[Exclusivo] Vapores Virtuais &Conteúdos Astrais: Uma entrevista com Enéias Tavares sobre o site de Brasiliana Steampunk

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Salve salve Cabulosos e Cabulosas!!!

Enéias Tavares, autor de “A Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison” e de todo o universo de Brasiliana Steampunk nos concedeu uma entrevista exclusiva sobre o lançamento de seu site oficial e sua obra espetacular.

O site foi ao ar no início do ano e contém conteúdo exclusivo sobre as personagens, aventuras e dissabores dos nossos heróis favoritos de Porto Alegre dos Amantes.

Se você leu o livro Lição de Anatomia, precisa conhecer agora mesmo o site: está incrível! Se você ainda não conhece a obra, aproveite sua passagem e faça uma boa viagem. Desejamos que você aproveite o passeio, tenha uma boa estadia e recomendamos que esteja alerto aos perigos ocultos  da noite e seus seres apaixonantes e viciantes.

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Como surgiu a ideia de Brasiliana Steampunk e de seus personagens apaixonantes retratados em “A Lição de Anatomia do Temível Dr. Louison” e como nós os reencontramos no site?

Basicamente de três lugares. Primeiro, da minha insatisfação, enquanto aluno e depois como professor de literatura, com o modo como as obras nacionais são tratadas na escola. Para mim, os heróis de Machado de Assis, Raul Pompeia, Aluízio de Azevedo e Lima Barreto, entre outros, são muito mais interessantes do que os manuais e os professores nos apresentam, com sua ênfase em períodos históricos ou estilos de época. Brasiliana Steampunk objetiva desafiar essas leituras convencionais com uma interpretação vigorosa e enérgica desses e outros autores. Segundo, da minha admiração por Alan Moore e sua “Liga extraordinária”, bem como da releitura que os ingleses e os norte-americanos fazem da sua própria cultura, vide obras como “AnnoDracula” de Kim Newman e o seriado “PennyDreadful”. Por último, de uma tentativa de resolver um problema ficcional: precisava de narradores mais sofisticados para a primeira metade de “Lição de Anatomia”, até que eu confiasse minimamente na minha própria capacidade de fazer jus aos meus personagens inéditos, Cândido, Beatriz e Louison. Passear pelas vozes da nossa tradição literária nas primeiras duzentas páginas do livro me permitiu encontrar o meu próprio estilo com maior tranquilidade, chegando ao discurso mais bruto de Cândido, passando pelo registro mais épico e delicado de Beatriz até o hiper estilizado padrão tonal de Louison. Uma das seções mais legais do site é dedicada justamente aos “Heróis”. Nela, há fichas de todos os personagens, com textos inéditos e arte de Jéssica Lang, além de um papel de parede que reúne todos eles.

O que o levou a criar o site Brasiliana Steampunk?

Como em outras searas da minha vida, primeiramente a simples vontade de me divertir. Sou um escritor compulsivo e a ideia de trabalhar com artistas para criar peças visuais para os personagens da série sempre me foi atraente. Em segundo lugar, claro, o apoio da editora Casa da Palavra/LeYa para tocar ideias como essa. Desde a minha primeira reunião com eles, passada a divulgação de que “Lição de Anatomia” havia vencido o concurso “A Fantasy quer o seu mundo”, pensamos num site que pudesse complementar e enriquecer o universo de Brasiliana Steampunk. Obviamente, o site do “Espadachim de Carvão”, romance de Affonso Solano e atual curador do selo Fantasy, serviu de inspiração para essa iniciativa. Seria um espaço no qual o leitor teria uma extensão do que encontrara no romance, além de poder conhecer um pouco mais do autor e da obra e também o que o aguarda no futuro da série. Antes disso, porém, investimos na fanpage da série no Facebook. A ideia é que o site seja um depositório de um material mais permanente, que tenha diretamente a ver com a série, ao passo que a fanpage permite não apenas um contato mais direto entre o leitor e os idealizadores de Brasiliana Steampunk como também um canal de divulgação de novidades e eventos e das atualizações do site. Por fim, o site também resulta da parceria e da amizade com um artista e escritor fabuloso que é o Bruno Accioly. Além de co-fundador do Conselho Steampunk, o seu Crônicas Póstumas (www.cronicaspostumas.com.br) é uma das releituras mais fascinantes que a obra de Machado de Assis poderia receber. É o talento dele e o profissionalismo da DotWeb que vemos em cada detalhe da página de Brasiliana Steampunk.

