[Coluna] Oh L’amour – Oh, o amor! – Parte 1

2

Estudos de teoria literária sobre o amor ou do amor sobre a teoria literária.

Uma série de textos que está em produção e dedico aos amores – que não meus por posse, mas por opção de simplesmente se permitirem ser e viver!!

 

Todo mundo sabe que tenho uma linha de estudos e pesquisa muito forte sobre a literatura inglesa feminina e feminista. Seria muito simples chegar aqui e falar pra vocês sobre Simone de Beauvoir ou Camille Paglia, e discorrer linhas a fio sobre Moll Flanders – Daniel Defoe (obra principal dos meus estudos).

Porém, gostamos às vezes da “Road not Taken” e por isso me propus a novos estudos e pesquisas e cheguei a um novo tema a ser abordado.
Para começar esse texto, separei duas teorias! Mas, como teoria é insuportável de chato, vamos falar de amor.

E antes que me perguntem se eu estou apaixonada, eu respondo:

Bauman desiludiu-me e fiquei depressiva. Mas conversando com um amigo, acho que tomei a decisão mais acertada:

“- Giul você está lendo Bauman?
– Sim estou, “Amor líquido” .

– Ele já te fez desistir do amor?

– Não, eu desisti do livro primeiro.”…

Ah, o amor!

A palavra AMOR possui um sentido único, uma explicação única que está no dicionário (chamemos de sentido DENOTATIVO). E o dicionário Aurélio jura saber o que é:

Amor: 1 Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa.
2 Sentimento intenso de atração entre duas pessoas.
3 Ligação afetiva com outrem, incluindo geralmente também uma ligação de cariz sexual.
4 Ser que é amado.
5 Disposição dos afetos para querer ou fazer o bem a algo ou alguém.
6 Entusiasmo ou grande interesse por algo.
7 Coisa que é objeto desse entusiasmo ou interesse.
8 Qualidade do que é suave ou delicado.
9 Pessoa considerada simpática, agradável ou a quem se quer agradar.
10 Coisa cuja aparência é considerada positiva ou agradável.
11 Ligação intensa de caráter filosófico, religioso ou transcendente.
12 Grande dedicação ou cuidado.

Porém, para Camões é um jogo de opostos:

“Amor é fogo que arde sem se ver

É ferida que dói e não se sente”…

allstarE, para Vinícius de Moraes, é o sentimento mais sublime, o que dá a vida.

Agora observe: o dicionário não traduz o frio na barriga, as borboletas no estômago, a tremedeira nas pernas, o brilho nos olhos, o silêncio que fala mais do que precisa…

Não traduz a idéia que nos remete ao sentimento. (Sentido Conotativo)

O sentido conotativo das palavras traz consigo a carga semântica (cultura, idéias, contexto, conhecimento de mundo) que a difere da interpretação pura e simples do sentido denotativo – o do dicionário.

A palavra em si carrega ideologia e consciência (significação), o que faz com que tenhamos essa ou aquela interpretação a cada mensagem recebida. Essa carga ideológica e essa consciência são formadas, inicialmente, pela sociedade e cultura na qual estamos inseridos.

Com base nisso, e tomo agora as palavras de Bakhtin, “a palavra é uma arena onde se confrontam valores”, te pergunto: o que significa o amor?

Percebeu que a interpretação é subjetiva e ampla? E que para cada pessoa a resposta surgirá de um jeito?

Trazendo esse conceito para a literatura, entendemos então o que Bakhtin quis dizer com

“nada lhe parece acabado, todo problema permanece aberto, sem fornecer a mínima alusão a uma solução definitiva”.

Ou seja, não só as palavras, mas os textos (como um todo) são verdadeiras arenas de debate em que diversos valores são apresentados e se confrontam entre eles e com o próprio leitor. Por isso, se pode afirmar que nenhuma interpretação é definitiva.

Assim como nenhum amor… Afinal, “que seja infinito enquanto dure”.

Por isso é importante que se leia, para que se aumente essa carga semântica interpretativa e seu conceito não seja único e fechado.

Já que o poeta diz que “o amor só dura em liberdade”, por que temos que amarrá-lo em conceitos e travas lingüísticas?

IMG_323301

Livros usados para o Post

Mikhail Bakhtin – Estética da criação verbal — Leitura de sempre

Regina Navarro Lima – O livro do amor (vol 1) — em leitura no momento-

Roland Barthes – lo obvio y lo obtuso — um pouquinho — falarei mais dele

Zygmunt Bauman – Amor Líquido

Imagens — Fotografias da Giul
1 Acervo particular

2 Retirada do curso de pré wedding do Danilo Politano (Fotógrafo de Casamentos em São Carlos e pelo mundo)