[Resenha] O conde de Monte Cristo – Vol. II – Alexandre Dumas

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o-conde-de-monte-cristoEdição: 1
Editora: Jorge Zahar
ISBN: 9788537801130
Ano: 2008
Páginas: 663
Tradutor: André Telles, Rodrigo Lacerda

Sinopse:

Um clássico da literatura, que mexe com a imaginação e a sensibilidade de milhões e milhões de leitores há mais de 150 anos, ganha finalmente a edição brasileira que merece: em caixa com dois tomos, ilustrado com 170 gravuras de época e enriquecido por mais de 500 notas explicativas. O romance constrói um suspense atrás do outro, numa seqüência de peripécias de tirar o fôlego — traições, denúncias anônimas, tesouros fabulosos, envenenamentos e vinganças. Publicado originalmente na forma de folhetim entre 1844 e 1846, dois anos depois já circulava em diversas línguas sob a forma de livro, numa carreira vertiginosa que só encontra paralelo na saga de Os três mosqueteiros, outro best-seller de Alexandre Dumas. O conde de Monte de Cristo volta para acertar suas contas com leitores de todo o Brasil. (skoob)

Análise da obra (sem Spoilers):

Eis que quase um ano depois da publicação da resenha do primeiro volume de O conde de Monte Cristo do Alexandre Dumas (caso queira ler basta clicar aqui) volto para falar de um dos melhores livros que já li na vida. Na verdade, o que você lerá nas próximas linhas serão extensões de pensamentos elaborados na primeira resenha e no CabulosoCast #64 dedicado a este livro.

A trama é focada na vingança de Edmond Dantès e neste último livro este tema – por assim dizer – é mais desenvolvido e atinge consequências inimagináveis. Uma pergunta que me acompanhou durante toda a leitura foi: “Alexandre Dumas quer mostrar que a vingança é válida? Ou teremos um personagem que se arrependerá?”; longe de responder esta questão (já que me comprometi a não revelar spoilers) é interessante ver até que ponto a vingança modificou Dantès, ou melhor O conde de Monte Cristo. Pois nesta segunda parte, temos a real comprovação de que não existe mais nenhum Dantès quando vemos o Conde agir nas páginas do livro. O marinheiro ingênuo e bondoso realmente ficou preso do castelo de If, quem saiu de lá foi O conde de Monte Cristo. A ponto do próprio personagem duvidar da sua capacidade de poder sentir algo verdadeiro por alguém, como, por exemplo amor.

– Que louco eu fui – ele exclamou – de não ter arrancado meu coração no dia em que jurei me vingar!

pág. 1079

Existe um ponto que comentei no CabulosoCast do qual me arrependi ao término da leitura: o conde de Monte Cristo é uma obra composta do vários personagens e são tantos que me obriguei a fazer uma fila com a linhagem de alguns para não me perder, contudo julguei que havia personagens demais e que seria melhor que o autor houvesse nos poupado de algumas subtramas “desnecessárias”…, mero engano. Não existem personagens desnecessários neste livro, todos são entrelaçados para formar um grande tecido. E a minha primeira impressão ao concluir a leitura foi que com certeza precisarei relê-lo daqui a um ano ou dois. Motivo? É quase inevitável que criemos antipatia por alguns personagens como o casal Valentine e Maximilien, porém no decorrer da história você começa a se culpar por não ter dado o devido valor as cenas onde eles aparecem, daí a necessidade de reler a obra já sabendo que estes personagens são vitais para explorar melhor o contexto no qual estão inseridos.

Por isso minha primeira recomendação para você que gostaria de ler o livro em questão: faça anotações dos nomes dos personagens e suas linhagens. Quem é filho de quem? Quem são seus pais, seus avós? E segunda recomendação: as subtramas são vitais para compreensão do todo, não as despreze, em algum momento aquela história que parecia tão descolada volta à tona.

Como disse na primeira resenha a leitura do livro não possui dificuldades, com diálogos incríveis dignos do leitor conseguir vislumbrar a expressão e os gestões do locutor, são o grande trunfo da escrita do Dumas. Porém, há uma centena de citações a obras antigas e peças teatrais que para os leitores mais novos é completamente desconhecida, veja em:

A primeira reação do conde foi acreditar num ardil de ladrões, armadilha tosca que lhe apontava um perigo insignificante para expô-lo a um mais grave. Ia então mandar levar a carta a um comissário de polícia, apesar da recomendação e talvez inclusive em virtude da recomendação do amigo anônimo, quando de repente ocorreu-lhe que podia tratar-se, com efeito, de algum inimigo pessoal, que apenas ele era capaz de reconhecer e de quem, eventualmente, apenas ele podia tirar partido, como havia feito Fiesto com o mouro que quisera assassiná-lo.

