Hoje, dia 7 de janeiro, é dia do leitor. Muito já falamos aqui sobre o ato de escrever, sobre editoras, mercado editorial, sobre o livro em si… no entanto, e o leitor? Onde ele se encaixa? É pensando nisto que decidi guiar este texto.

Ano passado tivemos uma polêmica declaração de um escritor que sem papas na língua disse que por ele o leitor podia “se fuder”. Na época, diferente de muitos não achei a declaração tão aterradora assim, afinal de contas, ele enquanto escritor tem o direito de dizer que não escreve para o seu leitor, mas para si, pouco importa se seus livros serão comprados e lidos, sua fixação é pela escrita (essa foi a minha interpretação). Considerei, apenas, indelicado para um homem das letras dirigir a seu público desta forma, mas repito, para mim, é um direito dele.

Pensamos geralmente no leitor como uma etapa final. A ideia aparece, alguém escreve, alguém publica e um outro alguém lê. A leitura é, porém, uma atividade de interação entre o autor, o texto e o leitor. É impossível acreditar que o ato de ler ocorra sem estes três elementos.

Há em todas as etapas de produção de um livro um leitor idealizado.

  • O leitor para o escritor: todo o escritor precisa imaginar um leitor ideal, mesmo que inconsciente, faz-se necessário supor que quem lerá sua obra tenha um conhecimento prévio para compreender o que está escrito. Já pensou se o escritor tivesse que sempre explicar tudo para o leitor? Na frase: “Ele puxou a cadeira e sentou.” Você acha necessário que eu explique que “ele” é pronome pessoal do caso reto que retoma um substantivo masculino próprio que é o sujeito da frase citada para que você possa visualizar a cena de alguém pondo a mão sobre uma cadeira e sentando-se nela? Se escreve uma fantasia não precisa justificar o fato das viagens serem feitas sobre cavalos e não sobre motos. Se escreve ficção científica não precisa explicar por que o personagem esta conversando com um robô e por ai vai.
  • O leitor para o escritor (parte 2): considere que você seja um escritor que manda um “foda-se” para o seu leitor e relembrando que o conceito do leitor ideal é inconsciente, é impossível imaginar a escrita profissional de uma obra sem um leitor-beta (beta reader). Terminou de escrever? Por que não selecionar um grupo de pessoas da sua confiança para ler o seu trabalho e saber se as palavras dispostas no papel fazem sentido quando longe de seu criador? A revisão de um leitor beta é fundamental. Sem contar que quando um escritor assina um contrato com uma editora o livro ainda irá passar por outros olhos como do editor, por exemplo.
  • O leitor para a editora: se o livro é um produto e o leitor é o consumidor, saber o público-alvo direciona a capa, a diagramação, a divulgação… (caso o escritor já tenha ideia do seu púbico-alvo isto também ajuda no processo e faz com que o mesmo ganhe pontos com as editoras). Um exemplo simples são as capas da série de As Crônicas de Gelo e Fogo nacionais feitas pelo Marc Simonetti e as capas americanas. É quase inegável que para o leitor brasileiro as capas gringas não são atrativas. Isto, importante lembrar, porque estou pensando apenas em uma parte do livro, mas o leitor, pensado aqui como público-alvo, está presente em cada etapa até mesmo na disposição dos livros dentro de uma livraria ou você acha que uma editora paga que expor qualquer livro na entrada?
  • O leitor para o leitor: amigos, blogueiros, podcasters, you tubers. Não estamos só lendo o que queremos somos influenciados constantemente. Quem nunca ficou se contorcendo para enxergar a capa do livro que um desconhecido lia a uma certa distância? Quem nunca recebeu uma indicação de uma obra que se dependesse de nós, jamais estaria em nossa lista de leitura? Acompanhamos o trabalho de pessoas na internet as quais depositamos nossa confiança e/ou nos identificamos enquanto leitores e passamos, desta forma, a querer saber não só o que estão lendo, mas se gostaram ou não do que leram. E admitamos, olhamos atravessado para aquele livro que alguém de nossa confiança falou mal.

Tenho consciência que fui simplista elencando apenas quatro tópicos da importância do leitor para a literatura. Cada um deles leva a vários subtópicos que por sua vez levariam a outros subtópicos. Contudo quis provar que não estamos no final do processo, na calda da cadeia da leitura e que, também, não somos os cordeirinhos que consomem os produtos que foram escritos pelo escritor e publicados pela editora. Estamos presentes mesmo quando estes ainda nem sabem se vamos investir o nosso dinheiro em suas obras.

Um feliz dia do leitor e como não poderia deixar ser: boas leituras!