O que encontraremos de novo no site, além do conteúdo já publicado no livro?

Captura de tela 2015-01-20 17.51.07Há uma série de conteúdos inéditos, produzidos exclusivamente para o site e, claro, disponibilizado de forma gratuita. Por exemplo, além das fichas de personagens há fichas de cenários, artes exclusivas, cartões postais, papeis de parede, entre outros conteúdos visuais criados por artistas como Jéssica Lang, Karl Felippe e Diego Cunha. Há também um tarô exclusivo baseado no universo da série, que tem texto assinado por R. Cândido, outro co-fundadordo Conselho Steampunk, e arte de Marcus Lorenzet. Temos uma seção dedicada a contos inéditos e capítulos inéditos do romance, alguns protagonizados por heróis que não tiveram tanto espaço em “Lição de Anatomia”. O primeiro deles, com apresentação do escritor Felipe Castilho, da série “Legado Folclórico”, tem Bento Alves por protagonista e mostra o resgate de Vitória Acauã que foi aprisionada pela Ordem Positivista em 1896, ou seja, quinze anos antes dos eventos apresentados no romance. O site conta também com seções dedicadas a educadores e possibilita o envio de artes, que integrarão a Galeria. Para finalizar, há um Noitário, blog no qual vou postar textos sobre a composição do romance e outras novidades, tanto sobre o universo de Brasiliana Steampunk como também sobre a estética retrofuturista. Uma postagem bem bacana, por exemplo, detalha a criação da capa de “Lição de Anatomia”, desde as primeiras conversas com Rodney Buchemi até o trabalho final de Rico Bacellar. Em suma, espero que o site agrade a dois tipos de público: aos leitores do romance, que desejam saber mais sobre o universo da série, e também aos interessados que estão na dúvida se lerão ou não “Lição de Anatomia”. Acredito que para esses, o site servirá como um suculento petisco ao prato principal.

Pelo visto é uma equipe bem grande. Como é trabalhar com tantas pessoas? Para um autor, não é estranho ver interpretações tão diversas dos seus personagens?

Pelo contrário, é a melhor parte. Muito antes do concurso da Fantasy, quando ainda estava na fase inicial da escrita do romance, comecei a trabalhar com Jéssica Lang, uma artista super talentosa aqui do sul. É dela o mapa de Porto Alegre dos Amantes que abre o livro, bem como as fichas de personagens e cenários e várias outras artes que estão no site. Lang tem um estilo com grande influência de quadrinistas norte-americanos como Marc Silvestri e uma versatilidade incrível em diferentes técnicas, que me lembra muito J. H. Williams III. Já o Diego Cunha é um pintor digital fabuloso. Seus pastiches das pinturas de Rembrandt com os personagens de Brasiliana são fantásticos! Karl Felippe tem um estilo que mescla Tim Sale com os heróis da Disney, num resultado fabuloso. Os Cartões Postais com arte dele e citações do romance ficaram belíssimos. Por fim, destaco o trabalho de Marcus Lorenzet, que trabalha mais com fotografia e que tem grande experiência com capas de discos para bandas de metal. Não consigo imaginar outro artista que poderia criar um tarô tão fantástico como o que ele está criando. O trabalho com todos eles é basicamente a distância, motivado em trocas de longos e-mails e eventuais telefonemas. É mais uma dessas coisas incríveis de todo o projeto: conhecer e trabalhar com pessoas tão talentosas e com estilos e práticas artísticas tão diversas. Para mim, é um processo inspirador.

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Fale um pouco sobre o tarô. Ele é inspirado nos heróis do romance?

