RESENHA: “CIDADE DAS TREVAS – EM BUSCA DO ESPÍRITO DO BEM” DE PEDRO S. EKMAN

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Cidade das trevas, capa
Cidade das trevas, capa

Os campistas não resistiram à curiosidade e entraram na Cidade. Encontram-se, então, em meio a uma batalha que dura há séculos, desde o início dos tempos, quando o mundo era bem diferente do que imaginávamos. Resta agora sobreviver a este fogo cruzado, em uma jornada que se passa justamente no território inimigo. E fazer o possível para saírem da Cidade das Trevas. Ou morrer tentando.

Páginas: 328

Edição:

Editora: NOVO SÉCULO

Preço:R$ 34,90

Formato: 14 X 21

Acabamento: brochura

ISBN: 978-85-7679-460-8

Categoria: Ficção; Literatura brasileira

Faz algum tempo afirmei que NUNCA lera um livro de terror ou pelo menos algum que houvesse me transmitido medo durante a leitura de suas páginas. Mas posso afirmar agora que sim, eu já li um livro de terror e senti medo/ angústia pelo que poderia acontecer com seus personagens e o nome deste livro é: Cidade das trevas de Pedro S. Ekman. Contudo antes de prosseguir em minhas justificativas preciso abrir um parênteses para pedir desculpas. Quando fiz a Dica de Leitura da obra citada comentei que seu subtítulo “A busca ao Espírito do Bem” soava como literatura espírita e o autor (sim, o próprio!) comentou afirmando concordar comigo, no entanto a impressão não passa de um (pre)conceito bobo de quem não havia ainda posto os olhos sobre as páginas. Este subtítulo justifica-se assim que imergimos na trama. Portanto, caso tenham pensado em deixar para depois por causa deste detalhe passe por cima dele e tente sobreviver a Cidade das Trevas.

Como todos já devem supor, o autor do livro é brasileiro, por isso seus personagens e referências a lugares, veículos e familiares também o são. É estranho começar a resenha afirmando isso, mas fiquei um pouco “pé atrás” com a obra. “Ficção de terror passada no Brasil?” Pensei que após ter lido alguns livros nacionais já havia superado isto, contudo antes de lê-lo alimentava uma possível frustração. Pedro Ekman, como tantos outros autores de literatura fantástica nacional, mostra que é possível sim, ambientar qualquer história em nosso país sem cair na galhofa. E a cada página deste livro percebi que além da sensação de perigo eminente, percebi que estava torcendo para que os personagens conseguissem alcançar o objetivo e, por incrível que pareça, ficava triste quando alguém morria (sim, caros leitores, os personagens morrem!).

A história passa de uma premissa muito comum (no melhor estilo de jogos como Silent Hill) e chega ao universo fantástico da magia:

Um grupo de adolescentes de um acampamento vai acampar num bosque no meio da floresta. Apesar do calor nada parecia anormal, até que de repente eles se deparam com uma cidade onde deveria haver um bosque. E eles tomam a terrível decisão de adentrar a sinistra cidade.

É neste momento que o leitor é lançado dentro da Cidade das Trevas. Sem explicar muito, os fatos vão se sucedendo e temos pouco tempo para digerir os acontecimentos. Monstros, fantasmas, criaturas demoníacas e outros seres bizarros vão perseguindo e atacando nossos heróis. Ponto negativo para a obra? JAMAIS. Essa atmosfera alucinante faz com que nos sintamos tão desorientados quanto o grupo, as informações são escassas e todos precisam correr. Virar a página é uma necessidade, mas ao mesmo tempo temos receio de fazê-lo, pois o que nos aguarda? Daí considerar Cidade das Trevas como o 1º livro de terror que realmente conseguiu me inundar num clima tenso e desesperador. Se você já assistiu a um filme de terror/suspense e em determinada cena quando o personagem aproxima-se de um lugar escuro se pegou pensando: “Não vá! Fique ai, pois é perigoso!”. Então este livro é para você. Não só pensei assim várias vezes, como a solidão e a falta de esperança que os personagens sentem, fazem com que a sensação seja a mesma.

