[Resenha] A Mão Esquerda da Escuridão – Ursula K. Le Guin

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Genly Ai foi enviado a Gethen com a missão de convencer seus governantes a se unirem a uma grande comunidade universal. Ao chegar no planeta Inverno, como é conhecido por aqueles que já vivenciaram seu clima gelado, o experiente emissário sente-se completamente despreparado para a situação que lhe aguardava. Os habitantes de Gethen fazem parte de uma cultura rica e quase medieval, estranhamente bela e mortalmente intrigante. Nessa sociedade complexa, homens e mulheres são um só e nenhum ao mesmo tempo. Os indivíduos não possuem sexo definido e, como resultado, não há qualquer forma de discriminação de gênero, sendo essas as bases da vida do planeta. Mas Genly é humano demais. A menos que consiga superar os preconceitos nele enraizados a respeito dos significados de feminino e masculino, ele corre o risco de destruir tanto sua missão quanto a si mesmo.

capaA Mão Esquerda da Escuridão foi meu primeiro livro de Ursula K. Le Guin, e não me decepcionei. Um livro que ganhou os prêmios Hugo e o Nebula não pode ser ruim, mas confesso que não esperava a experiência de leitura pela qual passei. Le Guin é habilidosa com as palavras, e sua prosa é agradável. Apesar de o livro ser de ficção científica, não se perde em explicações técnicas de tecnologias inexistentes nem nada do tipo. É um livro sobre pessoas.

Genly Ai é um humano da Terra, enviado a uma missão solitária no planeta Gethen, também conhecido como Inverno, devido ao seu clima hostil, como enviado do Ekumen, uma federação interplanetária. Sua missão é apresentar o Ekumen aos governantes de Gethen e fazê-los se filiar à federação. Essa é o universo criado por Le Guin, dezenas de planetas com seres humanos ou humanoides que se unem para trocar informações científicas, culturais, enviar emissários uns aos outros, e etc.

A grande diferença dos Gethenianos é sua sexualidade. Todos eles são andróginos durante a maior parte do tempo, e só desenvolvem sua sexualidade no kemmer. A diferença é, quando um casal passa pelo kemmer juntos, cada indivíduo pode assumir o gênero que quiser: masculino ou feminino. Como consequência, os Gethenianos são uma mistura de homem e mulher, com suas posturas, emoções e atitudes fundidas de uma forma muito difícil de lidar para Genly.

Para mim, essa é a verdadeira questão do livro. A psique feminina e masculina em análise por Genly, um homem heterossexual, que se vê lidando com seres que lhe parecem dúbios e complexos. As conversas que Genly mantém em um dos reinos visitados são usualmente obscuros e cheios de insinuação, é o conceito que nem me atreverei a tentar explicar chamado shifgrethor.

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Ursula K. Le Guin

O livro é contado na narração do Genly e de outros personagens e conta com capítulos curtos intercalados que narram episódios da história do planeta e histórias míticas. Todo desenvolvimento do mundo e dos seres que o habitam é algo impressionante, um worldbuilding fenomenal feito por Le Guin. A trama é muito interessante, mas as vezes fica um tanto lenta, e pode incomodar alguns o modo como é entrecortada com passagens que aparentam não adicionar nada.

É preciso pensar um pouco além e interpretar tudo que a autora oferece nessa obra. Além da história, pense na Mão Esquerda da Escuridão como o estudo antropológico de uma raça que não existe, em um planeta que nunca se formou. Alguns se perguntarão que valor teria tal estudo baseado em ficção. O valor está em extrapolar as questões sociais, comportamentais e emocionais dos homens e mulheres. É impossível não fazer essas associações e se pegar pensando no assunto por um longo tempo.

Por fim, não é um livro fácil, mas tampouco é chato. Creio que a palavra ideal para ele é desafiador. Com certeza lerei novos títulos da Le Guin, que sairão pela Aleph em breve, pois a autora já conquistou minha atenção irreversivelmente.

Ficou interessado(a)? Então compre o livro nos links abaixo:

 

logolucas_vectorized (1)Editora: Aleph
Autor: Ursula K. Le Guin
Origem: Estrangeira
Título original: The Left Hand of Darkness
Ano: 2014
Número de páginas: 296
Skoob