Pág. 1001

Na minha edição, há uma nota de rodapé que diz o seguinte:

‘Fiesto com o mouro que quisera assassiná-lo’: referência à segunda peça do poeta, dramaturgo, filósofo e historiador alemão Friedrich Schiller (1759-1805), A Conjura de Fiesco, de 1783, uma tragédia de cinco atos.

Pág. 1001

Mesmo que o fidelíssimo leitor desta resenha esteja a questionar a necessidade disto, sendo que a referência tem pouca validade para a trama em si, mas é importante frisar que  explicações como esta evitam confundir com os próprios eventos decorrentes na história. Como afirmei mais acima, o Conde é um romance repleto de tramas e subtramas que em muitos momentos são rememorados em passagens muito semelhantes a estas que citei. Vejamos outro exemplo:

Personagem diabólico que qualquer imaginação temerária teria criado com maior ou menor felicidade se Le Sage […]

Pág. 1247

E assim está no rodapé:

Le Sage: ver Parte III, cap. 14, not 107.

Pág. 1247

Não por acaso que retomo a argumentação em prol da edição feita pela editora Jorge Zahar; que traz todas estas informações de forma primorosa (capa-dura, papel couché, com as ilustrações originais feitas pelo Gustave Doré – o mesmo ilustrador da Divina Comédia, com raríssimos erros de digitação e numa tradução maravilhosa). Existe uma versão de volume único feita pela própria Zahar, porém desconheço se é composta dos mesmos cuidados que vi nesta.

Não me estenderei muito, tendo em vista que escrever mais sobre O conde de Monte Cristo é revelar detalhes que gostaria que o leitor tivesse a oportunidade de desbravar por si só. No CabulosoCast supracitado, minha nota foi 4 selos Cabulosos, porque eu coloquei como ponto negativo os tais personagens “desnecessários”, mas como reconheço que me equivoquei preciso rever minha nota, logo…

Avaliação:

Nota: 5 Selos Cabulosos
Nota: 5 Selos Cabulosos

Considerações finais

Com uma trama surpreende (não se deixe levar pelas adaptações cinematográfica – nenhuma, repito, nenhuma delas é fiel ao livro!), personagens cativantes, frases incríveis, diálogos inesquecíveis e tudo isto posto numa edição primorosa fazem deste livro o melhor livro que já li na vida. Gostaria muito de produzir uma resenha impessoal, mas O conde de Monte Cristo é um livro que me marcou muito. É um clássico – e deixando de lado classificações academicistas – merece ser imortalizado, possui uma temática imortal, mas não se deixa dominar por clichês muito pelo contrário desenvolve seus personagens a ponto de mesmo aqueles os quais você passou todo o volume cultivando ódio, sentir pena quando algo de ruim lhes acontece.

Mas antes de concluir o texto, deixarei um adendo. Não sou o tipo de leitor que dita faixa etária para determinadas obras, porém senti que O conde de Monte Cristo é um livro voltado para leitores maduros. Não entenda maduro como adulto, falo de leitores que já leem há um bom tempo; isto porque é um livro denso com mais de mil páginas, com descrições muitas vezes detalhadas sobre os ambientes e costumes dos personagens… posso estar enganado e como disse não estou proibindo ninguém de ler a obra, entretanto leitores mais novos pode estranhar o ritmo lento, as pausas muitas vezes para explorar personagens que aparentemente não possuem ligação com a trama. O conde é uma obra volumosa e que nem sempre permite ao leitor levá-lo de baixo do braço, exigindo uma leitura calma e se pressa no aconchego do seu lar…, estou a tergiversar, eu sei, mas foi só uma impressão.

Vídeo:

Além da resenha:

  • Gravamos um CabulosoCast sobre O Conde de Monte Cristo: o programa tem uma biografia extensa do autor – Alexandre Dumas – além da análise da obra, conta também com nossas impressões sobre algumas das adaptações, dentre elas o polêmico anime Gankutsuou. Clique na imagem abaixo para acessar do episódio, e após clique no PLAY no final do post:

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