[Crônica] Mora DOR de rua

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morador na rua

Por Jaiane Valentim

É engraçado como nos últimos dias do ano as pessoas pedem um “ano novo melhor”. Pessoas que, em sua grande maioria, tem um trabalho para conseguir pagar suas contas ou tem seus pais para sustentar. Essa semana, quando eu estava almoçando em um restaurante, uma criança de aproximadamente cinco anos pediu pra mim “moça, paga um almoço pra mim?”. Respondi “olha, eu não tenho dinheiro para pagar um almoço, mas você pode pegar isso aqui” – e lhe ofereci pouco mais do que a metade de um filé à parmegiana. O menino prontamente pegou o prato deu dois passos, deu meia volta e perguntou novamente “o que é isso, moça?” Respondi “é frango. Mas ó, não pode levar o prato lá pra fora. O homem ali vai brigar. Melhor comer aqui”.

O garçom pegou o filé e colocou em um daqueles isopores, que eles usam para colocarem marmitas. O garoto pegou aquilo e saiu do estabelecimento e da janela do restaurante eu pude o ver dividindo a comida com mais uns, pelo menos, seis meninos.

A sensação de dever cumprido que eu tive pelo resto do dia não tem preço. À noite, quando esperava o ônibus pra vir pra casa, me deparei com essa frase (foto). Parei ali por alguns segundos e como achei pertinente transformarem “morador” em “mora dor”. A mesma palavra, quando separada, consegue se completar, mesmo com significados completamente diferentes.

E aí eu fiquei a pensar não em como seria o meu 2013, mas como essas pessoas (os moradores de rua) encaram isso. Será que eles pensam que o ano seguinte pode mesmo ser melhor do que passou? Ou será que a dor de viver na rua, há muito ou a pouco tempo, já fizeram eles perderem a fé de que dias melhores virão?

Aquilo ficou martelando na cabeça. E eu, sinceramente, acredito que essas pessoas não têm mais perspectiva de vida. Mas, no fundo do coração, eu torço para que elas não percam a fé. Que elas não percam a fé e que encontrem pessoas que se sensibilizem com sua situação. Que ajudem com um pedaço de pão; com uma roupa; com um cobertor. Eles, esses guerreiros que buscam, literalmente, sobreviver a cada dia, dependem, infelizmente, da bondade do ser-humano.

E é aí que eu tenho medo. Vejo na internet, nas redes sociais, pessoas postando suas ceias e me pergunto: será que essa mesma pessoa ajudaria alguém que lhe pedisse comida? Será que essas pessoas que vivem felizes em suas casas, que fazem questão de mostrar ao mundo o que estão comendo, têm a consciência de que alguém lá fora seria feliz por um terço daquela comida?

Talvez eu esteja misturando as coisas. Mas é que essa época do ano é tempo de generosidade. E as pessoas, não generalizando, me parecem tão egoístas. Eu torço para que eu esteja errada.

O que eu quero em 2013 é poder ajudar mais. Fazer algo por alguém que tem menos do que eu. Eu quero fazer o dia de alguém feliz, pelo simples fato de lhe dar algumas moedas ou algo pra comer. Porque o sorriso da pessoa que recebe esses ‘presentes’ é a melhor recompensa que alguém pode ganhar e é a melhor terapia pra alguém que pensa que a vida está uma droga.

A Palavra de Deus diz: “Em tudo vos dei o exemplo de que assim trabalhando, é necessário socorrer os enfermos, recordando as palavras do Senhor Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber.” – (Atos 20:35)