou trazendo alguns deles para mais perto ainda de sentimentos humanos muito comuns: egoísmo, raiva, ódio, tristeza, melancolia.

Louis é o retrato e o modelo de um personagem que se tornou bastante comum em narrativas de vampiros posteriores, como Only Lovers Left Alive, onde o vampiro é quieto e pensativo, filosófico, reflete sobre sua existência antes de colocá-la ao mundo.

Entrevista com o Vampiro pode ser vista como uma enorme reflexão de Louis sobre sua própria vida, sobre tudo que fez e tudo que passou, com seus comentários, percebendo que não adiantou tudo que passou, ainda é demasiadamente humano, e sente como os humanos, tanto a perda quanto a morte.


Resenha escrita por Jéssica Reinaldo (@capirojesca)

3 selos cabulosos

Garanta seu exemplar no link abaixo e boa leitura!

logo da “amazon” em preto num fundo amarelo

Ficha Técnica

Entrevista com o Vampiro

Nome: Entrevista com o Vampiro
Autor: Anne Rice
Tradução: Clarice Lispector
Edição: 10ª
Editora: Rocco
Ano: 2009
Páginas: 334
ISBN: 8532501028
Sinopse:Uma história que começa com a ousadia de um jovem repórter ao entrevistar Louis de Pointe du Lac nascido em 1766 e transformado em vampiro pelo próprio Lestat figura apaixonante que terminará ao longo da série arrebatando multidões como cantor de rock.´— Quer dizer que ele sugou o seu sangue? – perguntou o rapaz.— Sim o vampiro sorriu. É assim que se faz.´Louis esse vampiro que se recusa a livrar-se das características humanas e aceitar a crueldade e a frieza que marcam os vampiros continua a contar a história desde o início:

´— Escute mantenha os olhos abertos – murmurou Lestat com os lábios encostados em meu pescoço.— Lembro-me que o movimento de seus lábios arrepiou todos os cabelos de meu corpo enviando uma corrente de sensações através de meu corpo que não me pareceu muito diferente do prazer da paixão…´É um mundo de uma fantasia impressionante um mundo gótico romântico esse criado por Anne Rice e traduzido por Clarice Lispector. O texto da autora americana não poderia ter melhor intérprete talvez mesmo cúmplice.