Consigo, também, perceber que o livro é um caldeirão de referências a culturais nerd/pop. (Este é um trecho que vou me arriscar a buscar as referências do autor, sendo, óbvia, a gigantesca possibilidade de errar, mas não posso deixar de fazê-lo quando tudo me parece tão explícito). O já citado Silent Hill foi dado ao clima da cidade, como no jogo, a Cidade das Trevas é um lugar aparentemente deserto onde tudo parece velho e podre, mas com perigos a espreita. A cidade em si acaba por tornar-se um personagem, temos em vários momentos trechos no qual “a cidade os observa”; “a cidade geme” ou, quando o vento passa pelas casas putrefatas, “a cidade chora”. O perigo constante e desconhecido acaba sendo a marca deste lugar assombroso. Contudo se você não é fã dos jogos da franquia Silent Hill, saiba que há referência aos mangás/animes também. As cenas de luta ou descrição do uso de itens mágicos lembram muito a dinâmica dos desenhos japoneses.

A alusão a Divina Comédia de Dante Aligieri é muito visível. Desde momentos como, quando os adolescentes encontraram os mesmo dizeres que estariam supostamente escritos na entrado do inferno: “Abandonai toda a esperança vós que entrais”; até quando os jovens defrontam-se com Caronte o barqueiro do inferno. Seria a Cidade das Trevas uma representação do inferno de Dante?

Fora as citações presentes em diálogos a filmes, músicas, bandas atuais. O que é um tremendo respeito não só as personalidades dos personagens como também a época em que a história se passa (no caso, nos dias atuais). E por falar em personalidade, um dos pontos fortes da obra é a fidelidade aos personagens e suas limitações. Trata-se de adolescentes não de “super-heróis”, logo não veremos nenhum ato sobre-humano (para o qual não haja uma boa explicação, que fique bem claro!) no livro. E Ekman sempre nos deixa a par do estado emocional deles após cada evento. Essa claustrofobia psicológica transforma cada um deles num show a parte, sendo fácil identificar-se com qualquer um. Ao longo do livro, vemos vários flashbacks, e é através disto que vamos mergulhando cada vez mais fundo nas tramas e subtramas nas quais Cidade das Trevas se sustenta.

O texto é limpo. De fácil leitura e com descrições verossímeis. Não é difícil se localizar, pois sabemos onde estamos e o que acontece ao redor. Como disse, os segredos são revelados a conta-gota, mas não deixa a história enfadonha dando a impressão que o escritor está “enrolando” para consumir páginas. Contudo fica uma pergunta para onde Ekman está nos conduzindo? O livro não é uma obra fechada, segundo o próprio autor, trata-se de uma trilogia e há muito o que explicar e ao chegar em suas páginas finais talvez vocês possam sentir a mesma sensação que eu: “E agora?”.

NOTA:

FODA +

Não dou 5, pois o livro possui uns poemas em vários capítulos que tornaram a leitura lenta. Porém faço questão de ressaltar que esta é uma opinião pessoal. Não gosto de poesia e em muitos momentos me perdi e foi necessário reler os fragmentos para retomar o ritmo. Vejo que Pedro S. Ekman, gosta de poesia e usa o livro para expor um pouco de sua veia poética. Achei interessante, pois traz uma característica particular para a obra. Estou realmente ansioso para ler os demais livros e saber como tudo terminará.

Trechos que Lucien gostou:

 Os campistas se aproximaram. Havia uma tábua velha e gasta de madeira ali. Parecia estar prestes a cair. A tinta era vermelha e borrada.

– “Ó vós que aqui entrais: perdei toda a esperança!” – leu Dambros.

Pág. 31

– Qual é, Jhonny, volta aqui, cara – disse Vinícius indo até ele. Mas João Paulo aumentou o passo, dificultando as coisas para as curtas pernas do amigo.

Quando viraram a esquina que seguira reto para o bosque, pararam abruptamente. Nunca ficaram tão apavorados na vida. Jhonny quase caiu para trás com o choque. A sensação era de como se tivesse levado um soco. Não havia mais bosque nenhum ali. O bosque que era para estar cinco casas adiante havia desaparecido. E no lugar só havia mais um corredor de casas e muito mais adiante fazia uma curva para a direita.

Pág. 40