[Resenha] Danação do Marcus Achiles

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Esse ano certamente será de literatura nacional. Um ano que descobri ótimos autores do nosso país. Entre eles está o Marcus Achiles, autor de Danação.

Devorei as páginas de Danação. A história, de suspense, meu gênero favorito, tem o poder de lhe transportar para um Brasil colonial, onde os detalhes do dia-a-dia dos escravos, donos de fazenda e comerciantes são riquíssimos. Detalhes que sozinhos parecem sem sentido, mas com a história e narrativa do Marcus, torna tudo mais interessante.

O protagonista de Danação é Diogo. O conhecemos como um andarilho, viajando sem rumo pelo sertão acompanhado de seu escravo João e o filho deste, Inácio. Há outro membro dessa tropa, mas ele só é visível para Diogo.

A criança de dentes pretos. Ou, se você preferir, o Diabo.

Ele é o motivo da peregrinação de Diogo. Acontece que em um momento de desespero, vendo sua família indo à falência, ele procura fazer um pacto para receber uma das maiores minas das Geraes. Só que, além da alma, Diogo acaba perdendo algo que considera mais importante: seu filho. Considerando a mina suja com o sangue de seu filho, Tiago, ele decide não usufruí-la e o Diabo o segue para lhe lembrar que embora ele escolheu descartar a sua parte do pacto, ele não descartou a dele.

As partes em que a criança dos dentes pretos está presente são as melhores do livro.

Como as pessoas reagem quando ela está por perto, podendo vê-la ou não, dá aquele ar de suspense que me agrada bastante.

Diogo durante a sua caminhada, recebe um sinal que considera de Tiago, que o leva a Taubaté. A vila no momento está sendo evitada. Durante cinco semanas, corpos foram encontrados carbonizados toda sexta-feira. Diogo acaba tendo que enfrentar o autor dos assassinatos, que não são os bugres como pensam todos na vila, mas alguém tão amaldiçoado como ele.

Fogo. Sexta-feira. Se você conhecer o nosso folclore, sabe de quem estou falando.

O que eu gostei no livro, o que me prendeu e me transformou em uma fã é que os assassinatos de Taubaté não são totalmente o foco da história. Tudo é interessante. Diogo com sua sina, a vida do seu escravo João, os costumes, crendices e é claro, a presença do nosso folclore.

A notícia que esse não será o único livro – veja na entrevista – me deixou ainda mais feliz.

Se você sempre pensou que o nosso folclore daria um ótimo livro de suspense, esse livro é Danação. Mais um exemplo de ótima literatura nacional.

Nota:

05-selos-cabulosos

Ficha Técnica:
capa-danaçãoEditora: Baraúna
Autor: Marcus Achiles
Origem: Brasileira
Ano: 2011
ISBN: 978-85-7923-487-3
Número de páginas: 409
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Sinopse:

Em maio de 1734 Taubaté era uma vila sitiada e aterrorizada. A cada sexta-feira seus moradores repetiam o mesmo ritual perturbador das semanas anteriores, enterrando corpos queimados encontrados nas matas. Uma intolerância comparável apenas ao medo diante de um adversário oculto e invencível logo jogou colonos e militares contra os índios abrigados em aldeias próximas. Para os crentes, no entanto, aquele pedaço de terra e suas três mil e poucas almas eram uma nova Sodoma, condenada por Deus a ser consumida pelas chamas. É nesse pandemônio de fanatismo, fúria e violência que chega a Taubaté o mais maldito dos homens, perseguido pelo maior dos inimigos e guiado por um anjo. Ele é Diogo Durão de Meneses, um senhor de engenho a quem a tão desejada morte era negada há quatro anos. Um forasteiro, destinado a enfrentar um ser que desafiava toda razão e fé – e que, nos séculos seguintes, seria imortalizado no imaginário de um povo.

DANAÇÃO não é apenas um romance que transporta o leitor para o Brasil do século XVIII. Em suas páginas estão mais do que o dia-a-dia no interior de uma colônia inóspita, com seus costumes fielmente retratados. O livro é também uma passagem para outra dimensão, na qual seres imaginários – que séculos atrás povoaram os medos dos homens – criam vida. E onde o Mal deixa os sermões dos padres e se torna tangível e implacável. DANAÇÃO busca dar ao folclore brasileiro contornos inéditos, unindo o mais puro realismo fantástico aos dramas verdadeiros de negros, brancos e índios em uma época de incerteza e provação.