O velho Logan

0

O velho Logan é uma HQ ambientada num universo distópico, escrita pelo Mark Millar e desenhada por Steve McNiven (mais um trabalho da dupla que escreveu o arco inicial de Guerra Civil, já resenhado no Leitor Cabuloso; leia clicando aqui) sendo publicada originalmente em Wolverine #66-72, terminando em Wolverine Giant-Size Old Man Logan em setembro 2009, lançado no Brasil em 2014 pela editora Salvat (edição capa-preta).

O quadrinho conta a história de um Logan (pai de família), que aposentou suas garras,
vivendo num mundo onde não existem mais super-heróis, até o dia em que um antigo aliado surge para lhe propor um serviço do qual ele se vê obrigado a aceitar.

O arco narrativo é dividido em três atos bem marcados. No primeiro ato, somos apresentados ao Logan, sua família e a condição precária em que ele vive e o que o faz aceitar o “trampo” proposto; no segundo ato, somos apresentados ao universo de “O velho Logan”, a escolha narrativa, para mim, foi excelente. No melhor estilo “on the road”, vamos cruzar literalmente os Estados Unidos junto com Logan, seu contratante e um veículo muito peculiar; no terceiro e último ato, Logan retorna para casa e enfrenta um antigo inimigo/amigo.

A arte de McNiven é um deleite, tanto é que as imagens escolhidas para compor este post são meras exemplificações (e cuidadosamente selecionadas para não estragar sua experiência). Mesmo que você não curta o enredo não tenho dúvidas de que as representações imagéticas deste mundo irão lhe impactar.

Outro ponto de destaque é que o próprio universo do velho Logan é muito maior do que as suas 240 páginas deixam transparecer. Somada ao apelo visual de McNiven faz com que o leitor viaje junto através das capitais americanas. Millar nos mostra o mundo como está, mas não traz explicações detalhadas de como o que grande levante dos vilões aconteceu. Recebemos migalhas durante a HQ toda e isso é outro ponto positivo.

Alerta de spoiler

Mas nem tudo são flores…

Os dois primeiros arcos são muito bem feitos. Cumprem a sua função narrativa. Nos apresentam este Logan e seu mundo, no entanto o terceiro arco é o mais fraco e, para mim, até contraditório mediante a construção inicial do destruído Logan.

Devido ao fato de ter matado todos os X-Men, Logan jurou nunca mais usar suas garras, contudo após o assassinato de sua família pelos membros da gangue Hulk, motivam-no a ressucitar o Wolverine e promover uma chacina da própria gangue. Eis que somos levados até o matriarca da família, Bruce Banner, que revela seu plano de atiçar a ira de Logan, pois aquele estava entediado. O combate, sem muita emoção e com final bastante previsível, faz com que Wolverine mate Hulk e descida montar seu próprio grupo para por o mundo nos eixos.

Como é um mundo de super-heróis sabemos que essa saga do Logan seria usada para compor uma nova série da Marvel e esta necessidade de fazer disto uma série e impor como grande clímax o momento em que o vemos sacar suas garras só para termos o Wolverine de volta deveria sem épico, mas não foi, pelo menos não para mim. Imaginemos todo o histórico do Logan, todas as tragédias, todos os amores perdidos, todo o seu drama pessoal com o projeto Arma X, culminando na chacina involuntária do grupo dos X-Men (veja bem, ele matou todos do instituto Xavier, inclusive Jubileu), para, na primeira contradição abrir mão do seu juramento? Não estou a dizer que o assassinato de sua esposa e filhos foi pouco, mas que não há uma gradação da fúria. Não há construção de uma fera enjaulada.

Existem cenas que mostram que Logan está se segurando. Há até um momento na HQ que o Gavião arqueiro está para ser morto por uma gangue de “motoqueiros fantasmas” e nosso protagonista nem cogita usar as garras para salvar o amigo. É tudo muito súbito, de repente. Fora que a morte da família dele é um recurso narrativo fácil para termos uma continuação, afinal de contas se ele voltasse para a sua casa depois da missão cumprida e voltasse a viver com sua família que graça teria. Criei uma expectativa de ver um Logan em paz com o Wolverine e essa foi a minha grande decepção este desfecho.

Sobre o embate final vejo diversas contradições. Bruce Banner enlouquecer e criar uma família com sua prima (a mulher Hulk) tudo bem, faz sentido diante da história do personagem, em vários momentos já me fiz a pegunta de que como Banner não enlouquecia. No entanto, a cena do Hulk comendo Logan (sério mesmo que um esqueleto de adamantium é facilmente quebrável com os dentes do Hulk?) e a própria morte do Hulk, sabendo que este tem um fator de cura tão (ou senão até mais) poderoso que o do próprio Wolverine criaram um final conveniente demais.

Por isso dou nota:

O Velho Logan é uma história fabulosa que traz elementos de grandes clássicos do cinema como Mad Max, A Estrada e o Livro de Eli. Mostra um Logan quebrado de uma forma que poucas vezes já vimos e lutando constantemente contra seu lado animalesco, já que este fora responsável pela grande, e talvez maior, tragédia da sua vida. A edição da Salvat ainda traz vários extras com informações do personagem além de entrevistas com os artistas. E agora que temos a chance de colecionar Lobo Solitário (também já resenhado no site; leia clicando aqui) vai encontrar um easter egg para os fãs deste mangá.

É uma leitura obrigatória para quem é fãs do carcaju.