RESENHA DO FÃ – Com Douglas M. Pereira

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Vamos continuar a festa? Alguém derrabou comida naquele tapete que retrata um cavalo, mas a limpeza acontecerá no final da festa. William, peça ao Wilson para trazer a resenha. Sim, aquela sobre “Histórias Extraordinárias”. Aqui está…mas antes vamos saber um pouco sobre a pessoa que a escreveu.

Bio: Nascido em Porto Alegre, em junho de 1982. Migrou em 2001 para Curitiba, onde teve contato com poetas conhecidos do meio literário paranaense. Desde 2005 vive em São Paulo. Ainda criança já escrevia contos, poesias, músicas e histórias em quadrinhos.

Dedicou-se profissionalmente à informática, mantendo a literatura, até então, como uma identidade secreta. Em 2009, conheceu a revisora, editora e crítica de cinema Cristine Tellier que o direcionou ao meio literário de forma contundente.

Mantém o blog Amplexos Fraternos Cafeína Literária, em que publica alguns de seus trabalhos, além de opiniões sobre livros e filmes.

Menção Honrosa no 23º Concurso de Contos Paulo Leminski (2012).

História Extraordinárias
História Extraordinárias

Um dos pontos positivos de ser um ignorante é o prazer em aprender e, outrosim, mudar de opinião. Erroneamente, durante algum tempo, considerei que o gênero conto fosse um formato menos brilhante de texto em relação a um romance ou novela. Conforme fui lapidando meu conhecimento em relação à literatura, pude enfim me livrar desta prega asinina e entender que a qualidade e a intensidade que um texto proporciona independe de seu tamanho. Devo esta lição a muitos autores, sobretudo ao senhor Edgar Allan Poe.

Este senhor trouxe à literatura benefícios além da qualidade impecável de sua prosa: Popularizou o gênero do conto e elevou as histórias de terror (ou extraordinárias, como se dizia) ao patamar dos textos respeitáveis. Antes dele, este tipo de literatura era considerado patético ou simplesmente paspalhice literária. E, como se não bastasse, influenciou outros escritores que, ao seguirem seus passos, tornaram-se também grandes contribuidores do universo da literatura.

H. P. Lovecraft, por exemplo, chegou a escrever um livro para declarar sua admiração a Poe. E, ao que tudo indica, Arthur Conan Doyle, também bebeu desta fonte; quem já leu as aventuras de Sherlock Holmes o reconhecerá ipsis litteris nos contos de Poe sobre a Rua Morgue.

Aliás, recentemente, ao reler o conto William Wilson de Poe, me veio à mente nitidamente a história do Fight Club de Chuck Palahniuk. Se este não foi diretamente influenciado por Poe, prova que no mundo da literatura é muito difícil ser absolutamente original.

Em relação ao estilo de Poe, ele utilizava sua verve poética para benzer sua prosa, amplificando a lugubridade e a densidade de seu conteúdo. Em sua maioria, os textos são escritos em primeira pessoa, em um tom confessional, o que torna mais verossímil os sentimentos expressos – é alguém contando o que sente e não um narrador dizendo o que se pode estar sentindo. Tal técnica faz o leitor mergulhar no texto e se pôr lado a lado com o personagem. Afinal, quem escuta uma confissão se torna um cúmplice.

É-lhe característica também a não extrapolação dos limites da realidade. Diferente de outros autores de terror, ele não costuma lidar com o oculto. Nada de pirlimpimpim, monstros, fantasmas ou magia. Para ele – assim como para mim – o verdadeiro terror se situa no extremo bizarro do mundo real. Dentro da psique sinistra, obsessiva e doentia do ser humano.

O fato de ele não ter escrito textos extensos me parece algo absolutamente propício. A essência do conto é justamente a forte condensação de sensações, iniciando-se próximo ao fim. Um efeito bem semelhante a um susto – forte e repentino. Algo que, provavelmente, teria se perdido numa prosa muito extensa.

Visto que falar de apenas um conto seria muito pouco e falar de todos seria uma grande pretensão, pincei alguns de minha preferência para breves comentários. Tentarei evitar spoilers, não obstante, é provável que um ou outro escape. Assim, não recomendo a leitura da lista a seguir para os odiadores de spoilers que, por ventura, é o meu caso.

O Gato Preto – Uma ótima análise sobre a natureza humana, sobre a verdadeira face de alguém. Aquela que, alguma vezes, preferimos esconder numa profunda masmorra em nossa alma. Mas que, eventualmente, tem a bebida como chave de seu cadeado.

A Máscara da Morte Rubra – Um texto com uma formidável lição. Não importa quem seja, não importa o que possuas, a morte que me encontrará é a mesma que a ti vai abraçar.

O Caso do Valdemar – Provavelmente um dos textos que influenciou – ou que deveria ter influenciado – as atuais obras sobre zumbis.

A Queda da Casa de Usher – Imagino que seja o mais famoso des seus contos e o primero dele com o qual tive contato. Penso que neste ele se superou. O texto é composto por vários formatos de medo.

Difícil dizer se ele adotou o tom lúgubre porque era uma criatura soturna, de uma criação e vida permeada de tragédias e tristezas. Ou se foi se tornando alguém mais sombrio conforme sua mente ruminava os contos de terror. Algo, no entanto, me parece indiscutível: Era um homem excêntrico, sinistro e brilhante. Até a própria morte – de motivos relativamente ocultos – deixou escrita uma história extraordinária.