Com vossa licença posto um texto que faz jus ao nome da coluna Devaneios.
O potencial é uma coisa engraçada, pois é sem existir. Potenciais se emaranham em todos os aspectos da vida, nebulosas correntes de possibilidades que constituem, quando realizadas, o elemento básico da construção do caminho, seja esse qual for. Porém, quando se contenta em observá-los de forma platônica, são apenas na cabeça de quem os gera e nunca atingem uma existência plena, palpável.
Coisa fácil é se perder em meio a potenciais não realizados, maravilhado pelas próprias ideias, essas criaturas escorregadias e perigosas, que quando surgem devem ser pegas e materializadas no papel ou onde quer que seja. Uma vez na sua frente, definida, é preciso ter em mente de que uma ideia não é nada. Isso mesmo. Uma ideia é absolutamente nada, e é ai que mora o perigo, em deslumbrar-se com uma ideia pela sua beleza minimalista e jamais criá-la de fato de forma extensiva, querendo apenas falar e falar e falar um pouco mais a respeito dela enquanto essa não passa de um molde mal feito.
Apenas na realização de uma ideia é possível entrar no caminho, que é único e jamais será trilhado por ninguém mais, pois existe apenas durante a fração de segundo na qual se passa por ele. Se desenrola à sua frente como um tapete, como uma longa estrada sinuosa, e volta a se enrolar às suas costas, deixando apenas a escolha de seguir em frente ou abandoná-lo. Cada desenrolar do tapete é um passo trilhado no rumo desejado.
E onde leva esse caminho afinal? É possível ter uma meta, um end game, mas onde de fato ele vai te levar ou por onde vai passar jamais será possível prever. E essa é a melhor parte! Estar perdido no meio disso, impulsionado por potenciais realizados e ideias criadas e desafiado pelos novos potenciais e ideias que surgirão borbulhando em sua cabeça sem cessar, clamando por ganharem vida através das mãos da única pessoa que pode lhes prover essa dádiva.
Essa é a vida, com seus potenciais, suas ideias e seu caminho, e posso dizer que trilhar o meu, ainda que nos primeiros passos vacilantes, têm sido a coisa mais aterrorizante e incrível a que já me propus com seriedade até hoje.
