[Resenha] O Drible do Sérgio Rodrigues

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Um livro que tem o futebol como personagem. Você deve ter pensado que esse definitivamente não é o seu tipo de livro. Eu também pensei e me surpreendi. Não consegui largar O Drible, que se mostrou uma leitura gostosa e incrível.

o dribleConhecemos Neto, um homem com quase cinquenta anos que é revisor. Neto é filho de Murilo Filho, famoso cronista da década de 70 que escreveu diversos artigos e livros sobre o futebol.  Neto tem uma relação bastante conturbada com o pai. Não se veem há mais de 30 anos e Neto guarda grandes mágoas e ressentimentos. Quando moleque, tentava agradar o pai, fazer com que este sentisse orgulho do filho, mas não tinham nada em comum, nem mesmo o futebol.

“Virou rubro-negro, mas, talvez como sequência do vaivém de sua formação, por reconhecer o que aquilo tinha de arbitrário, virou em primeiro lugar membro dessa espécie minoritária e oprimida, mas menos rara do que se pensa: um brasileiro desapaixonado por futebol.” – Pag. 25

E o modo de viver e agir do pai, além de uma grande traição fizeram Neto se afastar até que ele recebe uma ligação do pai dizendo que está morrendo e queria voltar a vê-lo. Neto então viaja para o interior do Rio de Janeiro onde o pai mora acompanhado do caseiro e sua mulher.

“Ele era Marty McFly saltando do DeLorean depois de uma viagem de vinte e seis anos de volta a um passado que acabaria por corrigir, mudando também, em efeito dominó, o futuro.”

Neto espera um pedido de desculpas, uma reconciliação, explicações para tudo que o pai fez, mas tudo o que Murilo faz é falar de futebol. De início, Neto pensa que o homem está gagá, por mais que às vezes consiga ver um brilho de lucidez nos seus olhos. Murilo então pede ao filho que leia um livro, o último livro que ele escreveu chamado “Porque Peralvo não jogou a Copa” e em meio a história do jogador que nasceu na mesma cidade que Murilo, o seu dom e a habilidade com a bola, Neto irá descobrir então a resposta que tanto queria.

É incrível o quanto a narrativa de Sérgio Rodrigues te prende. Apesar de o livro ter capítulos longos, eu me grudei e era difícil largar, principalmente nas partes que narravam a história de Peralvo e seu dom para ver tudo um segundo adiantado. Eu, que só acompanho futebol na copa, não achei o livro enfadonho em nenhuma parte, muito pelo contrário: nos identificamos com Neto, um cara que tentou jogar (para agradar o pai), mas era horrível no esporte, o seu desejo de um pedido de desculpas e às vezes podemos achá-lo até chorão demais, pensar que ele exagera nos sentimentos em relação ao pai e vamos aos poucos nos firmando com o que sentimos em relação aos dois.

O Drible é o único romance nacional que está nos finalistas dos 3 maiores prêmios literários brasileiros: Jabuti, Portugal Telecom e São Paulo de Literatura. Recomendo para aquele que gosta de futebol, mas principalmente aqueles que se sentem perdidos quando este é o assunto.

“…como fazer dessa suprema sacanagem, desse puteiro a céu aberto, um país? Impossível, você diz? Parecia mesmo, parecia. Aí alguém arranjou uma bola, foram onze pra cada lado, outro maluco pegou um microfone e logo estavam embelezando as jogadas mais toscas com umas retumbâncias ridículas de retórica. Pronto: metade futebol, metade prosopopeia, estava feito o Brasil”

NOTA:

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Nome: O Drible
Autor: Sérgio Rodrigues
Edição:

Editora:
Companhia das Letras
Ano: 2013
Páginas: 224
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