[Coluna] De repente descobri: Charles Schulz

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Eu acho que eu não poderia começar essa coluna de outra forma. Afinal não há como falar de Charles Schulz, sem falar de sua mais amada obra: Peanuts. Talvez muitos de vocês não conheçam esse nome, mas quem não se lembra de Charlie Brown e sua turma, dos famosos personagens como Snoopy ou Patty Pimentinha que alegravam as nossas manhãs no sbt? Pois então, Peanuts é o nome da tirinha que deu origem ao mundo de Charlie Brown e Snoopy, um grupo de crianças cujas reflexões extrapolam as suas idades, e cujo carisma e identificação alcançaram diversas gerações, sendo considerado um sucesso até os dias de hoje.

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Sabemos que não é a toa que a tirinha tenha sido publicada durante cinquenta anos, e que tenha se transformado em desenho, filmes e tanto outros produtos licenciados, que  transforam Charles Schulz na década de oitenta em um dos dez artistas mais bem pagos da América. Hoje Charlie Brown e Snoopy não são apenas personagens famosos de uma tirinha ou de um desenho, a coragem de Schulz ao introduzir temas tão polêmicos; como a depressão, ansiedade e desilusão, pelo olhar de crianças foi tão revolucionário que acabou fazendo escola, e nos presentando com talentosos cartunistas como Quino (Mafalda) e Bill Watterson (Calvin e Haroldo), além de deixar um legado artístico tão inigualável que o fez permanecer atemporal. Então se você até hoje nunca ouviu falar deles eu lhe asseguro, você não faz ideia do que está perdendo.

  • Quando Tudo Começou
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Charles Schulz

Charles Monroe Schulz nasceu em Minneapolis, Minnesota (EUA), no dia 26 de novembro de 1922. Cresceu em um bairro de operários e era filho único de Dena e Carl Schulz. Segundo sua mais recente biografia publicada, Schulz and Peanuts, escrita por David Michaellis, “Schulz foi criado num ambiente sufocante, regido pela igreja e pela família, onde a leitura de livros era vista como algo estranho e onde as crianças, longe de estarem acima da média, eram desencorajadas a desenvolver sua auto-estima.” Algo que segundo o biografo explica muito a personalidade do cartunista.

Desde o seu nascimento, os quadrinhos tiveram um papel muito importante em sua vida. Um tio apelidou-o de Sparky por causa do cavalo Spark Plug, da tira Barney Google. E quem poderia imaginar que esse apelido iria moldar toda a sua história, vinculando o desde pequeno ao trabalho que viria nortear toda a sua trajetória.

Contudo, ao terminar o colégio sua timidez e insegurança o impediram de frequentar a faculdade de artes e o levaram para um curso por correspondência na Art Instruction Inc., cuja reputação era ser o tipo de escola que ensinava a fazer anúncios no verso de caixas de fósforo. Schulz, contudo, achou as lições tão instrutivas que posteriormente se juntou ao corpo docente da instituição.

Entretanto, em 1942 ele foi convocado para a guerra, e aterrorizado, foi para o quartel logo depois que sua mãe faleceu. O que ninguém esperava era que na verdade ele se tornasse bem sucedido no exército, voltando para casa mais confiante em si mesmo. Esse período se reflete posteriormente em sua obra, em que um dos alter-egos de Snoopy é ser um piloto de avião de guerra, e cujo maior inimigo é o barão vermelho, uma clara referência ao piloto alemão Manfred Von Richthofen.

  • A Primeira Publicação

Entre 1947 e 1949 publicou a tira Li’l Folks no St. Paul Pioneer Press, seu primeiro trabalho reproduzido com regularidade. O nome Charlie Brown foi usado pelo  primeira vez nessa tira, mas ainda não era o mesmo personagem que se tornou conhecido por Peanuts. Li’l Folks também tinha um cachorro muito parecido com Snoopy. Depois de muitos “nãos”, Schulz finalmente realizou seu sonho de ter uma tira nacional diária quando Peanuts debutou em sete jornais em 2 de outubro de 1950 e posteriormente se tornou um grande sucesso internacional.

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Mas nem tudo era perfeito, Schulz jamais aceitou o nome que lhe foi imposto para a tira, Peanuts, que os editores acreditavam fazer uma referência às crianças, mas para o autor, existia o perigo dos leitores confundirem o título da tira com o seu protagonista, o que de certa maneira aconteceu por aqui, em que Minduim foi o nome dado, durante muito tempo, a Charlie Brown.

  • A Autobiografia

A maioria dos biógrafos de Schulz concorda que a sua obra era transparentemente autobiográfica. Ele emprestou aCharlesSchulz muito de seus personagens características próprias, assim como retirou de seu cotidiano vários de seus personagens. O tímido e inseguro Charlie brown era o próprio Charles Schulz, assim como o esquisito e filosófico Linus, o talentoso Schroeder, ou mesmo o próprio Snoopy com seus delírios e suas fantasias. A inalcançável garota ruiva em sua vida, verdadeiramente existiu, assim como a mandona, impaciente e sarcástica Lucy, era uma clara referência as mulheres que o rodeavam, especialmente sua mãe e sua primeira esposa, Joyce.

  • A Despedida

Quando Schulz anunciou seu afastamento por motivos de saúde, em dezembro de 1999, Peanuts era publicada em mais de 2,6 mil jornais ao redor do mundo. Em seu auge, a tirinha atingia 300 milhões de pessoas em 75 países e 21 línguas todo dia. Contando com vários especiais animados para a TV, e posteriormente tornando-se um musical da Broadway: “Você é um cara legal, Charlie Brown”. O cartunista morreu no dia 12 de fevereiro de 2000, em Santa Rosa, na Califórnia, de ataque cardíaco. Um dia após seu falecimento sua última tirinha foi publicada, era um adeus a todos os seus fãs e a seus personagens tão queridos. Em sua homenagem foi inaugurado o The Charles M. Schulz Museum and Reserch Center em agosto de 2002, em Santa Rosa, na Califórnia, com a missão de preservar e expor o grande legado artístico do cartunista.

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Algumas Curiosidades:

  1. Para desenhar Snoopy, o cão da raça Beagle, Charles Schulz se inspirou em um cachorro branco e preto chamado Spike, que ele ganhou quando tinha 12 anos. Mais tarde, acabou emprestando o nome ao irmão de Snoopy. O protagonista das tirinhas tinha ao menos outros quatro irmãos, que foram apresentados aos leitores ao longo do tempo: Belle, Marbles, Olaf e Andy.
  2. Na infância, Schulz era muito ligado aos esportes. Uma derrota de 40 a 0 sofrida pelo time de baseball em que ele jogava pode ter sido a inspiração para as experiências esportivas desastrosas da turma de Charlie Brown.
  3. O 40º presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, escreveu uma vez um bilhete de fã para Schulz, dizendo que se identificava com Charlie Brown.
  4. Os astronautas da Apollo 10 deram o nome de Charlie e Snoopy a seus veículos de órbita e de pouso.

Ps: Dia 14 deste mês estreia nos cinemas de todo o país, Snoopy e Charlie Brown, Peanuts: O filme. Se você já conhece essa turma não deixe passar essa oportunidade de reencontra-los, e se você ainda não conhece, o que você está esperando? Corra para o cinema assim que estrear!

Assista ao trailer: