[Coluna] Dicas de escrita de Octavio Aragão

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No mês de novembro tivemos o NaNoWriMo acontecendo. Para quem ainda não sabe o que é, trata-se de uma espécie de concurso/jogo em que os participantes se comprometem escrever um romance de no mínimo 50.000 palavras.
Deve-se, portanto escrever cerca de 1.667 palavras por dia, todos os dias durante este mês. O objetivo não é escrever de primeira uma obra prima. O objetivo é, antes de mais nada, iniciar e terminar o romance. Trata-se de um desafio considerável.

Para entender melhor, recomendo que você acesse o texto da autora Juliana Costa, que postou uma explicação bem mais completa sobre o desafio e eu aconselho a leitura. Além disso, o Leitor Cabuloso e Cabulosocast estão apoiando o projeto de apoio ao NaNoWrimo do site Supernovo. Vale a pena ver sobre o projeto.

Para ajudar a todos que decidirem abraçar os próximos desafios, vamos ver algumas dicas de escrita e dessa vez vou finalmente publicar as dicas de Octavio Aragão.

Conhecendo o autor

Este escritor brasileiro é carioca, formado pela Escola de Artes da UFRJ onde também fez pós graduação pesquisando a vida e obre de Ángelo Agostini. Octavio Aragão é designer gráfico, quadrinista e trabalhou extensamente na criação do universo ficcional Intempol e com inúmeros projetos de histórias em quadrinhos do site UniversoHQ.

No seu conto “Eu Matei Paolo Rossi” de 1998 ele, pela primeira vez, faz referência à uma polícia temporal com características brasileiras, a Intempol. Depois disso, de forma colaborativa, este universo foi acrescido de muitas histórias graças à um site que aglutinava histórias sobre este universo feitas colaborativamente ou individualmente por autores que escreviam sobre viagens no tempo e sobre a famosa polícia do tempo. O site funcionou por muitos anos no melhor espírito de colaboração da Internet. Em 2000, foi lançada a coletânea de contos batizada de Intempol feita colaborativamente por ele e vários autores brasileiros de Ficção Científica.

Algumas das antologias que Octavio Aragão participou.
Algumas das antologias que Octavio Aragão participou.

O Octávio segue escrevendo e participando de várias antologias principalmente de Ficção Científica e HQs como a ótima “Para Tudo Acabar na Quarta-Feira” e acreditem quando eu digo que se trata de um escritor de respeito! Não vou colocar aqui toda a lista de projetos que ele já trabalhou, é uma lista de respeito e extensa.

Ao entrar em contato com ele e pedir dicas de escrita ele me falou que não era favorável a “fórmulas” prontas e coisas do tipo. Mas me mandou algumas práticas que ele, pessoalmente usa.

Vamos aos conselhos de escrita do Octavio, baseado em suas experiências pessoais e profissionais:

1 – Mantenho um arquivo mental de “insights”. Mais do que escrever em bloquinhos, é bom reservar um espaço na memória para as ideias à espera de uma oportunidade. Até hoje recupero ideias concebidas e descartadas durante as aulas de redação no colégio.

2 – Não conto minhas ideias para ninguém antes de terminar o primeiro esboço. Não por receio de roubarem, mas porque acredito que histórias querem ser contadas, mas não se importam com o método. Assim, uma vez materializadas, elas se “consideram nascidas” e eu perco o pique de escrever.

3 – Procuro escrever rápido um primeiro tratamento e depois vou burilando, acrescentando partes e detalhes sobre o esqueleto principal.

4 – Quando a ansiedade permite, deixo o texto finalizado descansar por algumas semanas. Depois volto à carga e sempre mudo umas duzentas coisas.

5 – Sempre busco desenvolver “personalidades vocais” para os personagens e falo em voz alta os diálogos, “interpretando” os diversos tipos e entonações. Parece coisa de maluco, eu sei, mas se Flaubert recomendava, deve ser bom para outros escritores. Para mim, funciona.

E aí? Qual dessas dicas funciona para você? Quais outras você costuma adotar enquanto escreve?

Livros e HQ, Em breve também o projeto Psicopombo
Livros e HQ, Em breve também o projeto Psicopombo

Octavio Aragão é designer por profissão e um monte de outras coisas porque não consegue ficar parado. Além de ministrar a cadeira de Jornalismo Gráfico na UFRJ, é professor da Pós em Tecnologias da Linguagem e pesquisador do PACC especializado em narrativas gráficas. Já foi coordenador e editor de arte dos jornais O Globo e O Dia e das revistas de informática da Ediouro. É autor de dois romances e do projeto Intempol. No momento trabalha na produção do álbum em quadrinhos Psicopompo, em parceria com Carlos Hollanda e Osmarco Valladão.