Tive que fazer uma releitura do conto para escrever essa resenha e a mesma impressão que tive da primeira vez que li a alguns anos ainda se mantém. Em muitas partes parei para dar uma respirada pois o que acontece naquelas páginas é profundamente marcante, a ponto de me fazer relembrar de determinados trechos mesmo depois de dias após o término da leitura.
“A oeste de Arkham as colinas sobem agrestes, e há vales com florestas fechadas que nenhum machado cortou. Existem vales escuros e estreitos, onde as árvores se inclinam de uma forma fantástica e onde pequenos regatos correm sem nunca terem recebido sequer o lampejo de um raio de sol.”
A cor que caiu do céu e mudou tudo
Publicado em setembro de 1927 e vendido para a revista de ficção científica Amazing Stories por apenas $25.00, “A cor que caiu do espaço” conta a saga do narrador (do qual não sabemos o nome) indo para a o oeste de Arkham para realizar o levantamento topográfico de uma região para um novo reservatório de água. Passando pela cidade, ele ouve falar de um lugar popularmente chamado de “charneca maldita” ou a fazenda de Nahum Gardner. Conversando com algumas pessoas, ele descobre parte do mistério a partir de um velho que diz saber o que aconteceu com a família que há alguns anos morava ali.
Esse homem é Ammie Pierce: um homem na casa dos 80 que vai esclarecer de forma perturbadora o motivo da mal fama da região. Em junho de 1882 um meteorito cai do céu e com ela um cor estranha que ninguém sabe ao certo identificar ou descrever com precisão. Após um período, essa cor acaba envenenando tudo o que está a sua volta, fazendo com que a vegetação comece a reagir de forma esquisita, os animais comecem a morrer e com que a família que vive ali seja gravemente afetada.
Não se sabe de qual material o meteorito é feito nem mesmo quais os seus poderes. Toda essa falta de informação contribui para a construção o terror tipicamente lovecraftiana que samba entre ficção científica e magia.
Experiência de leitura
Quando se começa a ler “A cor que caiu do céu” é impossível largar até terminar chegar à última pagina. Desde o primeiro parágrafo somos envolvidos na ambientação perfeitamente equilibrada e convincente na medida do possível. Toda a descrição melancólica da vegetação e o clima estranho é extremamente vívido e colorido, nos dando de fato a impressão que algo não amigável está à espreita. A escrita como tudo o que Lovecraft produziu é meio rebuscada, o que pode dificultar a leitura para os iniciantes na literatura do autor. Mas sim, posso dizer que esse é um dos melhores senão o melhor dos seus escritos.
Não acho que Lovecraft é o melhores escritores do mundo e sou muito vocal e relação a isso, mas admito que ele tinha uma imaginação muito efervescente e ímpar. A única coisa que me incomoda é sua mania de usar palavras demais para descrever coisas simples, sempre forçando um lirismo que não existe e tentando reproduzir um falso épico, além de exagerar na caracterização de certos acontecimentos.
Ignorando-se isso recomendo fortemente para quem já leu outras coisas dele, mas já para os leitores de primeira viagem indico que leia os ótimos “Horror de Dunwich” e “Sussuros na Escuridão”, pois ambos exemplificam e introduzem bem toda a sua mitologia cósmica.
A edição que li é a “Grandes Contos” da editora Martin Claret que me surpreendeu pela boa tradução e qualidade gráfica do livro. Enquanto avançava na leitura, a comparei com a outra edição em inglês “The Complete Fiction” da Barnes&Noble e não achei nada que me decepcionasse.
Nota

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Nome: A cor que caiu do espaço
Autor: H. P. Lovecraft
Tradução: Guilherme da Silva Braga
Edição: 1ª
Editora: Hedra
Ano: 2011
Páginas: 104
ISBN: 9788577152438
Sinopse: A cor que caiu do espaço (1927) marca o primeiro passo decisivo de Lovecraft em direção ao horror cósmico inspirado pela ficção científica. Na história, um vilarejo a oeste de Arkham vê-se ameaçado quando um meteoro cai na propriedade de um fazendeiro local e traz consigo uma estranha aberração cromática que afeta a flora e a fauna da região — e cria o cinzento e estéril “descampado maldito” onde nada cresce. O volume traz ainda em apêndice os textos “Notas sobre uma não entidade” (1933), o mais longo relato autobiográfico escrito por Lovecraft, “A confissão de um cético” (1922), breve ensaio em que o autor traça a evolução dos próprios interesses religiosos, científicos e filosóficos ao longo da vida, e “Notas sobre ficção interplanetária” (1934), artigo em que defende as possibilidades artísticas da ficção científica e ataca os clichês deste gênero.
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