[Quadrinhos] Guerra Civil de Mark Millar e Steven McNiven / Panini Books

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O terceiro filme do Capitão América chega aos cinemas trazendo com ele a adaptação de uma das mais aclamadas sagas da Marvel dos últimos tempos. Mas do que se trata Guerra Civil? Se você for um leitor de quadrinhos de super-heróis, então, com certeza você já leu, mas com o filme chegando e a Panini relançando a saga em um encadernado luxuoso nas livrarias, achei que seria interessante falar um pouco sobre ela.

Como se trata de uma história de dez anos e com consequências que repercutem até hoje, não vou segurar os spoilers. Esteja avisado.

Guerra Civil foi um evento da Marvel Comics, lançada originalmente em 2006. Antes dela, praticamente todos os grandes eventos que reuniam heróis eram sagas espaciais. Para mim, o primeiro grande mérito de GC foi justamente trazer os super-heróis para a terra e discutir o panorama político. A história começa quando um grupo de super-heróis despreparados decide emboscar um grupo de vilões que estava escondido em uma casa no subúrbio, isso diante das câmeras de um reality-show. A luta rapidamente sai do controle, e como resultado acontece uma grande explosão que destrói uma escola, matando mais de seiscentas pessoas, a maioria crianças. O incidente gera uma gigantesca comoção popular e coloca a opinião pública contra os heróis.

O governo americano decide, então, adiantar a votação da lei de registro de super-humanos, que dizia que todos os cidadãos americanos que tivessem qualquer tipo de super-poder deveriam ter sua identidade revelada e se por a serviço do governo. Essa lei provoca uma cisão entre os dois lideres dos Vingadores. O Homem de Ferro, como um apoiador da lei, defende que os Super-heróis deveriam se responsabilizar pelas consequências de seus atos. E o capitão América, que defende a liberdade do cidadão de lutar por aquilo que acredita e não contra o que governo determina.

Pessoas tomaram lados, não só entre os heróis, mas também entre os leitores, criando um evento tão bem sucedido comercialmente que chegou a ser notícia na imprensa intencional. Mas toda essa relevância que história alcançou se deu por causa da época em que ela foi publicada. Guerra Civil  foi criada no período em que os EUA estava vivendo a paranoia do pós 11 de Setembro. Os cidadãos estavam perdendo seus direitos civis de liberdade e privacidade, por medo do terrorismo. Essa é a discussão central da história, o quanto podemos abrir mão de nossa liberdade em troca da segurança. Hoje, ainda vivemos essa paranoia, mas não com tanta intensidade, quanto há dez anos. Esse contexto histórico é importante para o entendimento da saga. Muitos dos leitores de hoje eram jovens demais naquela época para entender o que estava acontecendo, e ler essa história dez anos depois, sem ter vivido aquele momento histórico, faz como que a obra perca parte de sua força.

Guerra Civil

Mark Millar é um popstar dos roteiros dos quadrinhos. Ele escreveu Authority, Supremos, Superman: entre a foice e o martelo, Kick-ass, Procurado, só para citar alguns. Praticamente tudo o que o cara põe a mão vira um sucesso de vendas e uma rentável adaptação cinematográfica. Isso se dá por dois motivos: ele é um escritor que sabe criar plots interessantes em suas histórias e escreve cenas de ação como poucos. Não é a toa que boa parte do universo cinematográfico da Marvel é baseado no trabalho dele em Supremos e não no material clássico da editora. Porém, nem tudo são flores, Millar muitas vezes é criticado por criar tramas melhores do que sua capacidade de desenvolvê-las. E Guerra Civil é um exemplo.

GC foi um trabalho feito a cinquenta mãos, construído cuidadosamente, com anos de antecedência. Millar ficaria encarregado da mini-serie principal, mas todas as ramificações e consequências desse grande evento estavam sob a responsabilidade dos escritores das outras revistas da editora.  Alguns desses tie-ins chegam a ser até melhores que o evento principal, como exemplo da revista do Capitão América e a mini-série Frontline. Ler apenas a mini-serie, sem se importar com esses tie-ins, deixa buracos na história. De onde o Coisa está voltando na batalha final? Onde está o Hulk? Onde está o Thor? A única consequência de Homem-Aranha ter revelado sua identidade foi o J. J. Jameson caindo da cadeira?

Guerra Civil Peter Parker

O que temos aqui, trazido encadernado em uma edição de luxo pela Panini, é a parte central de um evento maior. Essa mini-serie traz os acontecimentos mais importantes e as principais batalhas, mas discussão ideológica e o aprofundamento dos pontos de vista dos personagens foi deixado de fora. Para se ter uma ideia, a morte do Capitão América, uma das consequências mais importantes do evento, acontece na revista mensal do personagem e não é mostrado na mini-série. As histórias paralelas dos Vingadores e Capitão América também foram encadernados pela Panini em edições de luxo, mas o restante ficou para trás. Caso você tenha alguma dessas revistas antigas, eu recomendo que guarde bem.

Como ponto alto, eu posso citar a ação. A cena da fuga do Capitão América do porta-aviões da SHIELD já se tornou icônica, e as grandes sequencias de batalha, envolvendo dezenas de super-heróis, são coisas que não se vê o tempo todo na Marvel, sendo mais comum na Distinta Concorrência. Esses grandes momentos, com certeza, não teriam o mesmo brilho se fossem desenhados por outro que não Steven McNiven. Ele tem um estilo de narrativa cinematográfica que ajuda muito na fluides da história, e além disso, o cara sabe como fazer uma splash-page como ninguém. O artista canadense ganhou notoriedade na editora após sua ótima participação na revista Marvel Knight’s 4. Então era compreensivo que a editora o tenha guardado na manga só esperando alguma boa oportunidade para usá-lo. A parceria entre ele e Millar se tornou tão popular que se repetiu em Wolverine: Old Man Logan e em Nemesis.

Guerra Civil

Para finalizar, eu posso dizer que Guerra Civil é uma história que vale a leitura, vale ser guardada bonitinha na estante, principalmente em uma edição tão bem acabada quanto a que está nas livrarias agora, e com certeza, vale uma ida ao cinema, mas, lendo hoje, com olhos mais maduros, e deixando para trás todo o hype da época em que ela foi lançada, eu não acho que ela valha uma nota máxima.

NOTA:

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Guerra Civil capaAutores: Mark Miller (história), Steve McNiven (arte)
Origem:
Estrangeira
Edição:
Editora:
 Panini
Ano: 2015
Páginas: 208
Sinopse: A ação precipitada de um grupo de jovens super-heróis acarreta uma tragédia sem precedentes, deixando um saldo de centenas de mortos. Diante da pressão popular, o governo sanciona uma lei determinando que todos os superseres sejam registrados. A iniciativa divide a comunidade heroica como nunca antes. De um lado, a facção pró-registro, liderada pelo Homem de Ferro; do outro, os contrários à medida, tendo à frente o Capitão América.
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