Sim. Eu adoro tarô e coleciono baralhos arcanos há um bom tempo. Não porque eu seja esotérico, e sim porque vejo nele um fantástico sistema de símbolos. Obviamente, adoro a arte de Dave McKean e o seu “VertigoTarot” está entre os meus baralhos prediletos. Quando pensei na ideia de um tarô de Brasiliana Steampunk, queria alguém que tivesse um estilo parecido. E de repente, por uma feliz coincidência, a amiga e escritora Suzy Hekamiah me apresentou o artista perfeito para o projeto. O romance dela, “O Código dos Mares” (Literata, 2013), teve a capa assinada por Lorenzet, além deles serem amigos pessoais. Além dele, R. Cândido, criador do Conselho Steampunk e escritor, além de tarólogo nas horas vagas, está trabalhando comigo nos textos que acompanham cada carta. O site já tem a capa e as primeiras quatro lâminas: o “Tolo” Isaías Caminha, o “Mago” Sergio Pompeu, a “Papisa” Léonie e a “Imperatriz” Rita Baiana. Em breve lançaremos mais quatro cartas: o “Imperador” Simão Bacamarte, o “Hierofante” Doutor Benignus, os “Amantes”, que será dedicada ao Palacete dos Prazeres, e a “Carruagem”, que será uma homenagem às veículos robóticos de “Lição de Anatomia”. Nossa ideia é fechar os arcanos maiores durante o ano de 2015 e os menores no ano seguinte. Futuramente, talvez ele vire um projeto maior que resultará tanto num baralho impresso quanto em dois livros: um guia das cartas, assinado por mim e por Cândido, e uma noveleta que possivelmente terá Paranapiacaba (SP) por cenário e Solfieri, o imortal satanista de Alvares de Azevedo, por protagonista. Para tanto, claro, teríamos de conseguir uma editora interessada em investir num produto como esse e, claro, o interesse do público.

 A criação do site Brasiliana Steampunk indica que teremos o volume dois da saga?

Eu espero que sim. O primeiro volume ainda terá um bom tempo para encontrar seu público. É tudo muito recente, mas espero que o site sirva de incentivador para novos leitores da série. De minha parte, penso em Brasiliana Steampunk como uma saga em cinco volumes. Se tudo correr bem, e a Casa da Palavra/LeYa continuar achando que a série vale o seu investimento e interesse, teremos um segundo volume sendo publicado entre 2016 e 2017, possivelmente intitulado “O Parthenon Místico”.

 Para você, Enéias, o Steampunk brasileiro é diferente do Steampunk produzido fora do Brasil?

É uma pergunta difícil. Penso que estamos aos poucos assumindo nossa identidade enquanto autores de literatura fantástica no Brasil. Houve um primeiro esforço de basear nossas obras em grandes autores estrangeiros que foram os pioneiros nesses gêneros mais populares. Agora, acho que estamos vivendo um momento um pouco diferente, o de assumirmos quem somos enquanto nação e de referenciarmos e reverenciarmos nossa cultura, nossa língua, nossa variedade social e étnica também em nossa ficção. Tenho muito orgulho de como Brasiliana Steampunk faz isso. Ao buscar meus heróis na literatura brasileira, reencontrei heróis caucasianos, negros, mulatos, indígenas e de tantas outras etnias. Penso que está mais do que na hora de reconhecermos a riqueza que tal variedade nos propicia enquanto escritores e enquanto leitores.

10733534_743213542399538_1376457556_n Enéias, muito obrigado pela entrevista.

Eu é que agradeço ao “Leitor Cabuloso” pela oportunidade. Mais uma vez reafirmo meus préstimos à bela resenha publicada por vocês. Foi um dos melhores presentes que recebi neste início do ano. Outro foi o lançamento do site oficial de Brasiliana Steampunk. Espero que todos gostem. Um grande abraço.

Últimos agradecimentos

Você pode conhecer a resenha publicada no Leitor Cabuloso, aqui.

Para ingressar na continuidade do universo Brasiliana Steampunk, acesse: SITE BRASILIANA STEAMPUNK.

Espero que tenham gostado da entrevista!!!

Eu estou ansiosa pela continuidade da série e sempre torcendo pelo sucesso do amigo Enéias. Forte abraço a ele por toda a simpatia, cordialidade e consideração e forte abraço a cada um de vocês que chegou até aqui!

D.