[Mangá] Uzumaki do Junji Ito

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Imagine uma cidade assombrada por entidades caóticas. Clichê, certo. Mas e quando as entidades não são fantasmas? Nem demônios? Nem vampiros? Nem qualquer coisa que você conheça. Os Grandes Antigos do Lovecraft? Haha. Também não. A cidade de Kurouzu é aterrorizada por espirais.

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Estranho, né? Eu sei, mas é isso mesmo. O autor Junji Ito, especialista em histórias de horror, trabalha com esse tipo de premissas no mínimo… inusitadas. Como seu trabalho em Tomie, que envolve uma espécie de imortal que angaria uma legião de seguidores loucos. Ou Gyo, onde peixes são controlados pelo cheiro de morte. Com Uzumaki então não poderia ser diferente. Suas influências, de acordo com o próprio, vão principalmente por Kazuo Umezu (mestre do horror japonês), H.P Lovecraft e Steven Spielberg, pois é.

A trama é narrada por Kirie Goshima, protagonista juntamente com seu namorado Suichi. E logo no início vemos Kirie se deparando com algo no mínimo curioso: o pai de Suichi observando um caramujo atentamente. Tão atentamente que não percebe nada à sua volta, nem mesmo a jovem Goshima a falar com ele. A partir daí vemos um sem número de coisas bizarras envolvendo objetos em formas de espirais. As pessoas da cidade ficam enclausuradas na própria cidade e seja lá o que forem as espirais ou o que as controla, começa a brincar com elas e aos poucos uma a uma vão sendo possuídas pela maldição da espiral. O pai de Suichi se torna tão obcecado com a arte da espiral, arte “genuína e suprema” que deixa de trabalhar e se concentra em colecionar o máximo de espirais possíveis. No entanto, não satisfeito, ele começa a produzir espirais nos próprio corpo. Tirem suas conclusões:

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De acordo com o próprio Junji Ito, o “terror deve ser feio”. E podemos ver isso em todas as páginas dos volumes aonde as bizarrices vão só aumentando. Eu não concordo que o terror deve ser feio, e acho que por isso não gostei tanto dos mangás. No entanto, há um momento que acho que foi o ápice do mangá, que foi a “cena das grávidas”. Confesso que me arrepiei. E caso você leia, espero que se arrepie também.

 No mais, temos pessoas enroscadas umas nas outras, “canibalismo”, cirurgias inversas, transmutações nojentas e um sem fim de coisas feitas exclusivamente para chocar. Apelativo. Sempre fui da teoria de que os asiáticos eram os melhores criadores do bom terror. Não é à toa que o filme que mais me aterrorizou quando criança foi: Espíritos – A morte está ao seu lado. Um filme bobo hoje, mas que na época deixou o Jefferson de 11 anos dormindo uma semana agarrado aos lençóis. Quem assistiu sabe do que eu estou falando.

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Uzumaki14Eu ainda poderia citar inúmeros filmes asiáticos de terror que eu gosto (ou gostei) bastante para reforçar minha teoria — a exemplo de A Arte do Demônio —, mas aí eu passaria o dia todo aqui e acho que já me estendi demais. Então acho que foi por isso que me frustrei com o mangá Uzumaki. Fui com uma expectativa muito alta, além de ter sido o primeiro mangá de terror que eu li. Mas não passava de uma premissa com potencial, porém movida por fortes cenas apelativas. Como o próprio subtítulo sugere, é horror e não terror. Há uma linha tênue pra mim: Terror é aquilo feito para dar medo. Horror é aquilo feito para causar nojo, repulsa etc. Se você procura uma obra para sentir medo, procure outros filmes, outros livros, outros mangás. Se procurar algo para lhe causar desconforto, nojinho e tudo o mais — cada um tem seu gosto —, leia Uzumaki à vontade. Quem sabe você não se interessa pelos cogumelos do doutor. Não, você não vai se interessar nem um pouco pelos cogumelos.

NOTA:

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Nome: Uzumaki, The Spiral, うずまき
Publicado por: Editora Conrad
Valor: R$ 12,00 (finalizado com 3 volumes)
Publicado (no Japão): 1998 a 1999 (Big Comics Spirits)
Autor: Junji Ito
Gêneros: Demência, Drama, Horror, Romance, Sobrenatural, Psicológico, Seinen
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